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Capital

Dois dias após local ser alvo da prefeitura, minicracolândia volta a ser ocupada

Vizinhos reclamam e dizem que só demolição de prédio vai afastar usuários de drogas do lugar

Por Kamila Alcântara | 06/07/2024 10:29
Grupo de pessoas se abrigam e consomem drogas em um sobrado da Travessa Novo Rumo (Foto: Henrique Kawaminami)
Grupo de pessoas se abrigam e consomem drogas em um sobrado da Travessa Novo Rumo (Foto: Henrique Kawaminami)

Com latinhas de refrigerantes amassadas nas mãos e sacolas plásticas, um homem magro e de pele parda atravessa a Avenida das Bandeiras, até a estreita Travessa Novo Rumo, ironicamente conhecida como a "minicracolândia" da Vila Nhanhá, em Campo Grande. Juntos em grupo, a estrutura de um sobrado é ocupada para consumirem drogas em cachimbos improvisados, antes das dez da manhã deste sábado (6).

A cena se repete dois dias depois do local ter sido alvo de operação da Prefeitura, com retirada de quilos d elixo e objetos na tentativa de evitar que o local voltasse a ser moradia..

Durante duas horas de trabalho, na última quinta-feira (4), pilhas de papel, marmitas, resto de móveis, sapatos, roupas velhas e fezes foram retirados daquele mesmo sobrado por uma força-tarefa montada pela gestão municipal. A insalubridade testemunhada ali foi encarada com ajuda de equipamentos de proteção, máscaras e com uso até de tratores.

O Campo Grande News retornou à Travessa. O ciclo de consumo de drogas e acúmulo de lixo já “voltou ao normal”, sem previsão de acabar. Beto dos Santos, de 50 anos, cresceu na casa onde está a sua empresa de estética automotiva e só vê uma solução para aquela situação: a demolição.

Beto dos Santos viu a chegada dos dependentes químicos à Vila Nhanhá (Foto: Henrique Kawaminami)
Beto dos Santos viu a chegada dos dependentes químicos à Vila Nhanhá (Foto: Henrique Kawaminami)

“Eles migraram com força para essa região em meados de 2022, quando iniciaram as reformas lá na antiga rodoviária. Foi bom terem limpado, tirado a sujeira, mas no mesmo dia estavam dentro da casa de novo. Enquanto encontrarem abrigo e drogas para usar, vão continuar ali. A única solução é demolir, como já fizeram em outras propriedades aqui do bairro, mas é preciso autorização de um proprietário que nem sabemos quem é”, desabafa o empresário.

Os fundos da mecânica divide muro com a minicracolândia, só que a sujeira deixada pelas ruas incomoda mais que a presença desumanizada daquelas pessoas. “Eu não acredito que eles querem ajuda quando estão nessa situação. Grupos de igrejas cansam de vir aqui tentar um momento de lazer, fora daqui, mas não aceitam. Já acostumei, só peço para que as marmitas doadas sejam retiradas”, reforça Beto.

Para viver na porta da minicracolândia, Solange Bertolini, 58 anos, tem uma pequena escada como ferramenta de comunicação. Já são cinco anos sendo vizinha deles e, foi subindo no muro com a ajuda da escada, que ela estabeleceu comunicação e o respeito dos dependentes químicos. Solange reconhece até as vozes de quem se aproxima do seu portão.

Solange segura nas grades que protegem sua casa, que faz esquina com a Travessa Novo Rumo (Foto: Henrique Kawaminami)
Solange segura nas grades que protegem sua casa, que faz esquina com a Travessa Novo Rumo (Foto: Henrique Kawaminami)

“Os donos de bocas de fumo que não deixam que os usuários nos incomodem, pois chamamos a polícia. Quando a polícia sai, os dependentes são espancados pelos chefões. Para não serem agredidos, eu converso com eles pelo muro, é uma negociação, não sou incomodada e assim a gente vive”, diz a vizinha.

Segundo Solange, no começo do ano uma vaquinha foi feita entre os moradores para que o sobrado fosse completamente demolido, por R$ 1,5 mil. Sem apoio policial, o trabalhador contratado ficou com medo e não executou o serviço.

“A gente desistiu disso e agora esperamos o fim. Só que as coisas melhoraram de uns tempos para cá, depois que prenderam quem fornecia a droga para eles ali perto. Claro que ainda tem quem venda, mas não está como era antes. Posso até dizer que melhorou, na medida do possível”, termina Solange.

Lixo já começa a ser acumulado no interior do imóvel (Foto: Henrique Kawaminami)
Lixo já começa a ser acumulado no interior do imóvel (Foto: Henrique Kawaminami)

Ao Campo Grande News, a Seas (Serviço Especializado em Abordagem Social), da SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social), informou que oferta serviços e acolhimentos da Rede de Assistência Social do município. Essas abordagens ocorrem diariamente nas sete regiões da Capital, sendo intensificadas na região central, viadutos, pontes, entroncamentos, praças e na região da Avenida Ernesto Geisel.

"O indivíduo tem por opção aceitar ou não o acolhimento. As recusas de atendimento por parte da população em situação de rua são um direito garantido pela Constituição Federal de 1988, em seu Art. 5º, Inciso XV. Caso a pessoa aceite os serviços ofertados, ela é encaminhada para uma das duas unidades de acolhimento do município ou para uma Comunidade Terapêutica. A SAS conta com 300 vagas ofertadas nessas comunidades”, esclareceu.

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