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Capital

Em novo bloqueio, catadores afirmam resistir até lixão ser reaberto

Natalia Yahn e Viviane Oliveira | 19/03/2016 15:02
Manifestantes aproveitam a rodovia sem fluxo para jogar bola. (Foto: Simão Nogueira)
Manifestantes aproveitam a rodovia sem fluxo para jogar bola. (Foto: Simão Nogueira)
Bloqueio de rodovia foi feito com galhos, pneus e outros materiais. (Foto: Simão Nogueira)
Bloqueio de rodovia foi feito com galhos, pneus e outros materiais. (Foto: Simão Nogueira)

Os trabalhadores que atuam no lixão de Campo Grande iniciaram hoje (19) um novo bloqueio na rodovia BR-262, no anel rodoviário, próximo ao Bairro Dom Antonio Barbosa. A manifestação começou às 9h e tem a participação de aproximadamente 200 catadores, que se revesam para manter a interdição do local.

Com galhos e pneus, o grupo impede a passagem de veículos. Divididos nas duas extremidades do local do bloqueio, apenas 20 manifestantes estavam na via quando a equipe do Campo Grande News esteve na manifestação. “A gente se reveza”, disse um dos líderes da ação, João Alves. No local, o clima entre os manifestantes é de festa, muitos aproveitam para jogar bola e dizem que só vão sair quando o lixão for reaberto.

O trânsito está impedido nos dois sentidos, em direção a Sidrolândia e São Paulo. Aproximadamente 20 caminhões estão parados na rodovia. Uma equipe da Guarda Municipal acompanha a manifestação e duas esquipes da PRF (Polícia Rodoviária Federal) apenas informam sobre o protesto para os que passam pelo local.

“A Prefeitura disse que iria enviar representantes para conversar, mas até agora nada”, afirmou o agente da PRF, Ivan Cazumba.

João da Silva Rech, 39 anos, transporta 57 mil litros de combustível de Paulínea (SP), mas não consegue chegar ao destino – um posto da Capital – para descarregar. “Não tem nem como fazer a volta, porque o caminhão está muito pesado. Vou ter que esperar mesmo. Mas eles deviam manifestar em frente a Prefeitura”, afirmou.

Já o caminhoneiro Everaldo Batista, 57 anos, lamentou o bloqueio. Ele mora em São Paulo (SP), de onde saiu com carregamento de sal mineral, deixado em Aquidauana – a 130 quilômetros da Capital. “Pedimos para a PRF fazer alguma coisa, mas eles disseram que apenas acompanham. Uma hora dessas já poderia estar em casa, mas estou aqui parado e não sei que hora isso vai parar”.

A Prefeitura Municipal foi procurada, para falar sobre o envio de representantes para negociar a liberação da rodovia e também sobre a entrega de cestas básicas com alimentos estragados, mas não se posicionou até o fechamento desta reportagem.

Manifestantes – João Alves, que trabalha no lixão há 22 anos, afirma que não há material suficiente na UTR (Usina de Triagem de Resíduos) para todos os catadores. “Eram 88 que trabalhavam lá e por conta do fechamento do mais 86 foram trabalhar na usina. No lixão quem ganhava menos conseguia R$ 100 por dia, mas agra o máximo é de R$ 20 por dia. Por isso vamos manter o bloquei, que não tem hora para acabar”.

A catadora Jéssica Benitez Guerreiro, 25 anos, tem cinco filhos com idades entre 10 e 1 ano e reclama da falta de trabalho. “ Eu pago R$ 120 pra a babá, estou com a água cortada e aluz atrasada”, afirmou.

Ela também está preocupada com a situação, pois o grupo que tua na UTR, trabalhou durante três dias com materiais reservas. “Cabe todo mundo no galpão, mas na segunda-feira não tem mais material pra ninguém trabalhar”, disse.

Os manifestantes também denunciam que a diretora-presidente da Agereg (Agência de Regulação dos Serviços Públicos Delegados), Ritva Vieira, entregou cestas básicas para os catadores que estão impedidos de trabalhar no lixão. “Salvou só o leite, óleo, açúcar e charque. O arroz estava mofado e o feijão carunchado”, afirmou uma manifestante.

Daniele Braga Silveira, 26 anos, trabalhava no lixão há três anos. “Eu tenho uma filha de 5 anos e esta semana trabalhei quatro dias, recebi R$ 63, paguei R$ 60 para a babá e fiquei com R$ 3. Nós só vamos sair daqui depois que abrirem o lixão, porque é o nosso sustento”.

Problema – Esta é a segunda manifestação dos catadores desde que o lixão foi fechado, no dia 28 de fevereiro. Nos dias 2, 3 e 4 de março o grupo já tinha fechado a rodovia, situação que prejudicou a coleta de lixo em 40 bairros da Capital.

Desde dezembro de 2012, catadores de lixo tinham acesso ao aterro sanitário Dom Antônio Barbosa por meio de uma liminar, concedida em ação civil proposta pela Defensoria Pública. A medida foi deferida pelo tempo que durasse o atraso na construção da UTR. Com a obra inaugurada em agosto de 2015, a área de transição foi fechada. 

No dia 3 de março a Justiça indeferiu o pedido da prefeitura de Campo Grande para prorrogar por 30 dias o fechamento do lixão. Na decisão, o juiz da 1ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, Marcelo Ivo de Oliveira, manteve a determinação que proíbe o acesso dos catadores de material reciclável na área de transição do lixão desde 28 de fevereiro.

A prefeitura, que fez solicitação no dia 29 de fevereiro, informou que o prazo era para criar um plano de ação, em atendimento aos catadores autônomos que perderam a fonte de renda. A medida cumpriu orientação do prefeito Alcides Bernal (PP), que declarou à imprensa a tentativa de reverter a proibição.

Contudo, a Defensoria Pública e o MPE (Ministério Público do Estado) foram contras o pedido para reabrir o lixão. Ambos alegaram o risco para a saúde dos trabalhadores e que o fechamento já era de conhecimento prévio.

A Solurb informa que a UTR pode receber os autônomos, desde que se organizem em cooperativas. Conforme dados apresentados pela empresa no processo, são 727 catadores registrados no lixão. Contudo, somente 457 solicitaram o cadastro e têm carteira de acesso. Outros 180 cadastrados nunca trabalharam no local. 

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