Máquinas chegam de noite e acabam com novo acampamento em área da Homex
Ação aconteceu na quarta-feira (7) e cerca de 50 famílias tiveram barracos destruídos
Moradores da ocupação onde funcionou a extinta Homex, localizada na região do Bairro Centro-Oeste, foram surpreendidos na noite desta quarta-feira (7), com patrolas e viaturas da GCM (Guarda Civil Metropolitana). As equipes estiveram no local para desocupar as áreas invadidas por quase 50 famílias. O espanto dos moradores foi com o horário que as equipes decidiram para desocupar o espaço.
Conforme a líder comunitária Alecssandra de Lima Coelho, 40 anos, a GCM chegou ao local dizendo que era uma ordem da Prefeitura de Campo Grande. "Derrubaram tudo, acabaram com tudo, tinha barraco com pedaços de madeira novo, eles destruíram tudo, sem nenhum pingo de respeito pelas famílias que necessitam de uma área", afirmou ela.
Segundo Alecssandra, não foi possível nem tirar os itens que estavam dentro do barraco as tábuas de construção. "A gente foi na frente de cima, para tirar o que nós construímos aqui, olharam para a nossa cara e ameaçaram: 'se alguém atrapalhar...'", finalizou. Conforme a líder comunitária, a ação afetou quase 50 famílias que moram na ocupação.
A lei prevê que desocupações devem ocorrer com ordem judicial, com o oficial de justiça apresentando primeiro mandado expedido pelo juiz. O STF (Supremo Tribunal Federal) analisou as desocupações durante a pandemia e o debate resultou na criação de grupos para tentar conciliação em conflitos fundiários. O TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) é um dos que criaram equipe.
A reportagem apurou que a ação envolveu novas famílias que chegaram ao local, onde já há famílias vivendo irregularmente há tempo.
O gesseiro, Leidir Roelas, 44 anos foi um dos afetados pela situação e contou ao Campo Grande News, que as equipes não apresentaram nenhum documento às famílias com ordem para a remoção. "Vou fazer de novo meu barraquinho, porque eu necessito de um barraquinho, de uma área pra mim ficar debaixo. Tenho família, tenho criança pequena também, entendeu? E eu não tenho pra onde ir", disse ele.
A estudante Katiellen Kelly Barros de Oliveira, 26 anos, também ficou sem moradia após a ação da prefeitura. Ela contou que não tem condições de pagar aluguel, e está desempregada. "Eu só tô só recebendo Bolsa Família, mas com o dinheiro compro as coisas que meus 3 filhos comem. Ou eu pago casa, ou meus filhos ficam sem comer, eu não recebo pensão de pai, não recebo nada", disse a moradora.
O relato dela vai ao encontro ao de muitas outras famílias. "Você acha que eu estaria batendo enxada no sol à toa? Aqui só tem mãe de família, pessoas que querem casa, porque precisa, se não precisasse não estaria aqui", finalizou a estudante.
Para o pedreiro, Cleber Rogério Pereira Monteiro, 45 anos, a ação foi desrespeitosa. Ele tinha ido na casa de sua mãe tomar banho e quando retornou seu barraco já estava destruído. "Eu cheguei e estava tudo no chão. Fiquei sem reação. Como é que você vai reagir em cima de tudo isso de polícia? Os caras vêm mandado, se você reagir, leva tiro", disse ele. O morador estava com sua esposa, e com seus filhos na hora que aconteceu.
O Campo Grande News tentou contato com a Emha (Agência Municipal de Habitação e Assuntos Fundiários), e com a Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano), e não obteve retorno até a publicação do material. O espaço segue aberto.
(*) Colaborou Juliano Almeida.
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