"Braço" de Marcola em MS é denunciado por integrar quadrilha do jogo do bicho
Henrique Abraão foi preso em Campo Grande, e seria responsável pela expansão do PCC nos jogos de azar
Henrique Abraão Gonçalves da Silva, 27 anos, que seria o “braço” de Marcos William Herbas Camacho, o “Marcola” em Mato Grosso do Sul, foi denunciado por integrar organização criminosa. Ele pertenceria ao núcleo operacional do PCC (Primeiro Comando da Capital) da região Nordeste, tendo como missão a expansão da exploração dos jogos de apostas eletrônicos comandados pela facção.
Segundo investigação da Ficco/CE (Força Integrada de Combate ao Crime Organizado/Ceará), o PCC explora os jogos de azar no Ceará há cinco anos, “notadamente o jogo do bicho, além do tráfico de drogas e armas no Estado”.
Henrique está preso em Campo Grande desde o dia 24 de abril, por conta de flagrante de posse ilegal de munições de arma de fogo ocorrido durante o cumprimento dos mandados da Operação Primma Migratio, da Ficco/CE (Força Integrada de Combate ao Crime Organizado/Ceará).
Na ocasião, os policiais federais encontraram no apartamento dele, no Bairro Monte Castelo, duas cases, acessórios destinados ao acondicionamento de armas de fogo. Em uma delas, havia dois carregadores de pistola 9 mm, 19 munições calibre .380 e 10 de calibre 9 mm.
O processo deste flagrante tramita na 2ª Vara Criminal, conforme denúncia ofertada desde maio. A defesa de Henrique se reservou ao direito de rebater as acusações somente nas alegações finais da ação. Atualmente, o réu está no Presídio de Segurança Máxima de Campo Grande Jair Ferreira de Carvalho.
Já a ação derivada da Operação Primma Migratio tramita em Fortaleza, na Vara de Delitos de Organizações Criminosas, tendo sido recebida no dia 8 de julho. No dia 25 deste mês, por meio de carta precatória, Henrique foi citado da denúncia, para que responda às acusações do MPCE (Ministério Público do Ceará) em prazo de 10 dias. Caso não o faça, um defensor público será constituído para sua defesa.
Ligações – Além de Henrique, foram denunciadas mais 21 pessoas por integrar organização criminosa, sendo que para três deles, Francisca Alves da Silva, Geoma Pereira de Almeida e Menesclau de Araújo Souza Junior, ainda recai o agravante de exercer comando, individual ou coletivo, dentro do grupo.
O relatório do Ficco/CE, de 3 de maio deste ano, que embasou a denúncia oferecida pelo MPCE, descreve as conexões entre os acusados e as atribuições dentro da organização com foco na exploração do jogo do bicho e nas apostas online.
O Ficco/CE desencadeou a investigação há dois anos, rastreando a atuação de Alejandro Juvenal Herbas Camacho Junior, o “Marcolinha”, como líder da facção no Nordeste, na condição de subordinado direto do irmão, Marco Williams Herbas Camacho, o “Marcola”. Ele contaria com apoio da companheira, Francisca Alves e Menesclau de Araújo.
O grupo também passou investigar a ligação do PCC em jogos de azar no Ceará: depois de descobrir que o CV (Comando Vermelho), facção rival, emitiu nota determinando que, em suas áreas territoriais, fosse proibido ter algum estabelecimento da Loteria Forte, Fourbets e 888 Bets, casas de apostas esportivas. “A suspeita, evidentemente, passou a ser de que referidas empresas pertencessem ao PCC.
A investigação da Polícia Federal do Ceará, por meio de interceptações telefônicas, rastreio de investigados e documentos estabeleceu a ligação entre entre eles e Loteria Forte, Fourbets e 888 Bets com atuação no Ceará, seja por laços de amizade ou de negócios.
No caso de Henrique Abraão, ele é filho de Cintia Chaves Gonçalves, também acusada na Operação Primma Migratio e vinculada a Geoma Pereira de Almeida, ele, responsável e sócio majoritário da Loteria Fort. NO relatório, também consta a citação que Geoma é apontado como “maior responsável pelos caça-níqueis de São Paulo”.
Em 22 de agosto de 2022, conforme a investigação, Henrique foi abordado pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) em Nova Andradina em Toyota Corolla, em que viajava em companhia de Leonardo Alexsander Ribeiro Herbas Camacho, sobrinho de Marcola e enteado de Francisca Alves.
Henrique declarou que era “proprietário de site de apostas em Campo Grande” e Leonardo afirmou que trabalhava para ele na atividade. “Mais uma vez, registra-se o vínculo de familiar de integrante da cúpula da organização criminosa PCC com investigado ligado ao ramo de apostas esportivas e diretamente associado à Fort Loterias”, esta, cujo sócio majoritário é Geoma Pereira.
Conforme o relatório, outro investigado, identificado como Paulo Monteiro, confirmou o envolvimento de Henrique com o jogo do bicho e reforçou a ligação da Fourbet com a Fort Loterias.
“(...) Francisca, Menesclau e Geoma integram o núcleo decisor (...) Cintia Chaves Gonçalves, Henrique Abraão Gonçalves da Silva, Leonardo Alexsander Ribeiro Herbas Camacho (...) compõem o núcleo operacional, estando responsáveis, certamente com o auxílio de potenciais partícipes ainda desconhecidos, por conduzir o dia a dia da atividade ilícita em sintonia e confiança com a célula decisória”.
Fuso horário – O relatório do Ficco descreve o dia da prisão de Henrique, em que foi necessário aguardar o horário das 6h para cumprimento do mandado, 1h depois da operação já deflagrada nos outros estados, com diferença de fuso, “(...) demandando da equipe policial o aguardo pelo despertar da pessoa a ser presa (...)”.
Às 5h40, Henrique recebeu ligação de São Paulo, onde o mandado havia sido cumprido contra a mãe dele. Naquele momento, ela havia saído do apartamento, mas foi encontrada na loja do condomínio, sendo presa. Às 6h, a PF bateu à porte dele, que demorou a abrir, mas cedeu ao ser informado que poderia ser arrombada.
Corumbá - Em entrevista ao Campo Grande News, em maio, o delegado responsável pela investigação, Igor Conti disse que o PCC está usando o jogo online como novo ramo diversificar atuação da organização, tendo como principal objetivo a lavagem de dinheiro proveniente do tráfico de drogas e armas.
Henrique era o integrante do PCC ligado às operações de jogos de azar. Aqui, segundo o delegado, o rapaz instalou e administrava a FourBet em MS, casa online de apostas esportivas, que pertence à facção. A vinda para MS é justificada pela ampliação dos negócios do PCC, expandido as estratégias usadas para lavagem de capitais.
Sobre os crimes de lavagem de dinheiro e tráfico, a Polícia Federal informou que é necessário melhor quantificar e individualizar as condutas “sob amparo do afastamento de sigilos de dados fiscais e bancários”.
Uma das citações interceptadas, aliás, trata, segundo o Ficco, da “menção clara ao tráfico de drogas gerenciado pela facção, o que reforça que essa atividade ilícita, tais quais registros anteriores coletados, também seria explorada pelo grupo (...)”.
Nele, homem identificado como André/Amin deixa claro que mantém esquema em Corumbá, referindo-se à cocaína como “maior” e maconha como “menor”, e que Marcolinha teria lhe dado mais essa incumbência de encaminhar drogas para outros dois comparsas.
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