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Capital

Instituto cria projeto para derrubar barreiras na contratação de cegos

Objetivo é estimular empresários a contratar os profissionais e desmistificar preconceitos

Por Natália Olliver e Clara Farias | 23/05/2024 11:29
Empresas e candidatos participam de palestra sobre oportunidades de trabalho para os cegos (Foto: Clara Farias)
Empresas e candidatos participam de palestra sobre oportunidades de trabalho para os cegos (Foto: Clara Farias)

Para tentar eliminar as barreiras que separam pessoas cegas do mercado de trabalho, o ISMAC (Instituto sul-mato-grossense para Cegos Florivaldo Vargas), realizou na manhã desta quinta-feira (23), uma palestra com donos de empresas de Campo Grande. O intuito é mostrar aos proprietários que é benéfico contratar pessoas cegas e, ao contrário do que muitos acreditam, para isso, não há necessidade da reformar todo o estabelecimento.

Quem ministrou a apresentação foi Marcus Aurélio de Carvalho, coordenador nacional do Programa ‘Agora Brasil de Inclusão Profissional para Pessoas com Deficiência’ e Alberto Pereira, presidente da ONCB (Organização Nacional de Cegos do Brasil).

A vice-presidente do Ismac, Astrogilda Maria José, 62 anos, enfatiza que o Instituto quer tentar desmistificar o que ela categoriza como ‘desconhecimento’, sobre adaptar todo o local para receber o funcionário cego.

“Nós temos profissionais aqui, qualificados, nas mais diversas áreas. Profissionais de recursos humanos, pedagogos, historiadores, jornalistas. Essa é a primeira palestra que temos depois da pandemia. Queremos tentar desmistificar que para contratar uma pessoa com deficiência, teria que arrumar a empresa, adaptar tudo. Isso é desconhecimento”.

Crítica - Para ela, apesar de algumas empresas contratarem pessoas cegas, a maioria das oportunidades são operacionais, o que limita a participação, uma vez que existem pessoas formadas em diversas profissões. “As vagas normalmente oferecidas para as pessoas com deficiência são para área operacional, mas nós podemos desempenhar todas as áreas conforme a qualificação”.

Alberto Pereira, presidente da Organização Nacional de Cegos do Brasil (Foto: Clara Farias)
Alberto Pereira, presidente da Organização Nacional de Cegos do Brasil (Foto: Clara Farias)

Para ilustrar o debate, que também contempla os PCDs (pessoas com deficiência), nesta quinta-feira, a Funtrab (Fundação de Trabalho de Mato Grosso do Sul) oferece 59 vagas para categoria, entre elas, as com mais oportunidades são: auxiliar de linha de produção (15), trabalhadores de conservação de rodovias (10), assistente administrativo (7) auxiliar de limpeza(6) e servente de limpeza (5).

O Presidente da ONCB, Alberto Pereira acrescentou que é preciso tirar a lei de inclusão do papel e conscientizar empresas. “No Brasil são 19 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência e 7 milhões de pessoas cegas. Quando falamos de empregabilidade, menos de 500 mil pessoas com deficiência estão empregadas. Ao pensar nas pessoas cegas empregadas, esse número se reduz ainda mais”.

Apesar de trazer dados nacionais, o representante não informou qual é o quantitativo de pessoas cegas desempregadas em Mato Grosso do Sul ou em Campo Grande.

“As empresas ainda possuem uma cultura de preferir aquelas pessoas que sejam ‘menos deficientes’, aquelas que têm deficiência leve com o estigma de que a pessoa com outro tipo de deficiência não conseguiria desempenhar as funções. Pessoas cegas e com deficiência física são menos contratadas ainda”, finaliza.

 Josiane Pereira dos Santos, estudante e tesoureira do Ismac, em Campo Grande (Foto: Clara Farias)
 Josiane Pereira dos Santos, estudante e tesoureira do Ismac, em Campo Grande (Foto: Clara Farias)

Experiência - Josiane Pereira dos Santos, de 40 anos, estudante de administração pública na UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul). Ela já foi atendida pelo Ismac e hoje atua como segunda tesoureira do instituto.

“Estamos aqui para mostrar o potencial da pessoa com deficiência visual. Muitas vezes as empresas nem chegam a contratar devido as barreiras do preconceito. A principal é a “atitudenal”, que é esse primeiro contato que eles têm com alguém com deficiência e já se perguntam: “como eu vou admitir uma pessoa cega?”. Precisamos quebrar essas  barreiras”.

Ela explica que já foi atendida no Ismac quando perdeu a visão em 2013. A estudante saiu de Camapuã em busca de reabilitação. “Aqui a gente atende mais de 500 pessoas, a nível estadual. Temos muitos atendidos do interior, assim como eu. Aqui tem oftalmologista, braille, apoio pedagógico, gráfica braille, atletas de alto rendimento”.

“É a primeira vez aqui, fiquei bem surpreendida. É um trabalho de inclusão maravilhoso que estão fazendo por aqui. Eles dão acolhimento à pessoa, dão oportunidade de se inserir no mercado de trabalho e na sociedade. Promovem a autoestima e a autossuficiência da pessoa com deficiência. É muito importante para dar acesso a essas pessoas”.

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