“Imagina não poder se despedir”: o ano em que a covid tornou o adeus mais triste
A severidade dos protocolos e o adeus à distância levam a reflexões no Dia de Finados
Assolado pela pandemia do novo coronavírus, 2020 mudou o jeito de se despedir de quem partiu vítima da doença. A severidade dos protocolos e o adeus à distância levam a reflexões sobre como um momento triste pode se tornar ainda mais difícil.
“Sabemos que vamos partir. Mas não queria que fosse dessa forma. Tem muita gente morrendo dessa doença. Imagina você não poder se despedir e nem ver alguém que você ama. A morte é muito triste nessa situação”, afirma a assistente administrativo Silmara Maris Rodrigues, 50 anos.
Em companhia da irmã e de uma amiga, ela chegou às 8h ao cemitério Santo Amaro, em Campo Grande, para visitar o túmulo do sogro, que morreu há 14 anos. “Venho pela gratidão que tenho por ele. Tem gente que recentemente perdeu pessoas, muita gente sofrendo pelas perdas. É preciso trazer velas, corações abertos e uma linda oração”, diz. A covid-19 matou 683 pessoas em Campo Grande neste ano.

A passagem pelo cemitério também é compromisso para Alzenir Cabral, 43 anos. Ela visita o túmulo do pai, que morreu há nove anos, levado por um câncer. “Ele era o meu melhor amigo, uma pessoa muito alegre. Lembro da infância, de um tempo que vivíamos felizes”, afirma.
O ano de 2020 foi especialmente difícil para o tenente-coronel da PM (Polícia Militar), Mário Ângelo Ajala, que perdeu dois primos com diferença de nove meses. Sebastião partiu em janeiro, vítima de insuficiência renal, e o major André Irala faleceu em outubro, num acidente de trânsito.
“Passa um filme na minha cabeça. Fomos criados juntos, lembro de quando jogávamos bola e hoje não temos mais isso. São pessoas que amamos e estão eternamente no nossos corações”, diz.

Ao lado da esposa, Mário também visita os túmulos dos sogros neste Dia de Finados. Contudo, o casal vai ao cemitério Santo Amaro todos os meses. Ontem, eles passaram pelo cemitério Santo Antônio, onde estão sepultados os pais do oficial.
“A morte é um procedimento natural da vida. Se você fez o bem, será recebido muito bem diante do Pai. O medo é o que nos mata. A prevenção é tudo que podemos fazer”, diz Mário, sobre esses tempos de covid-19.