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Capital

Mulher é torturada e levada à força para delegacia para recuperar carro do ex

Homem acabou preso dentro da delegacia com faca que utilizou para ameaçar a vítima a reatar o namoro

Por Dayene Paz e Antonio Bispo | 20/05/2024 11:29
Vítima enquanto conversava com a reportagem em frente à delegacia. (Foto: Antonio Bispo)
Vítima enquanto conversava com a reportagem em frente à delegacia. (Foto: Antonio Bispo)

"Achei que iria morrer. Ele ligou todas as bocas do fogão, disse que iria matar eu e meus filhos, que iria explodir a casa". A cena descrita aconteceu na manhã desta segunda-feira (20), no Jardim Nashivile, em Campo Grande, após uma vendedora de 34 anos ter a casa invadida pelo ex, que não aceita o término do relacionamento. Para recuperar um carro uqe havia sido roubado, ele levou a vítima para a delegacia, à força, onde acabou preso em flagrante.

A mulher, que terá o nome preservado, conversou com a reportagem do Campo Grande News. Ainda nervosa e chorando bastante, na porta da delegacia de polícia, contou que foram quatro meses de namoro, até que o fim dele deu início a ameaças e agressões. "Não sabia que ele era usuário e quando descobri, terminei", conta. No dia 24 de abril, após episódio de agressão, a vendedora pediu medida protetiva contra o ex.

A vítima conta, ainda, que durante o relacionamento chegou a usar o próprio nome e comprou um carro para o homem, de 31 anos. Era ele quem arcava com a parcela do veículo, que foi roubado. Recentemente, o carro foi recuperado e então o homem usou essa desculpa para procurar a vendedora novamente.

"Havia combinado de ir buscar o carro na Defurv (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos e Furtos de Veículos). Hoje, acordei com ele batendo na janela, colocando a mão na cintura e mandando abrir a porta", lembra. A mulher estava com os dois filhos em casa. "Abri a porta e ele começou a dar tapas no meu rosto".

Na sequência, ordenou que a mulher tirasse a roupa e se ajoelhasse no chão, porque iria estuprá-la. "Disse que tinha dois amigos que haviam acabado de sair da cadeia e também iriam me estuprar". Desesperada, a mulher suplicava para que o ex não fizesse nada na frente das crianças, que estavam no quarto. "A todo tempo ele mudava o humor".

Neste ínterim, foi agredida com socos nas costas, tapas e ameaçada de morte. Algumas vezes, o homem pedia para reatar o relacionamento, afirmando que amanhã os dois se casariam na justiça itinerante e seriam "muito felizes" juntos. "Eu concordava e dizia que iria fazer", lembra.

Entre os episódios de surto, o homem foi até a cozinha e ligou todas as bocas do fogão.

Disse que iria me matar, cortar eu e meus filhos, que iria explodir a casa. Nesse momento eu estava ajoelhada do lado do botijão, implorando para que não fizesse nada".

Entre as súplicas, a vítima conseguiu convencer de o casal ir até a Defurv pegar o carro. "Fui até o quarto e expliquei para meu filho mais velho que iria na delegacia. Pedi que ele ligasse para a tia, minha irmã, e que acionasse a Polícia Militar", conta a vendedora.

Da casa no Nashivile, o casal saiu de carro de aplicativo até a Defurv. "No meio do caminho, ele obrigou que eu mandasse um áudio para a irmã dele, confirmando que a gente iria reatar o relacionamento. O motorista não fez nada, percebeu que eu estava desesperada, viu eu gravando áudio obrigada, e não fez nada. Quando a gente desceu do carro, ainda disse 'Deus abençoe vocês'", conta.

Na delegacia, a vendedora conta que manteve a calma. "Porque eu não sabia se a minha irmã já estava com meus filhos e se os dois homens que saíram da cadeia poderiam estar com eles", comenta. Na sequência, foi até o pátio da Defurv e, no retorno, a irmã apareceu pedindo ajuda aos investigadores. O homem acabou preso em flagrante com uma faca dentro da delegacia.

A vítima foi ouvida inicialmente no local e depois encaminhada à Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher). "Eu tive muita sorte, porque no sábado uma amiga foi na minha casa e escondeu todas as facas da residência dentro do forno, porque eu já estava sendo ameaçada. "É um sentimento de impotência. A gente que é do bem vive refém dentro de casa, enquanto ele que é louco está solto fazendo o que quiser".

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