Avessa à política, boa parte cadastra digital só para não “perder CPF”
Não são poucas as pessoas que, desacreditadas nos políticos, definem o procedimento como "perda de tempo".
Tudo bem que é uma obrigação, mas o que leva um cidadão a esperar horas na fila para fazer a biometria não necessariamente retrata sua preocupação com o processo eleitoral brasileiro. Enquanto aguarda a vez, munido de água, livros, salgadinhos, celulares e, principalmente, paciência, o eleitor pensa mais em não “ter o CPF cancelado” do que estar apto a participar das eleições em 2018.
Circula na internet e em grupos de conversas uma mensagem atribuindo à Justiça Eleitoral a aplicação de multa de R$ 150 ao eleitor que não fizer o cadastramento biométrico, bem como o cancelamento do CPF (Cadastro de Pessoa Física) e a CNH (Carteira Nacional de Habilitação). O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) esclareceu, entretanto, que esta mensagem é falsa. Quem não se cadastrar, terá o título de eleitor cancelado até que regularize a situação.
Mais de 3,5 mil pessoas se amontoavam em fila indiana durante espera por atendimento na tarde desta quarta-feira (14), no posto do TRE (Tribunal Regional Eleitoral), no Memorial da Cultura.
Nas mãos, 252 páginas de auto-ajuda sobre como tirar a vida ideal do papel e fazer acontecer; no semblante, impaciência ao folhear o “Poder da Ação”, de Paulo Vieira. Foi assim que a cuidadora de crianças Rosemeire Cardoso Moreira, 34, aguardou mais de 2 horas para fazer a biometria.
“É perda de tempo, senão vou ter muito mais dor de cabeça. Não tem outro jeito”, resumiu, indiferente ao procedimento obrigatório que "tira do papel" o título e ao que isso acarreta no processo eleitoral brasileiro.
O motorista Wanderley Pereira Peralta, 34, também fez o procedimento para não ter problema com documento.
“Não vejo vantagem nesse processo, pois não acredito mais na nossa política. Faz muito tempo que eu só voto em branco. Só vim para ficar em dia com a lei... vai que eu passo em concurso público”, explica.
Mesmo entendimento tem o caminhoneiro Alexandre Pereira Ávila, que, aos 50 anos, pensa em anular seu voto pela primeira vez. “Estou descontente. Não fiz a biometria para participar da eleição, mas porque fui obrigado, senão posso perder o CPF e tenho um nome a zelar”, diz, sem perder a esperança de que haja mais honestidade a partir deste pleito.
Com o novo título em mãos, Sandra Grance, dona de casa de 38 anos, ficou uma hora e meia na fila nesta tarde.
“Vim hoje porque achei que estaria mais fresco. Mas, não bastasse a perda de tempo, ainda enfrentamos calor”, avalia. “Vim por ser obrigatório também, mas confesso que dá uma certa tristeza esperar tanto para fazer minha parte e não ver retorno dos políticos, só corrupção”, destaca.
O outro lado - Geovane César Rodrigues, de 33 anos, trabalha na área da construção civil. “É importante fazer a biometria. Ninguém gosta de fila, mas é necessário, principalmente se o povo quer melhorias em nosso País. Somos responsáveis por nossas escolhas”, ressalta.
Em meio a tanta revolta e estresses na enorme na fila desta tarde, a auxiliar financeira Bruna Corrêa, 27, dá um “tapa com luva de pelica” nos eleitores.
Ela acredita que , com a biometria, o Brasil avança no processo de informatização e que isso pode representar mais segurança nas eleições e favorecer o combate a crimes como a corrupção.
“Não adianta reclamar de demora na fila, de desonestidade dos políticos, se não formos conscientes. A verdadeira mudança parte de nós mesmos”, defende.
Reta final - O prazo para fazer a biometria em Campo Grande termina no próximo domingo (18). Até o momento, cerca de 535 mil eleitores fizeram o cadastro – 84% dos 630 mil cidadãos.
Quem não estiver quite com a Justiça Eleitoral fica impedido de emitir documentos como passaporte, por exemplo, de tomar posse em concurso público e renovar matrícula em instituições públicas de ensino.