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Capital

Fiel ao PCC, "Irmão Articulador" optou por matar amigo de infância a tiros

Márcio Douglas Pereira Rodrigues está sendo julgado hoje pela morte de Gean Blendão; réu nega autoria

Silvia Frias e Bruna Marques | 26/05/2022 10:58
Juiz não permitiu fotos do réu durante julgamento hoje, em Campo Grande. (Foto: Henrique Kawaminami)
Juiz não permitiu fotos do réu durante julgamento hoje, em Campo Grande. (Foto: Henrique Kawaminami)

O auxiliar de técnico de eletrônica, Márcio Douglas Pereira Rodrigues, 25 anos, está sendo julgado hoje por matar com dois tiros na cabeça Gean Blendão Pereira Rodrigues, em 2018. Apesar de sobrenomes idênticos, não eram parentes, porém, amigos de infância. A investigação aponta que o réu preferiu obedecer ao PCC (Primeiro Comando da Capital) a perdoar, executando o rapaz por suposto vínculo com a facção rival, o CV (Comando Vermelho).

Márcio Douglas, também conhecido como “Irmão Articulador” ou “Cone”, está sendo julgado por homicídio qualificado por motivação torpe e sem chance de defesa da vítima, além de cárcere privado, por crime ocorrido no dia 5 de junho de 2018.

No laudo, trajetória das balas que mataram Gean. (Foto: Reprodução)
No laudo, trajetória das balas que mataram Gean. (Foto: Reprodução)

De acordo com a denúncia ofertada em novembro de 2020 pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), o crime aconteceu em plena luz do dia, às 10h40. Aponta que a vítima foi mantida em cárcere e sentenciada no Tribunal do Crime. Com mãos e pés amarrados, foi jogado às margens da MS-225, na zona rural de Campo Grande e executado com dois tiros na cabeça.

Preso dias depois do assassinato, Márcio Douglas confessou o crime à polícia. No julgamento hoje, porém, mudou a versão apresentada em depoimento à Polícia Civil e disse que foi coagido a confessar mediante dois dias de tortura.

Denúncia - A investigação apurou que Gean e Márcio, ambos com 21 anos à época do crime, eram amigos de infância. A vítima procurou o outro para esclarecer que não pertencia ao CV, como estava correndo na região. Além de amigo, Márcio também teria papel importante na estrutura do PCC e, por isso, seria peça fundamental para inocentar o amigo.

Gean Blendão foi morto aos 21 anos, suspeito de integrar o Comando Vermelho. (Foto: Arquivo)
Gean Blendão foi morto aos 21 anos, suspeito de integrar o Comando Vermelho. (Foto: Arquivo)

No depoimento prestado na fase de investigação, Márcio Douglas explicou sua função na facção. Disse que era responsável por descobrir crimes cometidos na região sul de Campo Grande sem o aval do PCC. Sua área de atuação eram os bairros Moreninhas, Dom Antônio Barbosa, Aero Rancho e Parati, chegando até a Nhanhá, Taquarussu e Caiobá.

Pela importância do amigo, Gean o procurou para esclarecer que não era do CV. Os dois teriam conversado no banco de trás de carro de aplicativo, conduzido por homem chamado Brasília, contratado somente para a corrida. “Irmão Articulador” pegou o celular do rapaz e disse ter visto conversas entre ele e integrantes da facção rival.

Juiz Carlos Alberto Garcete, durante depoimento do réu. (Foto: Henrique Kawaminami)
Juiz Carlos Alberto Garcete, durante depoimento do réu. (Foto: Henrique Kawaminami)

Por causa disso, Gean foi levado em cárcere e submetido a julgamento, sendo determinada a execução. Amarrado, foi levado no carro de aplicativo até a rodovia, jogado e morto a tiros. Márcio Douglas ficou com o celular da vítima, mas percebeu no caminho de volta que havia perdido o próprio aparelho. Quis voltar, mas Brasília se recusou.

“Nada tinha contra Gean, pelo contrário, era seu amigo de infância, porém, foi obrigado a executar Gean por ele ser simpatizante da facção rival do PCC”, consta no relatório da Polícia Civil.

Tortura – Hoje, Douglas Márcio prestou novo depoimento, desta vez, durante seu julgamento. O juiz da 1ª Vara do Tribunal do Júri, Carlos Alberto Garcete, não permitiu fotos do réu.

O rapaz negou qualquer participação no crime. Diz que foi preso um dia antes do crime por equipe do Batalhão de Choque para confessar outra morte. “No dia seguinte, chegou equipe do GOI, do doutor aí”, disse, indicado em direção ao delegado Gustavo Bueno, responsável pela investigação. “Ficaram me interrogando, me batendo”, alegou. Contou que queriam que assumisse cinco homicídios, mas resolveu confessar a morte de Gean, pois “não estava aguentando apanhar”.

Ainda em depoimento ao juiz, disse que foi apontado como mandante do crime por informantes da região onde atuava. “Na quebrada da Caiobá, vendia droga e usava, era cara chato, gostava de droga que tinha de melhor na região, rapaziada não gostava de mim.”

Ao final do depoimento, complementou: “É isso, vou ser simples e objetivo nas minhas palavras aqui. Não tenho nada a ver com esse homicídio aqui, vou pagar pelo crime que eu fiz, que foi o homicídio do Ge...". Aqui, Márcio Douglas se corrige e complementa: "do Maikel”, referindo-se a outro processo que responde por homicídio.

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