Sobrado na Nhanhá é "minicracolândia" que abriga problema social e transtornos
Sobrado abandonado é usado por usuários de drogas; vizinhos falam da insegurança e furto da fiação elétrica
A Travessa Novo Rumo tem pouco mais de 70 metros, entre a Rua Antônio Bitencourt Filho e Avenida das Bandeiras, na Vila Nhanhá. É espaço estreito, mas que comporta um problema social e, também, alvo de preocupação para os vizinhos: a construção abandonada de sobrado no local tornou-se ponto de moradia para pessoas em situação de rua e usuários de drogas, uma “minicracolândia” em Campo Grande.
“Se vocês virem aqui às 6h da manhã é uma cracolândia, fica um sentado do lado do outro, tem mais de 30”, disse vizinha de local onde eles se abrigam.
A equipe do Campo Grande News foi até o local durante a semana, no fim da tarde. Naquele momento, 4 pessoas circulavam pelo local, mas à medida que a noite caía, o movimento cresceu.
Hoje (6), a reportagem voltou e o cenário não foi muito diferente. Dentro da construção, era possível ver muitas pessoas e, outras, circulavam pela travessa. Alguns bebiam enquanto observavam a equipe. Um deles chegou a bloquear a passagem do carro da equipe, mas foi advertido por outro rapaz. “Deixa eles”.
Em janeiro deste ano o imóvel já era usado como moradia precária. Em imagens registradas pelo Google Street View naquele período, havia até uma placa contendo algumas regras: “Proibido roubar na quebrada”, “Proibido zua a rua”, “proibido brigas e discussões” e “respeita a vizinhança”.
A placa não existe mais na frente do sobrado. Quem mora próximo, no entanto, diz que as regras também se foram. A assistente de educação infantil, Rosilda Nunes, 48 anos, diz que eles furtam fiação elétrica e queimam no terreno. A moradora contou que chegou a colocar grades e cadeado em seu padrão de energia para evitar ser furtada.
“Você trabalha e fica preocupada, porque a minha casa está sozinha e eles tacam fogo aqui e se pega na minha casa? É um medo de estar aqui e um medo de não estar”, moradora relata que não consegue ter descanso.
Segundo ela, a “minicracolândia” também é usada como depósito de lixo. Com duas crianças de 6 anos em casa, Rosilda se preocupa com a saúde e segurança de suas filhas. “A janela do fundo eu não abro, porque você não aguenta o fedor. Ali está um lixão, daí entra bicho, entra rato, entra barata, escorpião. É lixo, lixo mesmo, a céu aberto. Eles fazem cocô, tomam banho, eles fazem tudo ali, tudo a céu aberto”, conta.
Polícia? Eu ligo toda hora, todos os dias tem emergência no meu celular. Todo dia, todo dia tem, porque essa fumaça vai lá e prejudica as crianças. Não pela gente, pelas crianças. Nós temos um grupo aqui dos moradores, que ficam cuidando. ‘Segurança nossa’, é um grupo só de moradores [...] A gente vai se conversando para se proteger, porque se a gente não se proteger, a polícia não vem. Então quem que vai vir? Os vizinhos, os próprios vizinhos para se ajudar. Porque senão, não tem condição”, disse Rosilda.
Rosilda ainda diz que em uma das vezes que entrou em contato com a PM (Polícia Militar), o militar a orientou a demolir o sobrado. "Quem tem que tomar as providências? O poder público, é uma assistência social, não é a gente”, se indignou.
Solange Bertolino, de 56 anos, também passa pela mesma situação. Mas, ao contrário da vizinha, a dona de casa colocou a sua casa à venda. Só continua no local por medo de ser vítima de invasão e depredação.
Outro problema relatado pelas vizinhas são as ameaças e agressões que os moradores sofrem ao pedirem para que os usuários apaguem o fogo que eles iniciaram. “Todos os dias eu subo na escada e brigo com eles para apagarem fogo de fio; apagam e daqui a pouco acendem de novo. É todo dia a mesma coisa, aí ninguém aguenta mais, hoje mesmo eles tacaram fogo ali”, disse Solange.
O Campo Grande News procurou a prefeitura, que informou que a Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Gestão Urbana) encaminhou a denúncia do descarte de lixo para o setor de fiscalização, para que seja verificada a questão da manutenção do terreno baldio.
A PM também foi procurada pela reportagem, que solicitou o nome do policial que fez a orientação para Rosilda e os dias e horários das ligações para o 190 para que pudessem dar uma resposta adequada para a nossa solicitação. As informações sobre as ligações foram encaminhadas, já o nome do militar não foi anotado pela moradora. Até o momento, aguardamos o retorno da PM.
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