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Capital

Com calor extremo e sem ar-condicionado, ônibus viram sauna em Campo Grande

Suor e aglomeração transformam a vida de quem precisa do transporte público em um “inferno"

Por Natália Olliver e Geniffer Valeriano | 22/09/2023 12:16
Passageiros sentem que estão em sauna dentro de ônibus da Capital (Foto: Marcos Maluf)
Passageiros sentem que estão em sauna dentro de ônibus da Capital (Foto: Marcos Maluf)

Se depender do transporte público em Campo Grande já é complicado em temperaturas amenas, no calor extremo a tarefa se torna um verdadeiro teste de resistência e uma “roleta-russa” da sorte, em que o prêmio é não passar mal. Com apenas 14 veículos com com ar-condicionado e 17 climatizados, passageiros afirmam que ônibus viraram sauna na Capital.

Antônio Macedo, de 60 anos, desce do ônibus, na Praça Ary Coelho, reclamando do calor dentro do veículo. O relógio marca apenas 9h05. Para ele, que é cadeirante, a temperatura fica ainda mais insuportável já que as janelas ficam mais em cima, portanto, não há muita circulação de ar para quem está sentado. A única abertura que pode beneficiar Antônio é a escotilha no teto.

Antônio Macedo reclama da dificuldade em andar de ônibus no calor (Foto: Marcos Maluf)
Antônio Macedo reclama da dificuldade em andar de ônibus no calor (Foto: Marcos Maluf)

“Os ônibus não ligam o ar mesmo que tenham. Acho que pra economizar combustível. Está uma sauna, principalmente nos horários de 12h, que está mais quente. Nesse calor de quase 36ºC, eles deveriam ligar, não dá pra ficar assim”.

Ana Beatriz, de 31 anos, é auxiliar de limpeza geral e costuma pegar mais de um ônibus por dia para se deslocar de casa para o trabalho. O trajeto dura em média 2h. O sol dentro do veículo piora a sensação térmica. Para tentar não se queimar, passageiros se escondem no lado oposto aos raios solares.

“Já vi pessoas se abanando e tentando outras formas de dar alívio por conta do calor. Eu mesmo já passei mal por isso. Tive que pedir pra alguém que estava sentado ceder o lugar pra conseguir me recuperar.”

O jovem João Vinícius Mendes, de 18 anos, revelou à reportagem que precisa pegar cinco ônibus por dia para ir até o trabalho e a escola e que no caminho vê muitas pessoas se abanando e reclamando do calor dentro dos veículos.

 João Vinícius Mendes afirma que já viu muita gente se abanar nos ônibus (Foto: Marcos Maluf)
 João Vinícius Mendes afirma que já viu muita gente se abanar nos ônibus (Foto: Marcos Maluf)

“Eu sinto que está muito quente. Já consegui pegar alguns ônibus com ar-condicionado, mas não resolve o problema porque continua quente. Acho que as frotas deveriam aumentar, principalmente do 070, mesmo tendo bastante ônibus na linha em horários de pico, estão sempre cheios.”

Para o estudante, uma das consequências é o fedor devido à aglomeração e suor. “Por conta do calor as pessoas acabam suando muito e o povo fede, principalmente quando está mais lotado”.

Mudando a rotina - Para fugir da "sauna”, a aposentada Isabel Brito, de 76 anos, optou por mudar o horário em que resolve os compromissos no centro. Ela afirma que prefere ir de manhã devido ao horário do almoço ter mais fluxo de pessoas. Diante do cenário precário, Isabel comemora pequenos alívios.

Isabel Brito vai ao centro pela manhã devido ao calor da tarde (Foto: Marcos Maluf)
Isabel Brito vai ao centro pela manhã devido ao calor da tarde (Foto: Marcos Maluf)

“Esses dias levei a sorte de encontrar um ônibus que tinha alguma ventilação. Estava esperando há muito tempo e estava muito quente, mas tive sorte. Não vejo com frequência esses ônibus. Não está fácil esse calorzão precisando usar ônibus.”

O lado que ganha - Clarice Freire, de 72 anos, é ambulante há 5 na Praça Ary Coelho, Avenida Afonso Pena. No lado que ganha com o aumento do calor, a vendedora explica que o consumo de água pelos clientes dobrou. Ela não soube quantificar quantas garrafas passou a vender, mas estimou que se antes eram 20 agora são 40. Além da procura pela água, outros líquidos também estão na lista de compras dos que passam pelo local, como refrigerantes e sucos.

Clarice Freire, vendedora ambulante na Praça Ary Coelho (Foto: Marcos Maluf)
Clarice Freire, vendedora ambulante na Praça Ary Coelho (Foto: Marcos Maluf)

Temperatura - Mato Grosso do Sul está sob alerta para hipertermia (aumento da temperatura corporal, para mais de 40ºC) e morte, devido a uma onda de calor extremo que atingiu o Brasil nesta semana. O Estado é um dos mais afetados no país. A previsão é que o tempo continue muito quente até a metade da próxima semana.

Nesta sexta-feira (22), a temperatura na Capital registra 24ºC nesta manhã. De acordo com o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), a máxima deve chegar aos 36ºC. O fim de semana deve ser ainda mais quente, com máxima de 38ºC.

Passageira aguardando para embarcar no transporte público da Capital (Foto: Marcos Maluf)
Passageira aguardando para embarcar no transporte público da Capital (Foto: Marcos Maluf)

Estudo - De acordo com a pesquisa desenvolvida pela organização sem fins lucrativos CarbonPlan e o jornal norte-americano The Washington Post, Campo Grande está na lista de capitais que mais "vão ferver" até 2050 no país.

Serão 39 dias de calor extremo, ou seja, acima da média diária de 32°C ou mais, definida pelo estudo como de risco à saúde humana. Segundo cientistas, mesmo adultos saudáveis que praticam atividades ao ar livre por mais de 15 minutos por hora podem sofrer estresse térmico.

A reportagem entrou em contato com o Consórcio Guaicurus, para saber se existe alguma medida de emergência para minimizar os efeitos do calor dentro dos veículos. A empresa informou apenas que, na medida do possível, adquire veículos climatizados.

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