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Capital

Em desespero, famílias buscam na Justiça vagas de UTI que não existem

Caos da covid-19 chegou ao Judiciário, que se vê obrigado a negar os pedidos pela saturação do sistema

Lucia Morel | 30/03/2021 07:00
Paciente intubado em UTI (Foto: Saul Schramm/Governo de MS)
Paciente intubado em UTI (Foto: Saul Schramm/Governo de MS)

A falta de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) tem afetado também o Poder Judiciário que é visto como a saída para muitas famílias, desesperadas, de tentar salvar seu ente querido. Somente entre os dias 8 de março e ontem (29) foram impetrados pelos menos 12 ações pedindo vagas intensivas na rede pública de Campo Grande.

No entanto, não há milagre que faça esse tipo de leito “brotar” e diante da alta demanda, apesar de algumas decisões favoráveis - maioria não - pela transferência à vaga buscada, os pacientes permanecem em leitos improvisados dos postos 24 horas, alguns por 13 dias.

Há inclusive casos de pessoas que entraram em hospital privado com medo de perder a vida, mas que esperam, também na Justiça, vaga em leito do SUS (Sistema Único de Saúde), ainda sem sucesso.

Todos os casos são de pacientes com covid-19, mas também ocorreram petições de dois pacientes com outras doenças, que da mesma forma, não conseguiram leito de UTI no SUS rapidamente.

Pacientes internados no CTI da Covid no Hospital Regional (Foto: Saul Schramm/Governo de MS)
Pacientes internados no CTI da Covid no Hospital Regional (Foto: Saul Schramm/Governo de MS)

Em um dos casos de covid-19, jovem de 27, Rodrigo Martinez Echeverria, através de pedido da esposa, tentou vaga em 09 de março, quando deu entrada no CRS (Centro Regional de Saúde) do bairro Coophavilla 2. Decisão do dia 13 de março, após uma determinação de primeiro grau negativa, o rapaz teve garantido, ao menos judicialmente, o pedido pleiteado.

Segundo a família, ele não precisou da vaga porque sarou e a saúde estabilizou dias depois de dar entrada no CRS recebeu alta lá mesmo.

Em outro caso, idoso de 75 anos de idade, Francisco Ribeiro de Oliveira não teve a mesma sorte e faleceu no sábado. Ele teve o primeiro atendimento em 14 de março na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do bairro Coronel Antonino, mas até o último dia 27, quando morreu, não havia sido transferido de lá para receber assistência adequada em hospital com UTI.

Isso, porque houve decisão favorável ao transporte de idoso a leito hospitalar em 22 deste mês. Diante disso, a Defensoria Pública pediu o sequestro de bens da Prefeitura de Campo Grande, no valor de R$ 30 mil, para possível tratamento particular do paciente.

Em outros três casos, pacientes deram entrada em UPAs no dia 18 de março, todas em estado grave. Uma delas, de 60 anos, o aposentado Augustinho Dênis Fernandes, conseguiu vaga no último sábado, via SUS, na Clínica Campo Grande, onde está intubado e com o pulmão bastante comprometido.

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Filha dele, Danielly Fernandes, afirma que apesar da situação grave, é um alento saber que o pai está recebendo atendimento adequado e com a medicação necessária. Ela lembra que foram oito dias de luta com o pai na UPA Coronel Antonino até ele ser transferido.

Outros dois pacientes de 55 e 70 anos de idade aguardam vaga nas UPAs Vila Almeida e Universitário, respectivamente. A reportagem não conseguiu contato com os familiares para saber a atual situação de cada um.

No entanto, no caso de Odálio da Silva, de 55 anos, o pedido por leito via judicial foi feito no dia 25 de março, quando ele já estava intubado na UPA há oito dias. No dia 26 de março, decisão judicial foi negativa ao pedido e hoje, pelo andamento do processo, a ação foi remetida à 2ª Vara de Fazenda Pública.

No terceiro caso, Getúlio Seia Kuwada, de 70 anos, espera vaga em hospital na UPA Universitário. Decisão concedeu a ele o pedido de transferência em 24 de março, que é o último andamento do caso. Sem contato com a família, não foi possível saber se ele foi transferido após o dia 24, ou não.

Um dos primeiros casos de internação em posto de saúde foi relatado aqui, pelo Campo Grande News. Ele conseguiu a vaga no dia seguinte, em 9 de março, e está internado no Hospital Regional desde então. Familiares informaram que o boletim médico de ontem indicava risco de óbito a qualquer momento.

Desumano – no CRS Nova Bahia, diante do quadro caracterizado como desumano pelos familiares, mais três pessoas precisam urgentemente de vaga em UTI, mas não conseguem. Nora de Sebastiana Brites Fialho, de 73 anos, Débora Fialho chora ao contar a situação.

“Não tem comida para eles lá, somos nós que temos que levar tudo. Hoje ela pediu para sair de lá, porque vai morrer. É desesperador”, relata a nora, falando que nem mesmo banho é dado em sua sogra, mas pondera. “É nítido o cansaço da equipe do posto. O que podem, eles fazem”, lamenta.

Sebastiana está internada no CRS desde semana passada, dia 24 e como o local não tem respirador, ela recebe apenas oxigênio, sem possibilidade de ventilação mecânica. O pedido dela foi indeferido pela Justiça no dia 27 de março.

Também desesperada, Cláudia Helena Marques Barôa espera vaga para o pai, Cláudio Leite Barôa, de 71 anos, desde o último sábado. Ela também reclama das condições do posto, que segunda ela, não passam informações adequadas do estado de saúde. “Pedem pra eu ir lá para ter detalhes, mas como se eu também estou com covid?”, questiona.

O terceiro paciente “internado” no CRS Nova Bahia é Marlene Tereza Mendonça Pereira, de 63 anos. Ela espera vaga em hospital desde 22 de março e a reportagem não conseguiu contato com a família para saber se ela ainda está lá. No dia 28 último, o pedido de transferência foi negado pela Justiça.

Um outro pedido de vaga, de Milton Araújo, de 70 anos,  é para vaga de UTI dentro do próprio Hospital Regional, onde ele já está internado, mas em leito improvisado. O caso foi encerrado porque ele conseguiu a vaga em UTI no último dia 26 de março.

Unidade privada – outras duas ações em trâmite no Tribunal de Justiça são de pacientes que arriscaram internação em hospitais particulares, mas como já temem a incapacidade financeira para arcar com os custos, pedem transferência para assistência do SUS.

Um deles é de rapaz de 35 anos que em janeiro perdeu o pai pela covid-19. A pandemia tirou dele também o emprego, já que possuía empresa de transporte escolar, que fechou diante da crise e ausência de aulas.

Em 23 de março ele procurou o CRS do Aero Rancho, mas como estava lotado e sem previsão de ser atendido, ele procurou o Hospital El Kadri, onde ficou internado desde então, com 70% do pulmão comprometido pela covid. Ainda não houve sentença para o pedido.

Por fim, a família de Silvino de Oliveira Macedo, de 71 anos, o internou no El Kadri. Em estado grave, pediu-se transferência para o SUS devido os altos custos previstos da assistência privada.  O caso ainda não foi analisado e foi repassado à 6ª Vara do Juizado Especial.

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