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Capital

Combustível cada vez mais caro faz "motos" elétricas virarem opção na Capital

Cicloelétricos com velocidade até 50km/h não exigem habilitação, mas autorização é obrigatória

Cleber Gellio | 17/04/2022 11:19
Scooters têm sido cada vez mais comuns nas ruas de Campo Grande. (Foto: Marcos Maluf)
Scooters têm sido cada vez mais comuns nas ruas de Campo Grande. (Foto: Marcos Maluf)

Com tantos gastos como impostos, manutenção e principalmente o combustível para manter um veículo, o campo-grandense tem buscado alternativas mais econômicas na hora de se locomover. Na última semana, o preço médio da gasolina na Capital foi de R$ 6,921 e o etanol R$ 5,048, segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).

Para fugir da inflação nas bombas, já tem motorista alterando o carro para rodar com GNV (Gás Natural Veicular) e até se desfazendo dos veículos considerados gastões. Foi o que fez o casal Carol Lacerda, de 36 anos, e Pablo Zucareli, de 33, que em maio do ano passado, abandonou os altos custos para manter um Honda Civic, que custa aproximadamente R$ 60 mil, e adquiriu uma scooter de pouco mais de R$ 14 mil.

De acordo com Zucarelli, na maior parte do tempo, os dois utilizam a “moto” para levar a filha Cecília, 9 anos, à escola. São cerca de 40 quilômetros por dia e para fazer este trajeto, ele garante que não gasta mais que R$ 1,75.

A gente andava pouco com o carro e pagar todos os impostos para deixá-lo parado não compensava. Hoje, quando temos algo programado em família, vamos de transporte por aplicativo. O valor de deslocamento com ela [scooter] é muito inferior ao de um veículo à combustão."

Para ele, o novo meio de transporte tem prós e contras na hora de se deslocar. Os pontos positivos, além da economia, são: o baixo impacto ambiental por não ser poluente, fáceis de pilotar e enfrentam o trânsito pesado da Capital com boa desenvoltura. Já os aspectos ruins ficam por conta do asfalto “mal conservado para os elétricos”, além do “trânsito não planejado para mobilidade urbana”.

Por se tratar de um veículo elétrico, diz, não tem a mesma robustez para trafegar nas ruas como elas são. “Outro fato também é que ainda não há pontos de abastecimento de energia pela cidade.”

Com estrutura compacta e velocidade relativamente baixa (até 50km/h), elas recebem o nome de scooter (cicloelétricos é o nome técnico) e funcionam à bateria. Ainda são uma novidade pelas ruas de Campo Grande e têm levantado dúvidas quanto às regulamentações de trânsito, equipamentos de segurança, além de modelos, preços e a economia que proporcionam, claro.

Os cicloelétricos têm ganhado cada vez mais espaço no mercado de veículos da Capital. Gerente de uma loja especializada em mobilidade, Carla Gabriela Lucas Souza, 26 anos, tem acompanhado a evolução desse mercado denominado "inteligente", uma vez que o conceito envolve aspectos como a sustentabilidade.

Ela revela que em apenas um ano e quatro meses de inaugurada, a concessionária caminha a passos largos e que somente nos últimos reajustes dos combustíveis, os negócios tiveram 40% de aumento na demanda. “No primeiro aumento da gasolina no final do ano passado, as pessoas já começaram a procurar, mas a diferença notável mesmo veio agora, nesse último reajuste, onde não só o valor do combustível em si, mas tudo que ele afeta aumentou, além da promessa de novos reajustes.”

Hoje, as pessoas que nos procuram querem abrir mão do carro para afazeres diários, como ir para trabalho, academia, e os elétricos de duas rodas são uma ótima opção, pois têm manutenção muito barata, além de ser um equipamento leve”, diz a gerente de loja especializada no ramo.

E os elétricos não estão conquistando apenas aos que fazem uso do bem, os negócios também se estendem aos trabalhadores do setor. O vendedor Alexandre Barros, de 43 anos, já comercializava motos à combustão e vê nos elétricos um futuro promissor do segmento.

Na loja em que atua há três meses, que também vende motos “tradicionais”, o salto de vendas foi grande, saindo de duas unidades para 15, já comercializadas no último mês. “Ainda é uma novidade e as pessoas estão conhecendo. Nosso público é variado, mas tenho vendido bastante para pessoas que pretendem transitar em locais mais restritos, como condomínios.”

Franceline optou por usar scooters para se locomover. (Foto: Marcos Maluf)
Franceline optou por usar scooters para se locomover. (Foto: Marcos Maluf)

A professora Franceline Bruschi, de 40 anos, tem uma scooter há um mês, é habilitada e já conduzia motocicleta a combustão, além de ser a favor de que se tenha treinamento às pessoas que queiram conduzir este tipo de veículo.

"As pessoas que nunca conduziram nenhum tipo de veículo não têm noção do perigo. Por isso, acho que deveria ter pelo menos um treinamento mínimo que seja para transitar.”

Preços e modelos – Atualmente, já há vários modelos e preços disponíveis. Os mais vistos circulando pela cidade e que chamam atenção é a scooter, conhecida pelas rodas pequenas e largas, além de pinturas e assentos estilosos.

Além de veículos que não gastam e não agridem o meio ambiente, as revendedoras usam como atrativo a personalização de para-lamas e durabilidade, suporte de até 150 quilos, além de também serem silenciosas.

Opções de "motos" elétricas são vendidas a diferentes preços. (Foto: Marcos Maluf)
Opções de "motos" elétricas são vendidas a diferentes preços. (Foto: Marcos Maluf)

Entre as lojas pesquisadas pela reportagem, os valores variam entre R$ 10 mil e R$ 17,5 mil, para modelos que atingem até 50 km/h e que não precisam ser emplacados. O que as diferenciam entre si são as voltagens das baterias, robustez na estrutura e design.

As com preços mais acessíveis, em ambos os casos, são as de opções mais simples e que carregam baterias de 2000W, que dá uma autonomia para rodar cerca de 40 quilômetros com apenas uma carga. Para recarregar, em média, a bateria leva entre quatro e seis horas de energia.

Já as mais caras contam com suspensão dupla, compartimento para bateria extra, painel completo e iluminação em LED. Todos os modelos encontrados na Capital, à pronta-entrega, dispõem de som via Bluetooth e são ligadas via controle remoto.

É preciso ter habilitação para pilotar scooters. (Foto: Marcos Maluf)
É preciso ter habilitação para pilotar scooters. (Foto: Marcos Maluf)

Afinal, precisa de habilitação? - Em 2009, o Contran (Conselho Nacional de Trânsito) estabeleceu medida por meio de resolução equiparando os veículos cicloelétricos aos ciclomotores, bem como os equipamentos obrigatórios para condução nas vias públicas abertas à circulação. Desde então, inúmeras resoluções  ordenam o assunto, a mais recente, Nº 947, entrou em vigor em 1º de abril revogando as anteriores.

De acordo com o vice-presidente do Sindicato dos Centros de Formação de Condutores, José Vicente de Freitas, quem quiser tirar autorização deve solicitar da mesma forma como habilitação de outros veículos. Contudo, praticamente todas as unidades educacionais não têm veículos próprios para treinamento que garante autorização de pilotar este veículo.

Segundo a diretora de Educação para o Trânsito do Detran-MS (Departamento Estadual de Trânsito), Elijane Coelho, “para conduzir um cicloelétrico, assim como um ciclomotor, é obrigatório ter Carteira Nacional de Habilitação categoria A ou Autorização para Conduzir Ciclomotor”.

Além disso, é preciso circular pela direita da pista de rolamento, preferencialmente no centro da faixa mais à direita ou no bordo direito da pista. “É proibida a sua circulação nas vias de trânsito rápido e sobre as calçadas das vias urbanas. A velocidade máxima é de até 50 km/h”, explica Coelho.

Conforme a subcomandante do BPTran (Batalhão de Polícia de Trânsito), major Gabriella Fernandes, todos os veículos equiparados a ciclomotores seguem as mesmas regras previstas no Código de Trânsito. Além da habilitação ou autorização para pilotar um ciclomotor, o condutor tem que usar os mesmos equipamentos de segurança que usaria em uma motocicleta. “Inclui-se nesta definição de ciclomotor a bicicleta dotada originalmente de motor elétrico ou combustão, bem como aquela que tiver este dispositivo motriz agregado posteriormente à sua estrutura.”

  • Bicicleta elétrica: veículo de propulsão humana, dotado de duas rodas, não sendo, para efeito deste Código, similar à motocicleta, motoneta e ciclomotor.

  • Ciclomotor: veículo de duas ou três rodas, provido de um motor de combustão interna, cuja cilindrada não exceda a cinquenta centímetros cúbicos (3,05 polegadas cúbicas) e cuja velocidade máxima de fabricação não exceda a cinquenta quilômetros por hora.

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