Menino morto após recusa do Samu sofreu choque anafilático, diz laudo
O exame que apurou a causa da morte de Heber Caio Ribeiro, de 8 anos, ocorrida na madrugada de ontem (7), apontou que ele morreu em decorrência de um choque anafilático. O sepultamento do menino foi realizado na manhã deste sábado (8) no Cemitério Santo Amaro, em Campo Grande.
Familiares e amigos dos pais de Heber acompanharam o cortejo e o momento de maior atenção foi a retirada do caixão branco do carro da funerária. Em meio às lágrimas, Robson Silva Ribeiro, 38 anos, falou sobre a indignação em relação ao descaso do poder público.
“Eles falaram que o caso do meu filho não era grave, e agora tá aí, ele está morto e enterrado”, desabafa Robson. O caso ganhou repercussão porque a família afirma que o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) negou atendimento por falta de ambulância e por não julgar o caso como situação grave.
O corpo de Heber foi liberado pelo Imol (Instituto Médico e Odontológico Legal) por volta das 15h30 de ontem. O resultado, segundo a família, só confirmou a suspeita de todos. “No documento está que foi choque anafilático, foi a reação alérgica ao medicamento”, diz o pai.
Irmão da mãe de Heber, que tem outros sete filhos, Luiz Gouvêa, 43, estava com a irmã durante a madrugada e também fez uma das ligações ao serviço de urgência. “Eles falaram que não tinha viatura e que não era grave, desesperado, eu liguei para o 190 e me passaram para o Corpo de Bombeiros. Eles também disseram que não tinham viatura”, afirma o tio da criança.
A família só conseguiu levar Heber ao Centro de Saúde do Bairro Tiradentes por volta das 5 horas da manhã com ajuda de vizinhos, mas o menino já chegou morto no posto. Para a família que precisou da ajuda de amigos para custear o velório do menino, resta a indignação e a revolta.
“Eu trabalho há 20 anos como segurança em boates e vejo todo dia eles [Samu e bombeiros] buscando bêbado em porta de casa de show e patricinha com o pé cortado no vidro, dessa vez foi meu filho e ninguém prestou socorro”, diz Robson.
Todo o caso foi registrado como morte a esclarecer na 4ª delegacia de polícia da Capital e segue em investigação. O Samu e o Corpo de Bombeiros abriram sindicâncias para apurar o atendimento e as gravações das ligações serão analisadas.
O caso – Na terça-feira de Carnaval (4), Heber torceu o joelho esquerdo jogando bola com os irmãos no quintal de casa no bairro Vivendas do Parque, em Campo Grande. Além de Heber, Robson tem mais sete filhos.
Alegando não ter condições de levar o menino ao médico, o pai contou que a mãe partiu a metade de um comprido Torsilax - combinação de relaxante muscular, anti-inflamatório e analgésico - e deu para a criança. Por conta disso, no dia seguinte o menino amanheceu com uma reação alérgica ao medicamento, teve calombos roxos pelo corpo e inchaço na lesão da torção.