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Capital

"Ele tirou nosso direito de sonhar", diz esposa de segurança morto

Elverson Cardozo | 03/06/2012 09:46

Viúva aos 23 anos, Lays Mariane está com o filho de 1 ano e 1 mês na casa dos avós. Tragédia chocou familiares, amigos e desconhecidos, que pedem justiça

Lays não segura o choro e passa a maior parte do tempo com a cabeça baixa. (Foto: Minamar Junior)
Lays não segura o choro e passa a maior parte do tempo com a cabeça baixa. (Foto: Minamar Junior)

Victor Gabriel, de 1 ano e 1 mês, levanta a cabeça quando ouve qualquer barulho de motocicleta. Desde a madrugada de quinta-feira (31) está à espera do pai, o segurança David Del Vale Antunes, de 31 anos, que morreu após ser atropelado na avenida Afonso Pena, por um motorista que, segundo a polícia, estava bêbado e trafegava em alta velocidade.

"Ele tirou nosso direito de sonhar, do meu filho ter um pai para levar ele para escola, de dar presente no aniversário; tirou o direito de tudo", conta a mãe do garoto, Lays Mariane Oliveira da Silva, se referindo ao estudante de Direito Richard Ildivan Gomide Lima, de 21 anos, que atropelou o segurança.

Abalada, ela não segura o choro e passa a maior parte do tempo com a cabeça baixa. As lágrimas e o olhar distante denunciam o tamanho do estrago causado por uma tragédia que poderia ter sido evitada. "Até agora eu não acredito nisso", conta a jovem.

Notícia- No dia do acidente, afirmou, o marido telefonou ainda de madrugada, às 3h54, pedindo que o esperasse no portão da casa dos avós, onde costumava passar a noite quando ele estava trabalhando. "Ele falou que estava saindo", disse.

Mas a espera fugiu do habitual. Lays permaneceu em frente à residência por 1h. David não voltou. "Ele não iria mandar eu levantar de madrugada com o bebê no colo para ficar lá na frente parada", explica.

Avós da jovem estão revoltados com a tragédia. (Foto: Minamar Júnior)
Avós da jovem estão revoltados com a tragédia. (Foto: Minamar Júnior)

Como o segurança não chegava, resolveu ligar para um amigo policial que sabia que estava de serviço naquela madrugada. Queria saber se havia acontecido algum assalto.

A notícia do acidente envolvendo o esposo veio minutos depois. O policial retornou a ligação e pediu o endereço de onde Lays estava. "Eu já achei estranho, mas depois soube que ele já tinha visto ele morto ", conta.

Ao chegar a residência, o militar pediu que ela chamasse os avós. "Daí ele falou: O David não volta mais", relembra, aos prantos.

Menos de uma semana depois de enterrar o marido, Lays Mariane se diz "anestesiada" e ainda não sabe o que fazer. Até agora não recebeu qualquer ligação da família do estudante que atropelou o marido.

Embora desempregado, David era quem sustentava a casa com os freelances e trabalhos temporários que fazia. Na madrugada em que foi morto, trabalhou no bar Miça, localizado na avenida Afonso Pena.

Sonhos interrompidos - Segundo a esposa, o marido havia terminado um curso de segurança de carro forte há pouco tempo e nesta sexta-feira (1) seria contratado por uma empresa da Capital.

David, o filho Victor Gabriel e a esposa, Lays Mariane. (Foto: Arquivo Pessoal)
David, o filho Victor Gabriel e a esposa, Lays Mariane. (Foto: Arquivo Pessoal)

"Só a gente sabe a dificuldade que foi para ele concluir", afirma, acrescentando que o sonho do esposo era ter a casa própria. "Ele falou para mim: Esse ano a gente financia nossa casa e sai do aluguel", disse.

Lays Mariane ainda não sabe como vai continuar criando o filho pequeno sem a presença de David, que era muito apegado ao garoto. "Ele vivia falando que iria colocar ele no judô, na natação, levar ele para malhar junto na academia...".

No velório, Victor Gabriel tentou abraçar o segurança dentro do caixão. "Para ele o pai estava dormindo", conta a avó da jovem, Maria Alice de Oliveira Mota, de 57 anos, ao lado do marido, o aposentado Antonio Alves de Oliveira, de 73 anos, que está revoltado com a situação.

A tragédia, pontuou Maria Alice, é irreparável. "Não tem palavras para explicar o tamanho da tristeza, da decepção. Era como nosso filho", afirmou. A família, que ainda em estado de choque, agora pede justiça.

"Uma pessoa irresponsável que está contrariando os códigos de lei", opina a avó, sobre a conduta do estudante Richard Gomides. "Para quem está estudando Direito, que tipo de advogado ele seria se não está cumprindo a lei"?, questionou a esposa do segurança.

Lays Mariane e David Del Vale estavam casados há 3 anos. Se conheceram em 2009, dentro de um ônibus, na época em que o segurança trabalhava como cobrador em uma empresa de transporte coletivo de Campo Grande.

À casa onde mora, a jovem só voltou para escolher o terno com que David foi enterrado. O filho, sem saber o que aconteceu, espera o pai no carrinho de bebê, na casa da avó, onde também está a motocicleta de brinquedo que ganhou da irmã do segurança na semana passada.

David Del Vale estava desempregado. Na madrugada em que foi morto, fez um trabalho como segurança do bar Miça. (Foto: Arquivo Pessoal)
David Del Vale estava desempregado. Na madrugada em que foi morto, fez um trabalho como segurança do bar Miça. (Foto: Arquivo Pessoal)

Entenda o caso - O acidente aconteceu na madrugada desta quinta-feira (31), no cruzamento das avenidas Afonso Pena com a Arquiteto Rubens Gil de Camilo, em frente ao Shopping Campo Grande, por volta das 04 horas.

Segundo a Polícia Civil, a vítima estava parada em um semáforo que tem no cruzamento quando foi atingida por um veículo Punto em alta velocidade, que era conduzido pelo estudante Richard Ildivan Gomide Lima, de 21 anos.

Com o impacto, David Del Valle foi lançado a 38 metros de distância e morreu no local. A moto foi parar a quase 60 metros do ponto de colisão. No local ficaram pedaços da moto e do carro, além de vestígios de sangue.

A Polícia acredita que o condutor trafegava a mais de cem por hora. O radar no cruzamento onde ocorreu o acidente registrou uma velocidade de 83 km/h, com o carro já em desacelaração quando atingiu a vítima, que tinha acabado de sair do bar Miça.

Richard Ildivan. (Foto: Minamar Junior)
Richard Ildivan. (Foto: Minamar Junior)

Após o acidente, Richard Ildivan fugiu do local e telefonou para a namorada acionar o resgate, mas acabou preso logo em seguida por policiais militares que atendiam uma ocorrência no bar onde o segurança trabalhava.

O jovem foi encaminhado à Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) do centro, onde foi autuado por homicídio doloso, quando há intenção de matar.

De acordo com informações do 1º BPM (Batalhão da Polícia Militar), quando foi abordado o rapaz mal conseguia sair do veículo e exalava forte cheiro de bebida alcoólica, mas Richard se recusou a realizar o teste do bafômetro. Dentro do carro foram encontradas duas latinhas de cerveja.

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