Famílias transferidas de favela se dizem esquecidas pela Prefeitura
Das quatro áreas, apenas uma tem obras em andamento
Das quatro áreas para onde foram transferidas as famílias da favela Cidade de Deus, três foram “esquecidas” pela Prefeitura de Campo Grande, conforme os moradores. Iniciado no dia 11 de março, o Mutirão Assistido, que tem o objetivo de construir as casas para essas pessoas, está em atividade apenas no Vespasiano Martins, enquanto no Canguru, Teruel e Bom Retiro as famílias contempladas não têm nem mesmo uma previsão para que as obras comecem e elas possam deixar de morar em barracos de madeira e lona.
De acordo com a dona de casa e moradora da área no Canguru, Edivânia de Souza Pereira, 29, se fosse para viver nessa situação, seria melhor deixar as famílias na Cidade de Deus. “O prefeito nunca veio aqui, como foi em outras áreas. Não temos previsão para nada. Não sabemos de nada e nem quando começam as obras das nossas casas. Daqui a pouco vamos começar a pagar pelo terreno e continuamos nos barracos”, lamenta.
Já na área nomeada como Teruel, que fica exatamente ao lado de onde estava instalada a favela Cidade de Deus, cinco casas começaram a ser erguidas, mas as obras estão paradas há quase dois meses por falta de material, conforme os moradores.
“Não temos mais material. Começamos a construir e não chega mais. Além disso, a gente estava construindo tudo sozinhos, não tinha ninguém da prefeitura ajudando, como tem no Vespasiano Martins. Aqui só vem o mestre de obras e uns estagiários que ajudam nas medições, mas colocar a mão na massa só os moradores mesmo. Não vem material desde março”, afirma o tratorista Afonso Dias, 42.
Por essa “prioridade” ao Vespasiano Martins, vários moradores das outras áreas se sentem esquecidos pela administração municipal. “Tudo bem que eles foram os primeiros a serem transferidos da favela, mas só eles tem ajuda e vão construir as casas? Esqueceram a gente aqui?”, reclama a dona de casa Maria Madalena Rodrigues de Paula, 42.
Na área mais distante das outras, no Bom Retiro, a situação não é diferente. Não há nenhuma previsão para o início das obras das casas. “Falaram que a gente ia sair para um lugar melhor e com casas, mas até agora nem vieram medir nossos terrenos. Estamos ainda mais esquecidos, pois estamos longe de tudo”, disse a técnica em enfermagem Angélica Patrícia Barbosa, 21.
A moradora lembra que a previsão de começar a pagar os terrenos e as casas é em novembro. “Vamos pagar por um barraco? Já ficamos vivendo em barracos por três anos na favela e agora vão esperar mais três anos?”, completou Angélica.
Além da demora para o início das obras, as famílias de todas as quatro áreas tem reclamações da infraestrutura dos bairros para onde se mudaram. A primeira reclamação da lista sempre é falta de vaga em Ceinfs (Centro de Educação Infantil). “As mães não podem trabalhar, pois ficam em casa cuidando das crianças pequenas. Você vê muita criança pequena solta por ai”, disse o pedreiro Wellington Ferreira Lopes, 26, morador do Bom Retiro.
Procurada pelo Campo Grande News, a prefeitura não respondeu as perguntas sobre prazos para início das obras nas outras áreas, além do Vespasiano Martins, e sobre a falta de material de construção.