Instalador de ar-condicionado é "artigo de luxo", com direito à fila de espera
Tem empresa que só consegue agendar cliente para o dia 20; o que não faltam são apelos aos atendentes
De pressão à idade, os apelos que os atendentes têm ouvido dos clientes reflete o calor dos 40°C que Campo Grande tem sentido. Quem liga e consegue ser atendido pelo telefone das empresas de instalação de ar condicionado, suplica por misericórdia, que nada mais é do que uma data, de preferência entre hoje e amanhã, para instalar ou arrumar o ar condicionado.
Desde que os termômetros começaram a beirar os 40ºC, instalador de ar virou artigo de luxo e motivo de disputa. Há quem tente até suborno na hora de conseguir um agendamento.
"Só tenho para depois do dia 20". Essa foi a resposta que a gente teve ao ligar em uma das empresas. A proprietária, Mayra Oliveira, fala que não adianta chorar. "Ontem aconteceu de quererem pagar o triplo, acredita? Mas eu não faço isso não", garante.
Há cinco anos no ramo, ela recorda que a agenda fica concorrida nessa época, mas este ano teve um agravante: quem não tinha ar condicionado resolveu colocar, isso porque o verão mesmo nem deu às caras. "Quando chegar o verão, o povo vai ficar louco. Haja rede elétrica para tanto ar condicionado", brinca.
Das quatro equipes que a empresa tem, os agendamentos começam 8h da manhã e seguem o horário comercial. "Eu não prego tanto a quantidade, e sim a qualidade. Trabalhamos só com agendamento e calculamos o tempo prévio de atendimento para cada instalação ou manutenção" explica.
Outro fator que ela também tem percebido é que a correria desesperada pelo ar tem levado muita gente a contratar empresas não tão experientes. "Entra muita gente no mercado que não sabe o que está fazendo. Semana passada refizemos quatro instalações, temos pego também muita máquina nova, de quatro, cinco meses que já está estragada", alerta.
Nos grupos de WhatsApp, ultimamente o que mais se pergunta é: "vocês indicam quem instale ar condicionado"? Dentre as indicações, o contato do Cristian aparece como "Cristian faz tudo".
O nome dele mesmo é Cristian Lima, que há 15 anos trabalha no ramo de instalação de ar condicionado e acabou agregando outros serviços pela demanda, mas voltando ao ar.... "Quantas ligações eu recebo? Não dá nem para calcular. Muita gente querendo instalar, arrumar, limpar, até comprar, o pessoal também acha que trabalho com venda", explica.
Sobre as altas temperaturas e a demanda, ele diz que ontem mesmo comentava sobre isso. "Eu não lembrava de outra época que tivesse feito esse calor que está fazendo agora. A cada dia aparecem três novos clientes", ressalta.
E muitos dos chamados que ele tem recebido é de gente reclamando que o ar "não está dando conta". "E eu chego lá e não é problema no ar, é a temperatura mesmo, externa, temperatura corporal, incidência solar na casa", justifica.
Na sorte, Cristian poderia me atender, se cliente fosse, na quinta-feira. "Mas olha, eu já cheguei a passar quatro clientes para um colega porque não dei conta".
Em outro contato, o rapaz chamado Diego confirma na ligação que é sim instalador e que inclusive está instalando um agora, por isso pede para a gente ligar na hora do almoço que ele vai ver na agenda.
Em outra empresa, a gerente Kelly Santos quem atende e já responde que para data, precisa olhar na agenda para ver se consegue um "encaixe", isso porque ali a temporada é de hora extra para dar conta de tantos pedidos. "Tem muita procura, a gente também vende ar e faz higienização, então os clientes ligam e falam: preciso que mande alguém hoje", reproduz.
Como a agenda do dia está lotada, às vezes ela consegue o milagre de um encaixe no dia seguinte. "E se você ligar em outras empresas de refrigeração, estão super lotadas, a cidade inteira está assim", compartilha.
Os apelos que ela têm ouvido vão desde choro à pressão alta ou baixa e idosos. "Dependendo da situação, o cliente fala que pode passar um pouquinho do horário, aí a gente consegue atender esses casos urgentes e vamos dando um jeitinho, ainda mais quando é idoso, porque neste calorzão, está complicado".
No ar condicionado, o meteorologista Natálio Abrahão, fala que a temperatura na sala é de 21°C, e que o aparelho só deve trabalhar menos lá por fevereiro, quando começarem as chuvas regulares.
"Só depois que as primeiras áreas de instabilidade começarem a se formar numa frequência maior, principalmente nas tardes, vai haver nuvem que provoca sombra e chuva rápida que vai amenizar a temperatura, mas só quando as chuvas regulares começarem", enfatiza o meteorologista.
Até lá, o calor não vai dar trégua, nem o ar condicionado. O que deve acontecer é as temperaturas baixarem um pouquinho, dos 40°C para 36, 34 e 33ºC. "E isso só vai acontecer em meados de novembro para frente..."
Sobre a pergunta, de estar no ar condicionado ou não, Natálio brinca que não tem condições. "Num ambiente interno, dentro de casa, por exemplo, aqui está marcando 32,2°C, lá fora 34°C".
E para quem está na fila de instalação de ar, o recado dele é para não desistir. "Você vai usar o ar em outubro, novembro, dezembro, janeiro e até fevereiro. Vale à pena. Os últimos 15 dias foram os mais quentes da história de Mato Grosso do Sul", finaliza.
