Após noite tensa, catadores prometem novos protestos próximo ao lixão
O clima é tenso entre os catadores que atuam no lixão, em Campo Grande. Enquanto os protestos para que o local – fechado por ordem judicial no dia 28 de fevereiro – seja reaberto ganham força, os trabalhadores falam em bloquear novamente a BR-262, no anel rodoviário, até que haja uma solução.
Ontem (22) a noite, vândalos atearam fogo em uma área de mata ao lado da rodovia, próximo a UTR (Usina de Tratamento de Resíduos), segundo o chefe da Guarda Municipal da região do Anhanduizinho, Tomaz de Araújo. “Não são mais os catadores, são vândalos. Eram uns cinco deles, colocaram fogo no mato em volta da UTR e quando chegamos eles sumiram”.
Além da Guarda, equipes do Corpo de Bombeiros, da Polícia Militar e da PRF (Polícia Rodoviária Federal) atenderam a ocorrência. “O fogo foi apagado, ninguém se feriu, pois não tinham ninguém lá mesmo. Mantivemos a viatura e vai ficar no local, como reforço durante todo o dia”, afirmou Araújo.
Um dos líderes dos catadores, que pediu para não ter o nome divulgado, confirmou que a ação não foi encabeçada pelos organizadores dos protestos. “Está todo mundo com os nervos a flor da pele, o Poder Público não resolve nada, então nem representante tem mais. Agora é cada um por si e Deus por todos. A ideia agora é atrapalhar a Solurb, que não vai conseguir trabalhar. Estou com pés e mãos atados”, afirmou.
Confronto – Ontem (22) a informação era de que a rodovia BR-262, nas proximidades do aterro sanitário, entre as saídas para São Paulo e Sidrolândia, tinha sido fechada. Situação que não foi confirmada esta manhã pela Guarda Municipal.
Também havia relatos de confronto entre policiais e manifestantes, que acabaram saindo da rodovia. "Usaram gás lacrimogênio e bala de borracha. Revidamos com pedras. Muita gente veio por causa desta situação, a favela inteira. Agora está cheio de viaturas aqui", relatou um dos catadores que esteve no local e não quis se identificar.
Houve também relatos de que alguns manifestantes tentaram incendiar o maquinário da UTR, mas o fato foi negado pelo catador ouvido pela reportagem nesta noite.
Horas antes, aconteceu uma reunião no MPT (Ministério Público do Trabalho), envolvendo os catadores de recicláveis, prefeitura e Solurb, concessionária do setor e gestora da UTR. "Não resolveram nada para gente, só ficou acordado que a Solurb ia ampliar a coleta e ganhar mais R$ 100 mil. Usaram a gente como massa de manobra", reclamou o catador.
Uma série de protestos, com o fechamento da rodovia, tem ocorrido desde o fim de fevereiro quando, em atendimento a ordem judicial, a prefeitura fechou a chamada área de transição, parte do lixão onde se concentrava grande número de catadores.
Histórico – Uma liminar, concedida em ação civil proposta pela Defensoria Pública em dezembro de 2012, permitia o acesso ao aterro sanitário Dom Antônio Barbosa. A medida foi deferida pelo tempo que durasse o atraso na construção da UTR (Usina de Triagem de Resíduos).
Contudo, como a obra foi 100% concluída, a área de transição foi fechada. A decisão também foi do juiz da 1ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, Marcelo Ivo de Oliveira. O magistrado autorizou ação policial nos dias 28 e 29 de fevereiro para impedir manifestações.
A UTR foi inaugurada em agosto de 2015. Mas, segundo o representante dos catadores, são somente 88 funcionários, que recebem o lixo da coleta seletiva. Ele calcula que mais de 700 pessoas sobrevivam com a renda obtida na área de transição, sendo 429 “empregos” diretos e 300 pessoas que auxiliam da separação à venda do material reciclável. Em média, a remuneração é de R$ 100 por dia.
Fechado no fim de 2012, após 28 anos em operação, o lixão foi reaberto por força de decisão judicial em janeiro de 2013. O pedido partiu da Defensoria Pública, que alegou que as pessoas ficaram sem fonte de renda. Com a reabertura, foi definida uma área de transição, com descarte dos resíduos ante de ser encaminhado ao aterro.