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Capital

Com salários retidos, médicos da Santa Casa avaliam greve e temem "evasão"

Aline dos Santos | 15/10/2014 14:09
Santa Casa reteve parte da remuneração dos médicos. (Foto: Cleber Gellio/Arquivo)
Santa Casa reteve parte da remuneração dos médicos. (Foto: Cleber Gellio/Arquivo)

A crise na Santa Casa de Campo Grande, maior hospital do Estado, pode se agravar na próxima semana. No dia 20, os médicos vão realizar uma assembleia e votam o indicativo de paralisação. No entanto, a expectativa é que surja uma solução até lá para evitar a greve, que é proibida no setor de emergência, e evite uma “fuga de cérebros”.

O cenário enfrentado pelos profissionais do hospital foi explicado nesta quarta-feira, em coletiva de imprensa, pelo diretor clínico José Mauro Filho, que ocupa o cargo desde o dia 6 de outubro. “Há três anos o corpo clínico não recebe aumento, nem mesmo o índice da inflação, mas somos solidários com a população”, afirma.

De acordo com ele, a remuneração dos médicos sofreu dois cortes nos últimos meses. Depositado em setembro, o pagamento pelo mês de agosto teve 50% retido pela direção da Santa Casa. A medida atingiu 200 médicos, que participam de 16 empresas que atuam no hospital como prestadoras de serviço. Já a remuneração de setembro, paga no mês de outubro, teve 30% retida para os funcionários que recebem mais de R$ 5 mil. O novo facão atingiu praticamente todo o corpo clínico, composto por 500 médicos.

Segundo José Mauro, a direção anunciou que a retenção de vencimentos devido à crise financeira vai durar até fevereiro, mês em que deve ser assinada uma nova contratualização com a prefeitura de Campo Grande, responsável pela gestão dos recursos do SUS (Sistema Único de Saúde). A expectativa é que o valor de R$ 15 milhões seja ampliado em R$ 4 milhões.

O diretor clínico descarta o fechamento do pronto-socorro, situação que em 2005 levou a intervenção no hospital. A assembleia do dia 20 marcada para às 19h, no Sindicato dos Médicos, será para tomada de decisão sobre paralisação, eventual rompimento de contratos de empresas prestadoras de serviço e decidir se a categoria aciona a justiça para receber o total retido. José Mauro não soube informar o valor da remuneração que não foi pagar.

“Vamos tomar uma decisão coletiva, precisamos de uma solução, seja da Santa Casa, do gestor municipal, do gestor estadual. Para não chegar ao presidente e dizer não tenho mais esse profissional. Não é o tipo de profissional que vou encontrar nos classificados dos jornais”, salienta o diretor clínico, temendo a evasão de médicos especialistas. “Não é somente o salário do médico que está em jogo, a situação é muito mais ampla”, diz.

Possibilidade – Uma forma de colocar o pagamento em dia será utilizar os R$ 3,6 milhões, cuja liberação foi anunciada pelo prefeito Gilmar Olarte (PP) na sexta-feira. O dinheiro é referente a cinco parcelas de R$ 750 mil do pagamento de um empréstimo da Santa Casa, assumido pelo município, mas que ficou suspenso durante a fase de transição entre as gestões de Alcides Bernal (PP) e Olarte. Desta forma, pode ser usado não para pagar salário, mas fazer frente ao empréstimo. “A administração do hospital vai decidir se nos paga ou não”, afirma José Mauro.

Vice-diretor clínico da Santa Casa, Carlos Barbosa afirma que o aporte de recursos do SUS é insuficiente. Na Santa Casa, o salário dos 3,1 mil funcionários representa 65% da despesa mensal de R$ 20,7 milhões. Do quadro de funcionários, são 2.614 ativos.

No sufoco – Enquanto os médicos têm salários retidos, o serviço aumenta, Nesta quarta-feira, o pronto-socorro funciona com 61% acima da capacidade. São 74 pacientes no setor de urgência e emergência.

Na ortopedia, 22 pessoas aguardam vaga no centro cirúrgico. Como a capacidade é para sete leitos, está 214% acima do limite. No último mês, a Santa Casa realizou 2.616 cirurgias.

“Quem trabalha trazendo material para poder operar? Para trabalhar aqui, alguns têm que contratar funcionários, para poder prestar o serviço", afirma o diretor clínico.

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