Mãe doa órgãos de filho, mas de corpo crivado de balas, só córnea será extraída
Fabíola Baez tentou impedir, mas atiradores invadiram casa e descarregaram armas em Rogério
Fabíola Baez não conseguiu evitar que o filho, Rogério Baez Fernandes se tornasse mais uma vítima da violência com a qual ela teve de aprender a conviver de perto, desde que deixou o campo para viver na periferia de Campo Grande. Aos 19 anos, o jovem foi executado por dois homens armados, que não tiveram a mínima compaixão da mãe desesperada, que se atreveu a puxá-los pela camisa na tentativa de impedir que a morte chegasse para o seu menino.
Horas depois do crime, a cena aterrorizante se repete na mente de Fabíola. “Invadiram minha casa, entraram dois caras. Eu segurei eles pela blusa. Pedi, implorei”, conta, se lembrando do gesto que a dupla fez, o “não” com a cabeça.
Sem conseguir segurar os dois homens, a mãe conta que só ouviu os tiros. “Entraram lá e mataram”, descreve e emenda com uma reflexão, sem esconder a emoção: “Ele não era bandido, era usuário. Só que ele devia os caras. O ser humano hoje e a droga estão acabando com as famílias”.
Fabíola recebeu em casa a equipe da Santa Casa responsável pelo trabalho de convencimento das famílias sobre doar órgãos e aceitou fazer a doação. “Acabei de doar as córneas, é um jeito de mantê-lo vivo”, explicou a mãe.
Violência sem tamanho – O Campo Grande News apurou que por conta da quantidade de tiros que Rogério levou, só uma córnea será aproveitada.
“Não sabemos precisar ainda a quantidade de perfurações tendo em vista que foram disparos realizados de duas armas distintas, uma .40 e uma 9 mm”, explicou o delegado Regis Daniel de Almeida Gonçalves, da 3ª DP (Delegacia de Polícia), que ficará responsável pelo caso.
Conforme testemunhas, a maior parte dos tiros foram disparados contra a cabeça da vítima, mas o delegado afirmou que Rogério foi ferido em várias partes do corpo.
O rapaz estava sentado na cama da mãe, com um prato de comida na mão quando sofreu o atentado. “Ouvi pelo menos 10 tiros”, afirmou uma vizinha, que por medo, pediu para não ter nenhum detalhe sobre a sua identidade revelado.
Essa testemunha conta que após ouvir os disparos foi até a rua e chegou a ver dois homens saírem da residência da vítima. Em seguida, o VW Gol preto e uma motocicleta passaram pela via em alta velocidade.
Logo após o assassinato, o boato na vizinhança já era de o estupro de uma menina de 4 anos teria motivado o crime. Ao Campo Grande News, a família da vítima negou que ele tivesse feito mal à filha da namorada e a delegada Anne Karine Sanches Trevizan, da Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente), responsável por apurar a denúncia de estupro de vulnerável, afirmou que “não houve abuso” e o caso, portanto, deve ser arquivado.
A casa onde aconteceu a morte fica na Rua da Conquista a uma quadra do Complexo Penal de Campo Grande – onde estão o Estabelecimento Penal Jair Ferreira de Carvalho (a "Máxima") e o IPCG (Instituto Penal de Campo Grande), por exemplo.