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Capital

Com "caixão" na Afonso Pena, família faz 2º protesto após morte da mãe em UPA

Família luta por justiça há 1 ano e 2 meses e acusam médico de negligência

Cristiano Arruda | 27/08/2021 16:35
Filho confeccionou caixão simbolizando a morte da mãe. (Foto: Kísie Ainoã)
Filho confeccionou caixão simbolizando a morte da mãe. (Foto: Kísie Ainoã)

"Não foi um cachorro que morreu, foi uma pessoa. Foi a minha mãe", repete Evandro de Souza Oliveira, de 48 anos, enfermeiro aposentado. Pela segunda vez, parentes organizaram um protesto, para cobrar justiça pela morte da mãe que, na avaliação deles, foi vítima de negligência médica na UPA Leblon (Unidade de Pronto Atendimento), em 09 de junho de 2020.

Na tarde de hoje (27), a família saiu com um caixão de isopor pelas avenidas da Capital, foi o segundo protesto desde o falecimento no ano passado. A carreata começou em frente ao Paço Municipal, passou pela Avenida Afonso Pena e amanhã (28), deve percorrer a Avenida Eduardo Elias Zahran, sentido saída para São Paulo.

Maria do Carmo de Souza Oliveira morreu aos 71 anos, após um infarto. "Ela saiu andando, de casa até a ambulância do Corpo de Bombeiros, após passar mal. Na UPA, ela nem passou por triagem, foi direto para ala vermelha. Com muito custo, horas depois, consegui ver minha mãe que implorava por socorro, implorava que eu a tirasse daquele lugar", diz Evandro.

Conforme o filho, o médico constatou infarto da paciente quando ela deu entrada na UPA e logo em seguida, pediu transferência à Central de Regulação. Mas segundo a família, o médico não repassou os laudos exigidos para a remoção.

O filho diz que ele negou enviar os exames pelo seu celular, por ser de uso pessoal. Questionado sobre o celular da UPA, o médico teria informado que estava com defeito. “[O médico] só foi responder a Central de Regulação uma hora e meia depois do óbito".

Carreata de 2 veículos começou na Afonso Pena. (Foto: Kísie Ainoã)
Carreata de 2 veículos começou na Afonso Pena. (Foto: Kísie Ainoã)

Sem a transferência, horas depois Maria já estava morta. Na época da denúncia, o advogado do médico alegou que o cliente "deixa o celular pessoal dentro do carro, justamente, para que não digam que ele estava usando o celular enquanto trabalha".

Para os filhos, ele dificultou a transferência para uma unidade hospitalar, onde a mãe teria ao menos uma chance de sobreviver. Conforme a família, Maria entrou às 7h30 e até ás 15h permaneceu "agonizando em cima de uma maca", sem o devido socorro, com fortes dores no tórax.

Um dos detalhes que, na avaliação dos parentes demonstra a negligência, é que nem os chinelos da paciente "haviam sido tirados do pé depois de horas deitada na maca".

"Meu sonho é que ele, no mínimo, seja penalizado pelo CRM (Conselho Regional de Medicina), preso ele não vai ser", contou desanimado.

Esse é o segundo protesto organizado pela família, o primeiro foi para chamar atenção dos envolvidos em frente à UPA. Na manifestação de hoje, o filho afirma que quer apenas uma posição da Justiça e por isso foi para a rua.

Indenização - No ano passado, dois filhos de Maria foram condenados a pagar indenização de R$ 10 mil ao médico acusado de negligência. Eles foram penalizados porque, inconformados, expuseram a denúncia no Facebook, com o nome e o registro profissional do médico responsável pelo atendimento.

Na decisão para que a família indenizasse o médico, o juiz Fábio Ferreira de Souza alegou que "a utilização de expressões como 'assassino' e 'doutor da morte' (...) é suficiente para afrontar a honra e integridade moral de quem ocupa um cargo público".

Os médicos que estavam na regulação de vagas e o plantonista estão sendo processados.

O Campo Grande News entrou em contato com a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) para saber como está a investigação do caso, mas até o fechamento da reportagem, não obteve resposta.


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