Lembrança inconsolável: mãe “mora” em cemitério após tragédia na BR-163
“É o trem mais perigoso que tem”. A definição de Terezinha Alves de Lima, 69 anos, para a BR-163, vem acompanhada de revolta, saudade e uma lembrança inconsolável. Um trágico acidente a deixou presa ao dia 6 de julho de 2012. Bastaram quinze minutos.
O filho e a nora saíram de Bandeirantes às 18h com destino a São Gabriel do Oeste, cidade vizinha. Pouco depois, avisada do acidente, Terezinha se viu na BR em meio a um pesadelo: a cabeça da nora no asfalto, o corpo degolado preso ao cinto, e o filho arremessado, já sem vida, na Rodovia da Morte.
“Eu queria ir, quem sabe ter morrido era melhor”, diz a senhora. Por vezes em lágrimas, por vezes incrédula, ela conta que insistiu para ir junto com o casal. A mala para ir visitar a filha, que mora em São Gabriel e fazia aniversário, estava pronta, mas o filho, dessa vez, não quis que a mãe fosse.
Gerson Alves de Lima, 42 anos, e Elizete de Lima, 32, estavam em um Corsa. Não ficou esclarecido como ocorreu o acidente, somente que houve envolvimento de uma caminhonete. O casal ia a São Gabriel para buscar a única filha. “Queria ter uma bolinha de cristal. Saber o que aconteceu com o meu guri”.
Após a tragédia, Terezinha passou dois meses sem percepção da realidade. O mundo real só voltou a fazer parte do cotidiano quando constatou que o marido, com quem está casada há 50 anos, não tinha mais roupa limpa para vestir.
Na vastidão da dor, passou a viver no cemitério. Dia sim e no outro também, lá está ela em frente ao túmulo do casal. Como a sonhada aposentadoria não chegou a tempo de ajudar na chácara do filho, decidiu usar o dinheiro tardio para erigir uma capela no cemitério de Bandeirantes. Foram R$ 10 mil e todo amor de mãe para fazer com esmero a última morada do filho.
Com porta e janelas de vidros, a capela de alvenaria tem banner, desenhos da neta e vinte vasos de flores. Terezinha diz que agora só falta terminar a calçada. Mas a dor, segue sem previsão de fim. Na cidade, sabe até que ganhou fama de doida, por ser vista conversando com os mortos. “Minha vida é essa aqui e aqui cada um tem sua história”, desabafa, em meio aos túmulos.
A entrevista com dona Terezinha termina às 12h. O sol é forte, mas ela reluta e recusa carona de volta para a casa. Enquanto a maioria se preocupa com o almoço, Terezinha volta, sozinha, para o cemitério.