Meninos encontrados comendo ração eram “quietinhos e tristes", diz babá
Meninos de 4 e 8 anos ficavam trancados em casa pelos pais, com fome, no Jardim Canguru
“Quietinhos e tristes”, os dois meninos de 4 e 8 anos quase não falavam com a babá, de 36 anos. A apatia só dava lugar ao desespero na hora do almoço, quando o menor deles comia até com a mão. A mulher só entendeu o comportamento quando soube depois que eles eram vítimas de maus-tratos pelos pais e chegavam a comer ração em casa para matar a fome.
O caso foi descoberto na sexta-feira (29), após denúncia de vizinhos da família, no apartamento localizado no Jardim Canguru. Os pais dos meninos foram presos em flagrante e as crianças ficaram sob responsabilidade do Conselho Tutelar. Para a babá, o pai dos meninos contou, em tom de brincadeira, que um deles comeu ração, como se fosse uma "arte" da criança.
A babá contou ao Campo Grande News que cuidou das crianças por dois meses no ano passado, mas interrompeu o serviço depois que parou de receber. Há um mês, retomou o atendimento, recebendo as crianças em casa, também no Jardim Canguru.
De segunda a sexta, o pai os deixava no local às 9h e buscava às 18h30. A mulher levava o mais velho à escola e ficava com o menor. Todas as conversas da babá eram tratadas com ele, homem de 36 anos.
A mulher reparou que eles estavam sempre sujos. “Eles eram bem quietinhos e tristes, só falavam o básico e olhe lá, nem para ir ao banheiro ele pediam e, por isso, faziam xixi na roupa”, disse a babá, em entrevista ao Campo Grande News. A identidade dela não será revelada para preservar as crianças.
As crianças mudavam o comportamento apenas para comer. “Eles comiam mais que o normal, sempre comiam muito; quando eu perguntava se eles tinham jantado, não falavam nada, apenas se olhavam”, relembrou.
Na primeira semana que os meninos foram para a casa da mulher, estavam com diarreia. O homem respondeu que os filhos haviam comido ração e colocou emoji risonho ao lado da frase. “Eu pensei que era coisa de criança, nem me preocupei na hora”, contou a babá.
Um dia antes da denúncia, na quinta-feira (28), a mulher conheceu a mãe dos meninos e conta que se assustou com o comportamento dela. “Na hora em que as crianças estavam indo embora, pediram água e dei um copo para cada um, eles tomaram muita água”, lembrou. “Ela disse ‘bebe bastante água, porque em casa vocês não vão beber mais’”. A babá disse que ficou horrorizada e chamou atenção da mulher. “Ela disse que só falou aquilo porque eles faziam xixi na roupa”.
O caso - Os meninos foram resgatadas na sexta-feira (29). Equipe da GCM (Guarda Civil Metropolitana) foi acionada por uma vizinha e ao chegar no residencial, conseguiu ouvir os dois meninos gritando para serem tiradas do quarto porque queriam ir ao banheiro. Os guardas então foram até a porta do apartamento e foram recebidos pela mãe das vítimas.
Eles eram mantidos presos dentro do quarto pelos pais e, muitas vezes, comeram ração de cachorro, já que não estariam sendo alimentados.
Segundo a equipe, o apartamento estava totalmente insalubre com sujeira por toda a parte, roupas jogadas pelo chão, cheiro de urina de animais, panelas sujas e abertas e sacos de lixos amontoados na cozinha. Aos guardas, a vizinha afirmou que as crianças ficavam presas todos os dias durante a noite e só eram liberadas quando os pais acordavam.
Na delegacia, as crianças foram ouvidas e contaram que a mãe sai à noite para reunião religiosa e só volta no outro dia. Por isso, ficavam trancadas dentro do quarto. Os meninos disseram ainda que às vezes comiam pão e ração de cachorro, pois só conseguiam se alimentar quando o pai abria a porta do local.
Os pais dos meninos foram presos em flagrante e as crianças ficaram sob responsabilidade do Conselho Tutelar. Caso nenhum familiar seja localizado, elas devem ser levadas para abrigo. O inquérito está sendo investigado pela DEPCA (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente).
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