Em Campo Grande, 29% dos alunos afirmam já ter sofrido humilhação e perseguição
Índice registrado na capital sul-mato-grossense está entre os três piores do País, segundo o IBGE
Campo Grande está entre as três capitais brasileiras com maior número de alunos do 9º ano do Ensino Fundamental, que se sentiram humilhados por provocações de outros colegas. Os dados foram coletados em 2019 e fazem parte do levantamento PeNSE (Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar), divulgado na terça-feira (13) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A capital sul-mato-grossense empatou com Belém (PA) na segunda colocação do ranking. Em ambas, 29,2% dos estudantes afirmaram sofrer com as provocações duas ou mais vezes, em um recorte de 30 dias. As cidades só perderam para Porto Velho (RO), onde 30,5% dos alunos relataram ter sofrido bullying.
O cenário se repetiu no ambiente virtual: 18,1% dos estudantes confirmaram as humilhações pelas redes sociais em Campo Grande e Belém, e 19,2% em Porto Velho.
No entanto, apenas 13,3% dos alunos de Campo Grande admitiram esculachar, zombar, intimidar ou caçoar algum colega de escola a ponto dele ficar magoado e humilhado. É um dos menores números entre as capitais brasileiras, ficando em 14º colocação.
Em Belém, que empatou com a capital sul-mato-grossense nos relatos de bullying, foram 16,3% que admitiram praticar as agressões, ficando em 4º colocação. O Rio de Janeiro teve o maior índice, com 17,8%.
O bullying é associado como um dos principais causas para a depressão, e até mesmo o suicídio. A prefeitura da Capital, através da Semed (Secretaria Municipal de Educação), atende as vítimas deste tipo de violência através do Programa de Valorização da Vida.
Os profissionais realizam suporte psicológico em situação de crise, e orientam pais ou responsáveis desde 2018. Só neste ano, foram 16.029 estudantes e servidores que passaram por algum tipo de atendimento.
Entre 445 alunos que precisaram de assistência individual, 87 apresentaram ideação suicida e 94, autolesão.
No ano passado, o Campo Grande News contou a história de uma jovem de 22 anos que sobreviveu a uma tentativa de suicídio e resolveu falar abertamente sobre o assunto para prevenir pensamentos como os que ela teve.
Diagnosticada com depressão desde os 14 anos, ela relatou os casos frequentes de bullying que, segundo ela, só potencializavam a dor. “Falavam que eu era estranha. Naquela época, eu tinha o estilo emo e as pessoas me ofendiam até por isso”.
Ela se jogou de uma altura de 8 metros e fraturou o pé e o quadril, mas sobreviveu. Foram seis meses na cadeira de rodas até a recuperação total dos movimentos. Em casa, ela deu continuidade ao tratamento psicológico e acompanhamento psiquiátrico. “Teve pessoas que ficaram bravas porque eu não morri. Isso foi muito doloroso. Foi então que eu busquei mudar a minha vida”.
Em tratamento, ela admitiu que o dia a dia é de altos e baixos, mas viu na chance raríssima que teve, a força para seguir em frente. “Eu só quero que ninguém faça o que eu fiz, temos uma vida pela frente, por mais difícil que ela seja”.
Pesquisa - PeNSE teve início em 2009 e investiga informações para mapear e dimensionar os fatores de risco e proteção à saúde dos adolescentes. A periodicidade da pesquisa é eventual e a abrangência geográfica, nacional.
O estudo tratou de outros temas como alimentação, atividade física, saúde sexual, imagem pessoal e uso de drogas lícitas e ilícitas, entre outros.
Conforme os dados do IBGE, 16% dos adolescentes que cursam o 9º ano do Ensino Fundamental em Campo Grande já foram tocados, manipulados, beijados ou tiveram seus corpos expostos contra sua vontade. Esse índice é o quinto maior do Brasil, atrás de Fortaleza (20,3%), Macapá (19,5%), Rio Branco (18,5%) e Natal (17,9%).
Quanto ao uso de cigarro, 14,6% dos estudantes campo-grandenses ouvidos, disseram já ter fumado narguilé ou cigarro eletrônico. Com relação às drogas ilícitas, 19,3% disse já ter experimentado alguma, sendo 12,2% com uso frequente e 28,3% junto com os amigos.
Dos entrevistados, 27,4% disseram já ter se relacionado sexualmente por vontade, sendo 67,7% com preservativo. Entre as meninas, 30,7% disseram já ter recorrido ao uso da pílula do dia seguinte.
A pesquisa completa pode ser acessada aqui.
Ajuda - Em Campo Grande, o GAV (Grupo Amor Vida) presta um serviço gratuito de apoio emocional a pessoas em crise através dos telefones (67) 3383-4112, (67) 99266-6560 (Claro) e (67) 99644-4141 (Vivo), todos sem identificador de chamadas. Ligue sempre que precisar!
Horário de funcionamento das 07h às 23h, inclusive, sábados, domingos e feriados. Informações também pelo site (clique aqui).