“Erro meu”: testemunha diz ter ouvido médico admitir que causou acidente
Presa às ferragens e chorando, motorista atingida dizia que não tinha culpa, segundo a jovem que a acalmava
Em depoimento à polícia, o médico João Pedro da Silva Miranda Jorge, de 29 anos, preso na madrugada no dia 8 de junho por dirigir sob efeito de álcool após acidente e agora réu pelo crime de trânsito, disse que a motorista do Toyota Corolla, uma mulher de 28 anos, furou o sinal vermelho, provocando a colisão. Mas, no local da ocorrência, ele teria assumido a culpa, segundo testemunha.
Dois motoristas de aplicativo foram ouvidos pela Polícia Civil durante as investigações, um homem e uma mulher que passavam pelo entroncamento formado pelas avenidas Afonso Pena e Arquiteto Rubens Gil de Camilo e Rua Dr. Paulo Coelho Machado (antiga Furnas), em frente ao Shopping Campo Grande.
No depoimento, a mulher de 25 anos relatou que estava indo buscar passageiros em bar dos altos da Afonso Pena, por volta da meia-noite, quando percebeu de relance uma caminhonete em alta velocidade e logo ouviu a batida.
A motorista profissional, que havia acabado de passar pelo semáforo do cruzamento da Rubens Gil de Camilo com a Afonso Pena, fez retorno para voltar ao local do acidente e relata que viu quando o motorista da caminhonete VW Amarok, de cor prata, desceu do veículo aparentemente embriagado.
A moça diz então ter se aproximado do Corolla para acalmar a condutora que estava presa às ferragens e ficou com a vítima, que chorava muito, até a chegada do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).
A testemunha narrou ainda que em dado momento, João Pedro se aproximou e a motorista presa no carro começou a dizer: “A culpa não foi minha”. O motorista da caminhonete pediu para que ela se tranquilizasse: “Calma meu amor” e completou, admitindo a culpa: “O erro foi meu”.
A motorista de aplicativo afirmou à polícia que acreditava que o condutor da caminhonete é quem havia furado o semáforo vermelho, pois passou pelo sinal verde e sabe que quando o fluxo está liberado no cruzamento onde ela passava, o trânsito também fica livre no local pelo qual a vítima atravessava.
A hipótese da testemunha depois foi confirmada com imagens das câmeras de segurança do MPT (Ministério Público do Trabalho), na Paulo Coelho Machado, coletadas pela investigação.
Réu – O juiz da 5ª Vara Criminal Residual, Waldir Peixoto Barbosa, acatou denúncia do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) e tornou o médico réu no dia 20 de junho. É o terceiro processo que João Pedro da Silva Miranda Jorge responde pelo mesmo tipo de crime, sendo que em um deles houve morte.
A vítima, segundo o MP, ficará impossibilitada de andar por pelo menos 90 dias devido aos danos no quadril. “A ofendida foi socorrida por uma viatura do Samu, sendo levada para a Santa Casa de Campo Grande, onde foi constatado que sofreu duas fraturas no quadril, restando impossibilitada de andar por aproximadamente 90 (noventa dias), além de escoriações nas coxas, peito e rosto”.
Na denúncia, o MP lembra que já há outros dois casos semelhantes pelos quais o réu responde e pesa ainda contra João Pedro o fato de que, no dia do acidente, afirmou que a vítima teria ultrapassado o sinal vermelho, mas mentiu.
Na denúncia, solicita ainda o Ministério Público Estadual que a vítima seja indenizada em valor não menor que R$ 200 mil pelos danos materiais e morais, o que deve ser apreciado no decorrer do processo.
Reincidência - Em novembro de 2017, João Pedro passou embrigado e em alta velocidade pelo semáforo da Avenida Afonso Pena com a Rua Paulo Coelho Machado. O carro conduzido pela advogada Carolina Albuquerque Machado foi atingido e ela morreu. Em 2021, foi condenado a 2 anos e 7 meses no regime semiaberto por homicídio culposo.
Outro lado - Advogados de João Pedro alegam que os fatos ocorridos há cinco anos não têm ligação com a ocorrência recente.
Paulo Vinícius Macena Cardoso, que acompanhou o médico durante o interrogatório e audiência de custódia, ressaltou que o cliente “permaneceu no local do acidente, prestou socorro à vítima como manda a lei, colaborou com os policiais”. Afirmou ainda que João Pedro Miranda é homem idôneo e “não tem personalidade para o crime”.