Em favela "renascida", famílias respondem Censo de novo esperando futuro melhor
Supervisores e coordenadora do IBGE retornaram à favela Cidade de Deus, na manhã deste sábado
Para criar um retrato fiel de comunidade, supervisores do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) retornaram à favela Cidade de Deus, na manhã deste sábado (25), para reaplicar questionários do Censo Demográfico 2022.
A equipe formada por oito supervisores e uma coordenadora, tinha como objetivo visitar 80 lares na região. Embora tenha encerrado no dia 28 de fevereiro, a coleta de dados domiciliar do Censo, que alcançou 189.261.144 pessoas recenseadas em Mato Grosso do Sul, levando em conta a prévia da população divulgada em 28 de dezembro de 2022, os trabalhos do instituto continuam na parte da "Etapa de Apuração", que começou no dia 1º de março.
Conforme a coordenadora do Censo em Campo Grande, Sylvia Assad, essa ação tem objetivo de revisar e corrigir as falhas nos dados e está acontecendo em todas as capitais do País, com foco nas áreas periféricas.
“Voltamos aqui [Cidade de Deus], porque durante o trabalho de revisão observamos que alguns recenseadores aplicaram questionários nesta área com conceitos que podem gerar um viés de resposta [influenciar o resultado]”, disse Sylvia Assad.
Como forma de agradecimentos às famílias que participaram do Censo mais uma vez, os supervisores distribuíram revistas lúdicas, atividades e bexigas para as crianças. “Eles foram muito receptivos com a gente, desde a primeira aplicação e pensamos em distribuir esses brindes como forma de agradecimento”, fala.
Vale ressaltar que o levantamento das informações vai auxiliar no planejamento de políticas públicas para as cidades. “Esses dados influenciam bastante nas políticas públicas voltadas para essa região, por isso é de extrema importância termos essa responsabilidade com essa população [das periferiais]”, conclui a coordenadora.
Nathalia Araujo, de 21 anos, foi uma das moradoras que respondeu o questionário hoje. Ela conta que essa é a terceira vez que responde e acredita em um retorno positivo da pesquisa para a comunidade. “Espero melhorias, por isso respondi todas as vezes, todos aqui estamos abertos para responder”, disse.
No barraco ao lado, o morador Lucas Batista, de 24 anos, recebeu o supervisor juntamente com sua esposa. Ela já havia respondido anteriormente ao questionamento. Assim como Nathalia, ele se propôs a receber a equipe, acreditando que futuramente eles podem ser agraciados com políticas melhores. “Aqui precisamos de vagas nas creches, eles precisam saber das crianças que tem aqui, é muita gente e falta posto de saúde. Um só não é suficiente”.
Cidade Deus - No ano de 2015, a área de ocupação da Favela Cidade de Deus foi judicialmente desapropriada. No dia 30 de dezembro daquele ano, o aposentado Arthur Altounia, proprietário do local, obteve na Justiça a reintegração de posse da área. Posteriormente, a prefeitura desapropriou o terreno que mede 4,8 mil metros quadrados.
Os moradores saíram do local com a promessa de que teriam uma casa de alvenaria e deixariam de viver em barracos de lonas e resto de paus. No dia 7 de março de 2016 começou a ser feita a remoção que durou 37 dias. Entretanto, os anos se passaram e muitos moradores não recebem o imóvel.
Cerca de 240 famílias da antiga Cidade de Deus foram transferidas de lugar e acabam em outras quatro favelas, divididas nos bairros Bom Retiro, Pedro Teruel, Jardim Canguru e Vespasiano Martins. O terreno onde ficava a favela virou local de descarte de lixo, resto de poda de árvores, pneus, resto de móveis e demais materiais. Mas, este cenário logo mudou.
Poucos meses após a remoção, outros moradores passaram a ocupar a área, que cresceu durante a pandemia e hoje, intitulada "Cidade dos Anjos", foi recenseada pela terceira vez pelo IBGE.
Até os dias de hoje, não há nenhum levantamento que indique que se todas as famílias retiradas do local em 2016, receberam algum imóvel da AMHASF - Agência Municipal de Habitação e Assuntos Fundiários.