Em Campo Grande, "perrengue" em bairro sem asfalto não acaba quando a chuva para
Onde asfalto é raridade, o que não falta são oportunidades para comprovar que tudo o que é ruim pode piorar
Quando para de chover, há quem respire aliviado, achando que o transtorno acabou e pode sair às ruas, tranquilamente. Porém, nem sempre é assim para quem vive em bairros com ruas sem asfalto e precisa enfrentar muita lama e água empoçada para chegar ao trabalho. Nesta segunda-feira (20) o panorama não foi diferente.
O cenário no Bairro Jardim Tijuca, que mais parece um lamaçal, confunde o perímetro urbano com o meio rural pela falta de pavimentação das ruas. Quem sofre com isso são os residentes, que mostram que os perrengues de pobre não acabam quando a chuva passa, pelo contrário, eles começam.
Onde asfalto é raridade, o que não falta são oportunidades para provar que tudo o que é ruim pode piorar. Eliane Lima de Oliveira, de 40 anos, explicou que toda vez que chove no bairro é um transtorno sem fim.
“É bem crítica, fica ruim para a gente andar, fica complicado chegar no ponto de ônibus, ainda mais em dia de chuva, para as crianças irem pra escola fica complicado, porque a mais próxima fica há 30 minutos de casa e eles vão a pé”.
Sem carro, a prestadora de serviços domésticos disse que as crianças muitas vezes precisavam ficar em casa devido à situação.
“Quando chove já começo a pensar como vou sair para ir trabalhar e como vou mandar as crianças para a escola. Quando está chovendo muito não tem como eles irem, porque não dá pra passar na rua. O trajeto é muito barro e lama. Além de chegarem molhados, eles chegam sujos na escola”, disse.
Eliane mora há 25 anos no local e se revolta com o descaso do poder municipal. Segundo ela, a população merece que todas as ruas sejam asfaltadas. O argumento é de que existem bairros mais novos na Capital que já receberam pavimentação. “Nosso bairro é bem antigo, tem lugares mais novos que já estão asfaltados e a gente não tem", finalizou.
Rotina - Karoline Duailibe, de 27 anos, mora na Rua Javaes há quatro meses e todos os dias caminha por 4 quilômetros para levar os filhos de 3, 6 e 8 anos para casa da babá. O percurso fica ainda pior quando chove. “Temos que enfrentar esse brejo, o caminho todo que faço é rua sem asfalto, é um sacrifício. A gente sai com sapato limpo e chega com ele sujo. Sempre quando chove acontece isso”, comentou.
A auxiliar de serviços gerais ressaltou que mesmo sem chuva o bairro sofre com buracos e poeira. “Eles deveriam melhorar um pouco essas ruas. Metade do bairro já é asfaltado, tinham que fazer logo o resto porque é muito transtorno”.
Cuidado - O aposentado Jozabe de Moura Matos, 61 anos, revelou à reportagem que chegou a pagar do próprio bolso o reparo da rua. “Há 11 meses mandei passar um caminhão aqui com pedra para ver se melhorava, eu mesmo mandei. É difícil a gente reclamar, porque sei que tem gente pior. Mas nem por isso tenho que ficar contente com a minha situação”.
O idoso ressaltou que quando comprou a casa onde reside o cenário não era assim, apesar de o local já não ter asfalto na época. Para ele, o quadro piorou quando o fluxo de carros aumentou na região.
Mesmo em meio a lama, Jozabe não admite que seu veículo fique sujo. O problema pode parecer simplório, mas para ele tem um valor imensurável.
“O carro é velho mas eu sou enjoado e gosto que sempre esteja limpo. Quando chove todo mundo reclama, já falamos com presidente do bairro e ninguém faz nada. Em dias de chuva eu tenho que lavar meu quintal todos os dias, porque entro com carro e todo dia suja”.