Merenda em casa ganha 5 mil cadastros para entrega que começa nesta segunda
“Se não fosse isso eu estava ferrada”, contou mãe desempregada que recebe o Bolsa Família há 15 anos
Se a vida já era dureza entre desemprego e informalidade, a pandemia veio dar o toque final de desespero a quem muitas vezes não tem o que comer. E são 5 mil a mais, agora em junho, nesta situação em Campo Grande. Ao menos é o que indica a segunda leva da entrega das cestas básicas da “merenda em casa”, para famílias cujos filhos contavam com a refeição que faziam na escola.
A reportagem chegou junto com o caminhão que levava 1,5 mil cestas básicas apenas para a Escola Municipal Escola Municipal Pe.Tomaz Ghirardelli, no Parque Lageado, a maior escola municipal de Campo Grande que estava sempre cheia dia e noite com seus 2,5 mil alunos nos três períodos de aula.
Por ali, trabalho cuidadoso é feito pela direção, que liga para cada uma das 1,5 mil famílias para agendar a visita para a busca da cesta. Nem sempre é possível fazer esse controle.
Há quem não aguente esperar o auxílio necessário e apareça na escola. Com a cesta já armazenada, volta para casa com o kit, que contem arroz, feijão, macarrão, óleo, extrato de tomate, bolacha e leite em pó.
É o que explicou o diretor-adjunto André Moretti. “Nós adotamos o esquema de ligar para as famílias para evitar aglomeração e não colocar ninguém em risco”, disse. Serão necessários cinco dias para entregar todas as cestas e a organização será de acordo com a idade escolar, do ensino infantil ao ensino médio.
Todas os sacos ficam armazenados em uma das salas de aula, com pessoa na porta em posse da lista com os nomes. As famílias que vão chegando ficam na fila e devem apresentar o documento pessoal e do bolsa família, programa do governo federal de renda mínima que oferece o cadastro utilizado pela Semed (Secretaria Municipal de Educação).
Secretária municipal de educação, Elza Fernandes comentou que todas as 204 escolas de Campo Grande têm famílias de alunos cadastrados. “O cronograma das escolas é com a direção, não são todas que recebem no mesmo dia”, comentou.
“Eu acredito que por conta dessa pandemia, os cadastros pelo governo aumentaram, e com isso nossa demanda aumentou também”, disse a secretária.
“Não foi necessário fazer compra extra [de alimentos], porque nós tínhamos um saldo no Pnaes (Programa Nacional de Alimentação Escolar). Aqui na nossa capital são 204 escolas e em todas têm famílias cadastradas que vão receber o benefício”, esclareceu.
A diferença entre comer e passar fome – Como se ficar sem o emprego não fosse suficiente, a trabalhadora de serviços gerais Walkíria Rivarola, 43, perdeu o marido. Viúva há cinco meses, a única forma de colocar comida na boca dos quatro filhos que vivem com ela (um, maior de idade, mora em outra casa) são os R$ 240 do Bolsa Família e os R$ 600 do auxílio emergencial.
Moram com ela os filhos de 7, 11, 15 e 19. O primeiro estuda no segundo ano do ensino fundamental na escola do Lageado. A família vive no bairro Parque do Sol. “É uma ajuda muito boa, ainda mais para quem cria filhos sozinha como é o meu caso”, destaca.
“Se não fosse isso eu estava ferrada”, contou ela, que recebe o valor do Bolsa Família há 15 anos.
Jhenifer Araújo, 21, não trabalha, é dona de casa e cuida de duas crianças de 3 e 5 anos. Grávida de seis meses, ainda espera mais um. Ela vive com o marido, desempregado, em um puxadinho atrás da casa da mãe, próximo da região onde existia a favela Cidade de Deus, no Dom Antônio Barbosa.
Jhenifer recebe o Bolsa Família desde 2018 e depois da pandemia a família conta também com o auxílio emergencial. “Eu recebo auxílio e bolsa família, a minha filha é aluna aqui da escola e consegui o direito de receber o kit e é isso que me ajuda no mês. O dinheiro do bolsa família é pouco”, comenta.
“Dá pra uma semana, no restante do mês me viro”, explica Jheniffer, sobre “pedir ajuda” ou “comer na casa da mãe”.
A cesta básica da merenda dura 15 dias na casa da aposentada – com apenas 1 salário mínimo - Mirtes Ambrósia Simplício, 73. Ela não recebe o Bolsa Família e divide a casa com mais 5 pessoas: a filha, um filho doente com tuberculose e os netos pequenos. A aposentadoria da família é a única renda, já que a filha está desempregada.
“Me ajuda bastante, tem dias que na minha casa não tem nada e agradeço essa ajuda. Eu vendia geladão no terminal. Agora não dá pra vender mais e eu estou sobrevivendo disso, dura 15 dias”, disse.