MS tem dez casos de raiva confirmados este ano, seis em Campo Grande
Mulher mordida por morcego não encontrou vacina antirrábica na Capital
Mato Grosso do Sul já tem dez casos de raiva confirmados nos municípios de Campo Grande, Corumbá e Japorã, desde o início do ano. Até agora a doença foi diagnosticada apenas em animais – morcegos, bovinos e cachorro. As análises já chegam a 456, mas 139 ainda ainda não foram concluídas, conforme a Iagro (Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal), órgão responsável pelo diagnóstico de raiva em animais.
A bióloga Danielle Ahad das Neves, do Laddan (Laboratório de Diagnóstico de Doenças Animais e Análise de Alimentos) – ligado a Iagro – explica que o local é o único do Estado que realiza este tipo de diagnóstico, mas o resultado completo pode demorar até 30 dias. “É necessário fazer duas provas e esperar 30 dias para confirmar o diagnóstico, só aí é concluído”.
Mesmo assim, pessoas que tiveram contato com morcegos devem procurar atendimento médico para receber as doses da vacina antirrábica. A aposentada Cristiane Morais, 40 anos, foi mordida por um morcego no dia 21 de março deste ano e ainda não sabe se o animal tinha ou não raiva. Mas o maior drama dela foi a busca pela vacina antirrábica que não estava disponível nos postos de saúde da Capital e por isso ela precisou viajar 135 quilômetros até Anastácio, para receber a dose.
“No mesmo dia que fui mordida recebi a primeira dose no posto de saúde do Guanandi, mas eu precisava de outras três nos dias 28 de março, 4 e 18 de abril. Na segunda-feira eu voltei lá e já não tinha vacina. Procurei, com a ajuda da família e amigos, em outros postos e não encontrei na cidade inteira. Soube pelo meu pai que mora em Anastácio, que lá tinha, então eu fui para ser vacinada no interior. É um absurdo essa situação”.
Cristiane é deficiente física, com 1 ano e meio ela tomou uma vacina vencida e foi vítima da poliomielite. “Eu estou viva, mas com várias sequelas. Fui vítima de um erro e sei das consequências de uma situação como esta. Fui atrás da vacina antirrábica porque vi que era grave e importante. Me fizeram assinar um termo de responsabilidade, porque eu represento risco as pessoas que convivem comigo, mas quando fui tomar a vacina não tinha. É um descaso”.
Além do CRS (Centro Regional de Saúde) do Bairro Guanandi, ela afirma que procurou a dose no CRS do Coophavila, nas UPAs (Unidade Pronto Atendimento) da Vila Almeida e do Coronel Antonino. A peregrinação em busca da vacina chegou até o CCZ (Centro de Controle de Zoonoses) e ao HR (Hospital Regional).
“Vários amigos ligaram em outros postos, mas ninguém achou. Em um posto onde eu estive disseram que uma criança precisou tomar a última dose porque foi mordida por cachorro. Depois ainda liguei no CCZ (Centro de Controle de Zoonoses), que disse que só faz o recolhimento do animal e não sabia onde tinha vacina. No Rosa Pedrossian também não consegui”, afirmou Cristiane.
Após receber a dose em Anastácio, ela descobriu que em uma clínica na Capital a vacina estava disponível, mas custava R$ 172. "Mas agora já entraram em contato e disseram que tem a vacina no posto de saúde. Foi mais para nos calar mesmo", afirmou a mãe de Cristiane, Evanilda Portílio, 65 anos.
A Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) informou que as vacinas antirrábicas não estão em falta e as doses estão disponíveis em todas as UPAs – Moreninhas, Vila Almeida, Coronel Antônio e Universitário –, 24 horas por dia.
Raiva - A confirmação dos casos de raiva devem servir para alertar a população em relação a vacina contra a doença em animais domésticos. “É o mais importante e a população precisa entender isso. Muitas pessoas não vacinam seu animais de estimação. A doença mata quando atinge humanos, é fatal. Tivemos uma morte em Corumbá no ano passado”, afirmou a bióloga.
Do total de amostras encaminhadas para análise desde o início do ano (456), 341 são de Campo Grande. As seis confirmações de raiva em morcegos foram nos bairros Universitário, Santo Antônio Vila Alba, Guanandi, Morenão e São Francisco. “O principal transmissor de raiva é o morcego hematófago, que se alimenta exclusivamente e sangue. Os animais domésticos, cães e gatos, também podem transmitir, mas vacinados estão protegidos”.
Em Corumbá, a 420 quilômetros da Capital, foram dois casos positivos em animais, um em cachorro e outro em morcego. Já em Itaporã, a Iagro também registrou dois casos positivos, ambos em bovinos.
“Caso a pessoa encontre um morcego caído no chão é importante evitar o contato, pois o vírus fica na saliva. Coloque um balde ou caixa de sapato em cima do animal e chame imediatamente o CCZ (Centro de Controle de Zoonoses) da sua cidade”.
Ela afirma que o protocolo médico também é importante e deve ser seguido. “Independente do resultado do laboratório a pessoa que teve contato com morcego deve tomar o soro e a vacina antirrábica, é a conduta médica. Precisa procurar atendimento em um posto e falar exatamente o que ocorreu”.
Os casos de raiva em morcegos são comuns. “A raiva esta controlada hoje, mas não o ciclo aéreo, que são os morcegos. Várias doenças atingem os animais silvestres e não é diferente com a raiva. O controle dos morcegos em grandes centros não ocorre, pois não podemos eliminar esta população, na verdade nós é que estamos invadindo o ambiente natural deles", afirmou a bióloga.
Por conta dos casos confirmados de raiva na Capital, o CCZ faz a vacinação de cães e gatos nos bairros Santo Antônio e Vila Alba. Porém outras regiões da cidade continuam sem a cobertura vacinal dos animais domésticos. A vacina é aplicada no CCZ, de graça, nos animais de estimação. O telefone de contato é o (67) 3313-5000.