Na ala de queimados, maioria se feriu na hora do churrasco
Álcool combustível na churrasqueira tem sido maior causa de queimaduras
A maioria dos pacientes internados na ala de queimados da Santa Casa de Campo Grande, hospital referência no tratamento no Estado, se feriu com álcool combustível, o etanol, ao acender fogo para assar ou fritar carnes em momentos de lazer. “Setenta por cento foi com álcool combustível e sabia do perigo que corria”, disse o médico residente em cirurgia plástica, Fábio Saad.
Um deles é o soldador industrial Neilson Serra da Cruz, 26 anos. Ele e um amigo, o qual está no CTI (Centro de Tratamento Intensivo), se queimaram no dia 1º, quando “faziam fogo” para acender a churrasqueira para assar a carne do almoço, no Balneário Municipal de Bonito.
“O sol estava muito forte e não vimos que tinha um pouco de fogo na latinha. Quando coloquei o álcool, ele voltou pra mim e explodiu. Na minha mão ainda estava o recipiente com cinco litros de combustível”, lembra Neilson.
Ele está com 50% do corpo com queimaduras de segundo e terceiro grau. O amigo está mais grave e ainda não pode ir para o quarto. Nenhum deles tem previsão de alta.
No mesmo quarto de Neilson está o gerente comercial Rafael Calixto Romero, 27 anos. Rafael participava de uma confraternização na casa de um amigo e estava ao lado da churrasqueira, perto de um vasilhame com o combustível.
“Acho que alguma faísca caiu no álcool e então explodiu e me queimou”. O rapaz teve 27% do corpo queimado: são ferimentos nas pernas e virilhas.
Há 15 dias a dona de casa Eunice Rosa Vieira Fernandes, 54 anos, está na Santa Casa. Com 90% do corpo queimado ela é mais um exemplo do que a utilização indevida do álcool pode causar.
Ela foi acender uma churrasqueira em um almoço e então o combustível explodiu na mão dela. “Quando eu vi, eu estava pegando fogo. Hoje eu dou risada, mas a dor é terrível”, diz.
Os três exemplificam o que pode acontecer na utilização de qualquer líquido inflamável. Agora, eles afirmam que “nunca mais” vão mexer com o combustível e dão recados. “Não quero nem saber de bife na chapa, de churrasco com álcool”, fala Eunice. “Não é só quem está operando que corre risco, mas também quem não tem nada a ver”, diz Neilson.
Consequências- O médico Fábio Saad lembra que a queimadura “fica para o resto da vida”. Por tanto, é preciso muito cuidado no manuseio com líquidos inflamáveis, chamas e eletricidade e não pensar que “comigo não vai acontecer”, pois são muitos os exemplos de que, neste caso, são nos momentos “mais felizes” que algo ruim acontece.
As de terceiro e quarto grau são as mais graves porque atingem nervos e músculos. “A pele fica dura, branca e não dói. Não tem dor porque já até queimou a parte nervosa”, explica o médico.
Faz parte do tratamento a internação, que geralmente dura o tempo da cicatrização da pele, algumas vezes é preciso cirurgia com enxerto, corretiva de movimentos e muitos curativos.
A exposição ao sol da área ferida é recomendada somente após um ano. “Há casos em que o paciente corre risco de morrer. O tratamento é doloroso. Inclui curativos diários e há risco de infecção”, diz Fábio.
Primeiros socorros- Segundo o Corpo de Bombeiros, o procedimento recomendado às pessoas que estiverem próximas das vítimas no momento em que elas sofrerem queimaduras é acionar socorro imediato pelo 193 e não colocar em prática nenhum procedimento sem conhecimento técnico.
Quando a pessoa estiver em chamas, deve-se enrolar um cobertor em volta do corpo. Caso não tenha nenhum, mandar rolar no chão para abafar as chamas. Em hipótese alguma deve-se usar água para apagar o fogo, sob o risco de provocar um choque térmico que pode resultar na morte da vítima.