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Capital

Dólar nas alturas prejudica até o combate ao furto de fios de cobre

De acordo com comerciante de sucatas, o interesse dos ladrões no cobre aumentou ainda mais nos últimos meses

Marcos Rivany | 31/10/2020 08:58
Mochila cheia de fios furtados de uma escola na Vila Popular. (Foto: Guarda Municipal)
Mochila cheia de fios furtados de uma escola na Vila Popular. (Foto: Guarda Municipal)

Numa pesquisa por telefone é impossível encontrar ferros velhos, sucatas ou revenda de recicláveis que compram cobre sem que o vendedor comprove a procedência do material. Nos locais em que a reportagem entrou em contato, sempre é cobrado documento  ou a assinatura de um termo de compromisso, com a documentação do vendedor.

Mas a teoria de tanta ‘burocracia’ não faz diferença na vida real. É rotina em Campo Grande o furto de fios, um crime potencializado pela alta do dólar.

Local de compra e venda clandestina de fios de cobre. (Foto: Paulo Francis)
Local de compra e venda clandestina de fios de cobre. (Foto: Paulo Francis)

De acordo com o Delegado Reginaldo Salomão da Derf (Delegacia Especializada de Roubos e Furtos), na linha da criminalidade não são apenas usuários de drogas e pequenos depósitos de sucatas os responsáveis pelo comércio clandestino. "Nós já chegamos a grandes empresas", garante.

Mas na rotina do noticiário o que se vê é locais escondidos, pequenos, mantidos pelo comércio clandestino.

Um dos flagrantes recentes ocorreu no Bairro Marcos Roberto, em sucata alvo de investigação da polícia civil. Os donos do comércio, onde também funciona um bar, estão presos.

Foi justamente nesse local que detidos por furto de fios de uma escola na última terça-feira (27), relataram ter fechado negócio.


Termo de compromisso assinado por vendedores de cobre. (Foto: Paulo Francis)
Termo de compromisso assinado por vendedores de cobre. (Foto: Paulo Francis)

Super valorizado - Quem cumpre todas as regras, entende o que movimenta a venda clandestina.

Nelson Mateus Ramalho, de 64 anos, é dono da uma sucata que fica a poucas quadras do local fechado pela polícia. Ele diz que tem um lema, trabalhar corretamente. Por isso, afirma que sempre exige a comprovação da procedência do cobre.

De acordo com o comerciante, o interesse pela bandidagem aumentou ainda mais nos últimos meses e tudo por conta da alta no dólar.  “De três meses para cá, o valor do cobre dobrou”, contribui Nelson.

Em valores, dentro de três meses, a grama do metal altamente procurado saltou de 15 para 30 reais, em Campo Grande, segundo o comerciante.

Conforme dados disponíveis no site da ShokMetais, o valor da grama do cobre nesta quinta-feira (29) foi de 6,74 dólares. Numa conversão direta com a cotação de ontem, o preço aproximado do cobre no Brasil é de 39 reais - varia dependendo da localidade.

“Só compra coisa errada quem quer”, diz Nelson sobre compra clandestina de fios. (Foto: Paulo Francis)
“Só compra coisa errada quem quer”, diz Nelson sobre compra clandestina de fios. (Foto: Paulo Francis)

Outro fator é a falta do cobre no mercado. Na busca incansável, tem gente que prefere pular algumas etapas da “procedência” e parte para a compra clandestina.

Ainda de acordo com Nelson, ele já teve conhecimento de pessoas que fazem esse tipo de compra “por fora” e tudo ocorre na calada da noite, literalmente. Ele explica que nos locais que ele conhece, é só o "moleque" chegar e fazer a venda e quem compra sabe o que está fazendo.

“Só compra coisa errada quem quer”, esclarece o comerciante. A fala de Nelson vem acompanhada de uma explicação que volta ao ponto da burocracia. Para ele é muito fácil de identificar quem tem procedência e quem não tem e pra isso quem vende o cobre pra ele tem de assinar um termo de compromisso se colocando resposável pela material.

Caso da escola - Na última terça-feira dois homens, ambos de 27 anos, foram presos em flagrante com aproximadamente 15 quilos de fios de cobre furtados da Escola Municipal Frederico Soares, na Vila Popular. A dupla passou por audiência de custódia e continuou presa. 14 salas da escola ficaram com a iluminação comprometida, segundo a Semed (Secretaria Municipal de Educação).

O prejuízo atinge toda a população por vários lados. Muitos bairros ficam sem energia, internet. Trabalho dobrado para concessionária de energia e operadoras de telefonia, sem contar as empresas que perdem trabalho e afetam a vida direta das pessoas. Segundo o delegado Salomão, já houve casos em que clínicas ficaram sem energia e não conseguiram fazer exames e pegar resultados.

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