Morto em acidente, Raimundo era “braço direito” de viúva que já perdeu 4 filhos
Do Nordeste, mãe veio para Campo Grande em busca de filha roubada e viu outros filhos morrerem de doenças
Morto atropelado por ônibus no Jardim Zé Pereira, aos 41 anos, Raimundo Nonato da Paes Rocha, conhecido como “Raimundinho”, é o quinto filho falecido da nordestina Maria Conceição da Paes, de 73 anos, que já perdeu também o marido, em decorrência de um câncer na garganta. Nascida no Rio Grande no Norte, ela veio para Campo Grande à procura de uma filha que foi roubada aos 15 anos de idade, no Maranhão.
Depois de encontrada, a filha voltou para o Maranhão com o marido, mas está na cidade há dez dias, porque ficou viúva e veio morar com a mãe. Aqui em Campo Grande, a mãe tem apenas outro filho, que mora junto. Ao todo eram nove filhos e os outros quatro morreram de doenças.
Chorando muito, Maria conta que Raimundinho estava de cadeiras de rodas porque foi atropelado há mais de uma semana e teve um dos pés quebrado. “Ele bebia muito, mas era trabalhador. Parou para descansar numa calçada e um motorista de um carro não viu e deu ré”, conta.
Há dois anos, Raimundinho tratava uma tuberculose. O irmão, José André, tem epilepsia e há pouco tempo descobriu que tem cirrose por conta do excesso de bebida alcoólica.
Depois de tantas perdas, o velório de Raimundinho tinha cinco pessoas no início desta tarde. Maria, André, a irmã, Sandra da Conceição Paes, de 38 anos, com a filha e o namorado dela.
Sandra conta que a mãe vai precisar de muito amparo, porque Raimundinho era muito querido e ainda ajudava bastante em casa, com o dinheiro que recebia coletando materiais recicláveis, já que a aposentadoria de Maria não dá conta de manter a família e o outro filho está desempregado.
“Aproveitei cada momento com eles. Sei que ele está num lugar bom. Agora tenho que ser forte para dar força para minha mãe”, disse Sandra.
Atropelamento - Maria estava dentro do ônibus que atropelou Raimundinho, ontem (1º). Ela iria encontrá-lo em um ponto a frente para irem à UPA (Unidade de Pronto Atendimento), quando aconteceu o acidente. O cadeirante passou na frente do ônibus e o motorista não conseguiu frear a tempo.
Ela lembra que ficou desesperada e teve que ser socorrida. Na UPA, ela encontrou o filho José André, que também passou mal e teve uma crise de epilepsia quando recebeu a notícia da morte do irmão.
“Desci do ônibus, ergui a cabeça dele e coloquei no meu colo. Coloquei a mão no coração e já estava bem fraquinho. Falei ‘meu filho não me deixa, você é tudo de importante que tenho nessa vida”, lembra Maria, aos prantos.
Vídeo de câmera de segurança mostra o momento do acidente: