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Capital

De Chevette com droga a mediador do PCC, quem é o preso que ordenou ataques

Preso na Gameleira, "Execução" tinha carta com instruções para fabricar bombas e ordem de atentado às polícias

Silvia Frias | 03/06/2022 10:43
Guilherme Azevedo dos Santos, o "Gibi" ou "Execução", quando foi preso pelo tráfico de 720 kg de maconha. (Foto: Arquivo)
Guilherme Azevedo dos Santos, o "Gibi" ou "Execução", quando foi preso pelo tráfico de 720 kg de maconha. (Foto: Arquivo)

“Meus irmãos, pesso q vcs monitorem delegacia e arremessem dentro dos batalhões para após ser detonada trazem prejuízos e baixas de policiais. Por isso o nome mata no ninho, vamos lutar dessa forma (...) Sucesso desde já, deixo abraços a vos darei novos passos logo. Abraço do Gibi/Execução lutar contra a máquina opressora é nossa meta.” 

O trecho da carta divulgado pelo Campo Grande News esta semana foi assinado por “Gibi” ou “Execução”. Segundo investigações, é a alcunha de Guilherme Azevedo dos Santos, 29 anos, considerado uma das lideranças do PCC (Primeiro Comando da Capital).

A comunicação foi interceptada durante revista da cela 6 do Pavilhão 1 da Gameleira, no dia 31 de maio, em Campo Grande. Era ordem de ataque às polícias Civil e Militar de Mato Grosso do Sul, com instruções sobre fabricação de bombas e como jogar nas unidades policiais. A carta foi encontrada na costura do short usado por “Execução”.

No interrogatório, o preso preferiu manter o silêncio. A Polícia Civil pediu que este flagrante fosse convertido em prisão preventiva e que ele fosse transferido para presídio federal. Já condenado em outros crimes, o decreto foi de manutenção da detenção. Sobre a transferência, ainda não houve atualização.

Antes de chegar a liderar a coordenação da “regional da Serra de Maracaju”, e atuar como mediador de conflitos dentro da facção, conforme denúncias do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), começou com receptação, violência doméstica, desacato e foi preso com Chevette carregado com 60 quilos de maconha.

Chevette abarrotado com 60 quilos de maconha, conduzido por "Execução". (Foto: Reprodução)
Chevette abarrotado com 60 quilos de maconha, conduzido por "Execução". (Foto: Reprodução)

Longa lista - Em pesquisa nos processos contra “Execução”, a reportagem encontrou extensa ficha criminal, com passagens em Campo Grande, Dourados, Amambai, Rio Brilhante e Caarapó, o último, com pelo menos três páginas de ações criminais.

Dos processos ativos no TJ-MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), consta denúncia de março de 2015, quando ele foi preso, aos 23 anos, na zona rural de Campo Grande com carro “sabidamente produto de roubo e furto”. O veículo havia sido subtraído em 2014, em Sorocaba (SP). Neste processo, foi condenado a um ano de reclusão em regime semiaberto.

Maconha encontrada em Chevette. (Foto: Arquivo)
Maconha encontrada em Chevette. (Foto: Arquivo)

Em maio de 2015, nova condenação, desta vez, por violência doméstica contra a mãe, a esposa, agressão ao irmão e resistência à prisão, ocorrida em Dourados. Na investigação, as vítimas alegaram que a confusão não passou de acidente. Mesmo assim, foi sentenciado a 11 meses de prisão.

No ano seguinte, no dia 25 de março de 2016, a denúncia do MPMS relata que ele foi preso por entregar carro a menor de idade e, novamente, desacato. Neste, foi absolvido pela Justiça de Caarapó, em decisão de janeiro de 2022.

A ficha criminal de “Execução” começa a ganhar condenações mais substanciais. Em outubro de 2016, foi preso em flagrante por equipe do DOF (Departamento de Operações de Fronteira) com Chevette abarrotado com 60 quilos de maconha. Ele conduzia o veículo e foi parado em fiscalização na MS-289, em Amambai, região de fronteira.

Naquele processo, “Gibi” ou “Execução” disse que foi contratado em Capitán Bado, no Paraguai, por homem chamado Antônio. No dia 3 de agosto de 2017, foi condenado a 5 anos de prisão por tráfico de drogas, em sentença dada pela 2ª Vara de Amambai.

Carta encontrada com o preso da Gameleira, com ordens de ataque às polícias. (Foto: Reprodução)
Carta encontrada com o preso da Gameleira, com ordens de ataque às polícias. (Foto: Reprodução)

Já foragido depois de beneficiado com progressão, foi novamente preso por tráfico de drogas, em denúncia que resultou em três flagrantes. O caso começou no dia 4 de setembro de 2019, na BR-163, em Caarapó, quando a PRF (Polícia Rodoviária Federal) foi acionada para verificar um veículo Captiva abandonado na rodovia e carregado com 720 quilos de maconha.

Durante a investigação, a polícia recebeu denúncia anônima de que haveria negociação de drogas em uma casa na zona urbana de Caarapó. No dia 5 de setembro, na edícula dos fundos, “Execução” foi encontrado com 114 tabletes de maconha, totalizando 117 quilos da droga. A casa, aliás, era da esposa dele, a mesma que constou como vítima de violência doméstica em 2015.

"Execução" seria mediador de conflitos do PCC, segundo investigação. (Foto: Arquivo)
"Execução" seria mediador de conflitos do PCC, segundo investigação. (Foto: Arquivo)

Segundo denúncia do MPMS, ele confessou que conduzia utilitário com as características do que foi encontrado na rodovia, tendo sido contratado para transportar a droga de Coronel Sapucaia a Dourados.

“Execução” disse que o veículo apresentou problemas mecânicos e foi abandonado. Antes da PRF encontrar o Captiva, o rapaz voltou ao local e retirou 117 quilos da droga.

Na mesma data, em outro endereço usado por “Execução”, os policiais encontraram 633 gramas de pasta base, 43 gramas de cocaína e 257 gramas de ácido bórico, o último, usado no refino da cocaína.

Por estes três flagrantes, foi condenado a pena de 7 anos e 11 meses de prisão, em sentença dada no dia 21 de setembro de 2020, pela 2ª Vara de Caarapó. “O acusado possui maus antecedentes e, aparentemente, se dedica à atividade criminosa, considerando suas condenações e os fatos apurados nesta ação penal”, avaliou o magistrado. O processo está na fase de apelação.

Mediador – Foi a partir de 2019 que Guilherme Azevedo dos Santos foi identificado como liderança dentro do PCC (Primeiro Comando da Capital).

No dia 11 de maio de 2020, o Ministério Público em Rio Brilhante denunciou “Gibi/Execução” e outras 28 pessoas por organização criminosa. A investigação resultou na Operação Panóptico, que identificou integrantes do grupo nos presídios de Mato Grosso do Sul e os executores das ordens, entre eles, menores de idade.

De acordo com a denúncia, nove presos determinavam os crimes. “(...) os delitos praticados tinham o escopo de fomentar o tráfico de drogas na cidade e manter firme a organização criminosa, e via oblíqua, a facção criminosa “PCC”, praticando também outros delitos correlacionados, a exemplo de furto de carros, tudo para levantar dinheiro para posterior aquisição de mais entorpecentes”.

Interceptações telefônicas identificaram crimes ligados ao grupo ocorrido de 17 de setembro de 2019 a 28 de fevereiro de 2020, em diversos locais de Rio Brilhante.

Na denúncia consta que oito presos e Guilherme Azevedo dos Santos “ocupavam posição de liderança no grupo (comando), coordenando as ações, seja para os fins de levantar fornecedores de drogas, indicar os responsáveis pelo transporte do entorpecente, seja para a distribuição, venda e coleta do dinheiro auferido com atraficância (...)”.

Os presos eram considerados lideranças influentes. Pela denúncia, tinham a última palavra sobre assuntos diversos, "(...) discussões entre irmãos, sobre qualquer coisa, sobre traição, sobre mulheres, sobre brigas, nenhum tipo de morte é autorizada sem passar por eles, sem que eles chancelem que podem pessoas serem mortas, é uma infinidade de atribuições”.

A função de “Gibi/Execução” era administrativa. A investigação apurou que ele era um dos responsáveis por uma das ramificações do PCC em MS, conhecida como a regional “Serra de Maracaju” e atuava na mediação de conflitos entre os faccionados.

Nos relatórios dos dados telefônicos, consta que ele e a esposa mencionavam a participação dele no PCC e de outros integrantes.

Todos foram acusados de integrar organização criminosa, com a participação de adolescente. A pena pode ser elevada por conta do emprego de arma de fogo e pelo exercício do comando, individual ou coletivo, da organização criminosa, ainda que não pratique pessoalmente atos de execução, conforme consta no artigo 29, do Código Penal

As defesas dos denunciados negam qualquer envolvimento nos crimes. Este processo está em andamento e ainda não teve sentença.

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