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Capital

“Erro meu”: testemunha diz ter ouvido médico admitir que causou acidente

Presa às ferragens e chorando, motorista atingida dizia que não tinha culpa, segundo a jovem que a acalmava

Anahi Zurutuza | 26/06/2023 16:00
Carro da vítima logo após o acidente. (Foto: Reprodução dos autos da ação penal)
Carro da vítima logo após o acidente. (Foto: Reprodução dos autos da ação penal)

Em depoimento à polícia, o médico João Pedro da Silva Miranda Jorge, de 29 anos, preso na madrugada no dia 8 de junho por dirigir sob efeito de álcool após acidente e agora réu pelo crime de trânsito, disse que a motorista do Toyota Corolla, uma mulher de 28 anos, furou o sinal vermelho, provocando a colisão. Mas, no local da ocorrência, ele teria assumido a culpa, segundo testemunha.

Dois motoristas de aplicativo foram ouvidos pela Polícia Civil durante as investigações, um homem e uma mulher que passavam pelo entroncamento formado pelas avenidas Afonso Pena e Arquiteto Rubens Gil de Camilo e Rua Dr. Paulo Coelho Machado (antiga Furnas), em frente ao Shopping Campo Grande.

No depoimento, a mulher de 25 anos relatou que estava indo buscar passageiros em bar dos altos da Afonso Pena, por volta da meia-noite, quando percebeu de relance uma caminhonete em alta velocidade e logo ouviu a batida.

A motorista profissional, que havia acabado de passar pelo semáforo do cruzamento da Rubens Gil de Camilo com a Afonso Pena, fez retorno para voltar ao local do acidente e relata que viu quando o motorista da caminhonete VW Amarok, de cor prata, desceu do veículo aparentemente embriagado.

Croqui mostra (seta branca) local onde acidente aconteceu (Foto: Reprodução dos autos da ação penal_
Croqui mostra (seta branca) local onde acidente aconteceu (Foto: Reprodução dos autos da ação penal_

A moça diz então ter se aproximado do Corolla para acalmar a condutora que estava presa às ferragens e ficou com a vítima, que chorava muito, até a chegada do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).

A testemunha narrou ainda que em dado momento, João Pedro se aproximou e a motorista presa no carro começou a dizer: “A culpa não foi minha”. O motorista da caminhonete pediu para que ela se tranquilizasse: “Calma meu amor” e completou, admitindo a culpa: “O erro foi meu”.

A motorista de aplicativo afirmou à polícia que acreditava que o condutor da caminhonete é quem havia furado o semáforo vermelho, pois passou pelo sinal verde e sabe que quando o fluxo está liberado no cruzamento onde ela passava, o trânsito também fica livre no local pelo qual a vítima atravessava.

A hipótese da testemunha depois foi confirmada com imagens das câmeras de segurança do MPT (Ministério Público do Trabalho), na Paulo Coelho Machado, coletadas pela investigação.

Imagem de crime mostra por onde Corolla transitava e foto abaixo onde Amarock fez conversão antes de atingir o outro veículo. (Foto: Reprodução dos autos da ação penal)
Imagem de crime mostra por onde Corolla transitava e foto abaixo onde Amarock fez conversão antes de atingir o outro veículo. (Foto: Reprodução dos autos da ação penal)

Réu – O juiz da 5ª Vara Criminal Residual, Waldir Peixoto Barbosa, acatou denúncia do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) e tornou o médico réu no dia 20 de junho. É o terceiro processo que João Pedro da Silva Miranda Jorge responde pelo mesmo tipo de crime, sendo que em um deles houve morte.

A vítima, segundo o MP, ficará impossibilitada de andar por pelo menos 90 dias devido aos danos no quadril. “A ofendida foi socorrida por uma viatura do Samu, sendo levada para a Santa Casa de Campo Grande, onde foi constatado que sofreu duas fraturas no quadril, restando impossibilitada de andar por aproximadamente 90 (noventa dias), além de escoriações nas coxas, peito e rosto”.

Na denúncia, o MP lembra que já há outros dois casos semelhantes pelos quais o réu responde e pesa ainda contra João Pedro o fato de que, no dia do acidente, afirmou que a vítima teria ultrapassado o sinal vermelho, mas mentiu.

Na denúncia, solicita ainda o Ministério Público Estadual que a vítima seja indenizada em valor não menor que R$ 200 mil pelos danos materiais e morais, o que deve ser apreciado no decorrer do processo.

Reincidência - Em novembro de 2017, João Pedro passou embrigado e em alta velocidade pelo semáforo da Avenida Afonso Pena com a Rua Paulo Coelho Machado. O carro conduzido pela advogada Carolina Albuquerque Machado foi atingido e ela morreu. Em 2021, foi condenado a 2 anos e 7 meses no regime semiaberto por homicídio culposo.

Outro lado - Advogados de João Pedro alegam que os fatos ocorridos há cinco anos não têm ligação com a ocorrência recente.

Paulo Vinícius Macena Cardoso, que acompanhou o médico durante o interrogatório e audiência de custódia, ressaltou que o cliente “permaneceu no local do acidente, prestou socorro à vítima como manda a lei, colaborou com os policiais”. Afirmou ainda que João Pedro Miranda é homem idôneo e “não tem personalidade para o crime”.

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