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Capital

"Cenas de crime contaminadas atrapalham trabalho da polícia", diz delegada

Karen Viana reforça que é comum as pessoas se movimentarem em locais de crimes podendo comprometer provas

Por Danielly Escher | 20/11/2023 13:45
Delegada Karen Viana durante curso sobre preservação de provas (Foto: Divulgação)
Delegada Karen Viana durante curso sobre preservação de provas (Foto: Divulgação)

Após um crime, é comum as pessoas aguardarem socorro acionando bombeiros e a Polícia Militar. Junto, podem surgir “curiosos”. Movimentação que pode alterar a cena prejudicando a coleta de provas. “Quando falamos em dificuldade de local de crime, a principal encontrada, principalmente pelo desconhecimento da sociedade, é dessa interação com o ambiente”, conta a delegada Karen Viana, que recentemente deu um curso de atualização e padronização na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher sobre busca, preservação, valorização da prova e local de crime.

O clima, incluindo temperaturas baixas ou altas, chuva ou sol, também pode interferir. Toda e qualquer forma de modificação de local é registrada no laudo pericial. Assim, segundo a delegada, o perito consegue visualizar uma dinâmica, vislumbrar se o que foi relatado é compatível com a cena de crime, por isso é tão necessário que a população observe e respeite quando há um local de crime. “A orientação principal é não interagir com a cena, não adentrar, não mexer. Viu que aconteceu um crime, acione a autoridade competente”, alerta Karen Viana.

De acordo com a polícia, existem exceções para situações em que a vítima ainda possa estar viva. Nesse caso, é autorizado acesso ao local para pedir ou prestar socorro. Outra exceção vale para quando há algum objeto que possa causar mais risco ficando exposto. Nessa situação, a pessoa pode guardar, tirando o risco temporário e entregar à autoridade.

Se houver uma arma de fogo, por exemplo, deixada pelo autor ou pela vítima e havendo outras pessoas no local, para evitar que a arma se perca, que haja mais risco ainda, é possível que este local seja mexido neste sentido apenas, mas isso tudo é informado às autoridades policiais para constar no laudo”, detalha a delegada.

Karen Viana reforça que todos os elementos colhidos no local do crime são de extrema importância para não prejudicar o inquérito policial que vira um processo judicial, segue para o Ministério Público fazer a denúncia e eventualmente levar ao Tribunal do Júri.

Ainda de acordo com a delegada, é importante que nada seja alterado porque muitos destes elementos não poderão ser reproduzidos futuramente como exemplo de perícia de local.

O ideal é preservar a forma como foi encontrada a cena com as fotos tanto da perícia como a recognição visuográfica envolvendo toda essa primeira impressão da autoridade policial que esteve no local de crime, que conversou com as testemunhas oculares ou não que passaram ali”, explica a delegada sobre porque as primeiras informações são essenciais para uma investigação e conclusão do inquérito.

Entre os exemplos mais emblemáticos sobre como a falta de preservação de provas pode comprometer uma investigação está o “Caso Motel”, ocorrido 18 anos atrás em Campo Grande. Os jovens Murilo Boarin Alcalde e Eliane Ortiz, ambos de 21 anos, foram assassinados por asfixia e até agora o crime está impune.

Eliane trabalhava como garota de programa na Mariza's American Bar. Murilo era acadêmico de Administração e, na noite de 20 de junho de 2005, foi até a casa noturna, onde acabou se encontrando com a jovem. De lá, Murilo saiu acompanhado de Eliane para outro local. Os dois jovens foram encontrados no dia seguinte. Estavam mortos, dentro do quarto 42 de um motel. O quarto não foi preservado, o que se mostrou um dos vários problemas que a investigação se deparou no decorrer dos meses.

A investigação relatou que o casal foi emboscado depois de ter saído da boate. Eliane foi asfixiada com uma meia masculina, sendo a primeira a morrer. Murilo foi imobilizado e também sufocado. Os dois foram colocados no carro do rapaz e levados ao motel, onde a cena do crime foi montada.

O MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) apontou, ainda, o que considerou falhas na investigação: a meia masculina usada para asfixiar Eliane desapareceu, pertences das vítimas foram parar no lixo, não houve coleta suficiente de urina da jovem, além de não ter sido colhido material semelhante a esperma encontrado nela. Também foi citada a presença de policiais que não faziam parte da investigação durante a necropsia.

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