Falta de funcionários cria caos inédito para empresários do setor da alimentação
Encontrar mão de obra qualificada é maior "dor" e nem bonificações e capacitações oferecidas não solucionam
A falta de interesse começa no dia da entrevista, quando apenas dois dos cinco candidatos agendados aparecem. No período de experiência vêm as faltas, atrasos e outros problemas relatados por empresários do setor de alimentação. Para donos de restaurantes e padarias da cidade funcionário virou “artigo de luxo” e essa falta ficou insustentável para quem atua no ramo. Muitas vezes, o salário comercial não satisfaz, mas há quem nem sequer escute o valor antes de desistir da vaga.
A falta de experiência deixou de ser um problema no currículo e a preferência hoje é encontrar gente comprometida. Edu Rejala administra cinco restaurantes na Capital e garante que candidatos com responsabilidade estão em escassez no mercado. “As pessoas não têm constância, responsabilidade, inventam desculpa, acontece a falta de mão de obra por falta de compromisso. É um giro eterno”, afirma.
Para tentar filtrar os candidatos, o empresário adotou a estratégia de divulgar as vagas em lugares específicos, como as próprias redes sociais. Mesmo assim, acontece com frequência de poucas pessoas comparecerem no dia marcado.
“Antigamente a gente marcava entrevista com intervalo de 30 minutos para cada e ficava a tarde toda esperando. A gente marca hoje por ordem de chegada e se marca cinco vão dois”, explica.
Mesmo com remuneração e estrutura boa para o trabalho são poucos os que passam do período de experiência. Para tentar manter bons funcionários, o empresário realiza capacitações internas para desenvolver as habilidades dos funcionários, seja ele com ou sem experiência anterior no setor. Essa alternativa, segundo ele, vem da máxima “contrate caráter e treine habilidade”.
Além do “giro eterno” de funcionários que não param na função, Edu cita que a falta de mão de obra qualificada impacta no andamento do negócio. “É a dor principal que inclusive bloqueia os empresários de expansão. Por exemplo, tem empresário que quer montar outro negócio e muitos não fazem devido a essa questão da famosa falta de mão de obra”, completa.
Há 1 ano, Cristiane Pereira está com três vagas em aberto no restaurante que administra, pois ninguém fica em nenhuma das funções. Na experiência dela, funcionário virou “artigo de luxo” na cidade. Ela fala que no processo seletivo a falta de experiência na área não é fator de corte e mesmo assim existe dificuldade de encontrar empregador. “Estamos buscando por alguém que queira trabalhar, o restante ensinamos. Mas mesmo assim não encontramos e os poucos que aparecem não levam a sério”, comenta.
Na rotina de trabalho a ausência de empregados atrapalha na demanda de pedidos e também no crescimento do negócio. “Temos que aumentar o tempo de entrega porque estamos com poucos funcionários na cozinha. Empresário acaba fazendo de tudo um pouco para poder suprir a demanda”, relata.
Dono de dois restaurantes na Capital, Alex Elias Mendes expõe que antes não existia a dificuldade de encontrar pessoas para trabalharem no setor, porém o cenário mudou. Para tentar entender o porquê disso, ele adotou estratégias como dedicar algumas horas no recrutamento e criar programas de bonificações.
A alternativa tem dado certo e o empresário tem conseguido encontrar pessoas com menos dificuldade. Ao elevar as bonificações, Alex diz que também ficou mais exigente com os candidatos. “Foi o meio que encontrei para achar a pessoa certa e tem dado certo”, garante.
Ainda assim, como no exemplo dos outros dois colegas de setor, o empresário leva muito “bolo” em dia de entrevista. “Acontece de marcar entrevistas e muitas pessoas não vão. Tem pessoas que querem emprego e não trabalhar. [...] Essa questão das gerações acaba influenciando bastante”, esclarece.
A geração Z, conforme ele, é uma que tem pessoas competentes, porém exige outro ritmo. “É uma geração que você tem que ter uma atenção maior, explicar, se aproximar mais da pessoa, tem pessoas competentes, mas demanda mais atenção”, frisa.
Consultoria - Andrea Diniz presta consultoria para empresários do setor de alimentação. Formada em confeitaria e gastronomia, ela tem 23 anos de experiência na área e há 12 anos é consultora. A profissional expõe que o principal problema está no comprometimento dos candidatos.
“As empresas têm investido em treinamento, em consultorias, mas o comprometimento das pessoas não existe. Eu como professora, como consultora e confeiteira, tenho me sentido frustrada”, diz.
O trabalho na cozinha, segundo ela, é árduo e por essa razão a dedicação é primordial. Por menor que seja a quantidade de vagas, Andrea ressalta que é complicado preencher. “Só hoje nas consultorias que tenho feito a necessidade é de umas 10 pessoas e não encontra. Quando encontra as pessoas não tem compromisso nenhum”, pontua.
O déficit de mão de obra no setor da alimentação é de aproximadamente 20%, segundo dados do Sindha/ MS (Sindicato Empresarial de Hospedagem e Alimentação). Para auxiliar os empresários a minimizar os impactos dessa situação, o Sindha MS adotou medidas que envolvem parcerias com órgãos governamentais e entidades parceiras.
Programas de qualificação - O déficit de mão de obra no setor da alimentação é de aproximadamente 20%, segundo dados do Sindha/ MS (Sindicato Empresarial de Hospedagem e Alimentação). Para auxiliar os empresários a reduzir os efeitos deixado por esses números, o Sindha MS adotou medidas que envolvem parcerias com órgãos governamentais e entidades parceiras.
O resultado disso são os programas "MS Qualifica Bares e Restaurantes” do Governo do Estado, em parceria com o Sistema S, que está qualificando os trabalhadores a atuarem no setor, seja nas cozinhas, no atendimento ao cliente, no setor administrativo. O objetivo do programa é formar profissionais que estejam aptos a atuar em bares, restaurantes, hotéis e outros meios de hospedagem.
Em parceria com o Senac MS, o sindicato oferece a “Rede de Talentos Senac”, que é uma plataforma de empregos em que candidatos e recrutadores se encontram. Outra finalidade da plataforma é divulgar a mão de obra de alunos egressos do Senac que buscam por oportunidades e as vagas disponibilizadas por empresas parceiras.
Além disso, a entidade participa de eventos de empregabilidade, como os organizados pelo Comando Militar do Oeste, que oferece oportunidades de capacitação e ofertas de emprego aos militares que deixam o serviço ativo do exército. Além de divulgar vagas no mural de Empregos dentro do site do Benefício Social Familiar, que é utilizado pelos empresários.
No momento, o Senac está com os cursos de Higiene e Manipulação de Alimentos, Bolos, Recheios e Coberturas, Cozinha Árabe, Preparo de Risotos, Multiplicadores em Higiene de Alimentos, Bolos Caseiros, Cozinha Italiana, Sommelier: vinhos, Preparo de Pães Funcionais e Integrais e Cozinheiro. As oportunidades são para a Capital e interior. As vagas podem ser consultadas diretamente no site
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