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Capital

Em velório, filha da "vovó de todos" lembra inquietude na vida de Mirtes

Vendedora conhecida no Centro, Maria Mirtes morreu ontem, aos 91 anos, atropelada na Avenida Euler de Azevedo

Por Silvia Frias e Antonio Bispo | 18/01/2024 12:16
Velório de Maria Mirtes está sendo realizado na Pax Mundial (Foto: Henrique Kawaminami)
Velório de Maria Mirtes está sendo realizado na Pax Mundial (Foto: Henrique Kawaminami)

A inquietude era uma característica marcante de Maria Mirtes Victor Leite. No ano passado, por exemplo, menos de um mês depois de cirurgia de hérnia, saiu de casa sem avisar a filha, Cláudia Vitor, 55 anos. “Não tinha nem tirado os pontos”, lembrou a comerciante, emocionada. “Ela sempre dava jeito de fugir”.

Maria Mirtes faria 92 anos em junho deste ano, uma vida recheada de muito trabalho e desassossego, que começou no Ceará e terminou em Mato Grosso do Sul de forma abrupta. Ontem, a idosa, conhecida como a "vovó de todos", morreu atropelada por um motociclista, na Avenida Euler de Azevedo, perto do bairro onde morava.

“Eu estava pressentindo que alguma coisa iria acontecer, passei a madrugada toda acordada e só consegui dormir por volta das 5h”, contou Cláudia, durante o velório da mãe, na Pax Mundial. Ela é dona de bar que funciona na frente de casa, no Bairro Santa Carmélia, e havia combinado com a mãe de ir ao Centro para comprar produtos que iriam abastecer o estabelecimento.

Cláudia contou sobre insônia na noite anterior à morte da mãe (Foto: Henrique Kawaminami)
Cláudia contou sobre insônia na noite anterior à morte da mãe (Foto: Henrique Kawaminami)

Mas a mãe acordou mais cedo e saiu sozinha. Pegou ônibus, foi até o Centro para avisar aos amigos que não iria trabalhar aquele dia, no ponto costumeiro na Avenida Afonso Pena, entre a Rua 14 de Julho e Calógeras, pois iria fazer compras com a filha. Ali, por quase 24 anos, vendia produtos variadas, mas, principalmente, pano de prato.

Foi na volta para casa que o acidente aconteceu. O sinal estava verde para passagem dos condutores e a idosa atravessou na faixa de pedestre. Segundo apurado pela reportagem, o motociclista tentou frear, mas não conseguir evitar a colisão.

Cláudia conta que foi acordada pelos chamados de vizinho, que conhecia a idosa e viu o que aconteceu. “Não foi fácil ver aquela cena da minha mãe, caída ali na rua”, disse a comerciante, emocionada. “Mas, em momento algum, eu culpo o motociclista, não foi culpa dele”. Em outras ocasiões a mãe quase foi atropelada, por estar desatenta. “Teve outras vezes que os carros frearam em cima dela”.

Maria teve traumatismo craniano, sofreu diversos ferimentos graves e teve a morte constatada às 9h50. Ela completaria 92 anos de vida no dia 29 de junho deste ano.

Nos últimos anos, Maria Mirtes tinha diminuído a frequência no ponto na Avenida Afonso Pena, mas isso não significou o fim das andanças. Cláudia e os funcionários do bar até tentavam vigiar os passos da idosa, sem muito sucesso.

Maria Mirtes no costumeiro ponto na Avenida Afonso Pena, em entrevista concedida em 2022 (Foto/Arquivo)
Maria Mirtes no costumeiro ponto na Avenida Afonso Pena, em entrevista concedida em 2022 (Foto/Arquivo)

“Eu não podia prender ela dentro de casa, isso seria maus-tratos; não tinha como fechar a porta, trancar ou amarrar ela na cama, ela gostava de sair e andar pela cidade, não tinha o que eu pudesse fazer”, disse Cláudia. Maria Mirtes também viajava, de duas a três vezes por ano, com a caravana da igreja que frequentava.

A inquietude acompanhou a vida de Maria Mirtes desde sempre. Em Fortaleza, trabalhou dando aulas para crianças em fazendas e fazia bordado nas horas vagas. Em Campo Grande, não conseguiu seguir na profissão, encontrou emprego de cozinheira. Depois, “fazia de tudo um pouco” no Colégio Dom Bosco, conforme contou em entrevista dada ao Lado B, em 2022.

Cláudia é nascida e criada no Bairro Santa Carmélia e sempre morou com a mãe. “Ela era tudo para mim; quando dava 18h e eu via que minha mãe estava em casa, ficava feliz e aliviada, porque tinha dado tudo certo, ela era meu porto seguro, minha única família”, contou.

O velório começou ontem à noite e somente será encerrado às 14h30 para dar tempo de os vizinhos e amigos irem prestar a última homenagem. “Minha mãe era muito querida, toda hora vem alguém”, diz Cláudia. Uma missa será celebrada às 13h30 e o sepultamento será às 15h, no Bairro Santo Amaro.

Maria Mirtes em foto tirada em 2019, quando falou do trabalho no Centro (Foto/Arquivo)
Maria Mirtes em foto tirada em 2019, quando falou do trabalho no Centro (Foto/Arquivo)

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