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Capital

Na penúria de maternidade, falta até dipirona e respirador é emprestado

Secretarias de Saúde apontam repasse em dia, mas silenciam sobre ação para evitar greve a partir de 6ª feira

Aline dos Santos | 18/12/2019 14:23
Maternidade Cândido Mariano terá paralisação dos médicos a partir de sexta-feira. (Foto: Henrique Kawaminami)
Maternidade Cândido Mariano terá paralisação dos médicos a partir de sexta-feira. (Foto: Henrique Kawaminami)

Local de nascimento de 9.102 campo-grandenses no ano passado, a Maternidade Cândido Mariano, com mais de oito décadas na ativa, vive dias de sucateamento: com falta do básico remédio dipirona a respirador emprestado. A situação de penúria, potencializada pelo atraso do salário dos médicos, que prometem paralisação a partir de sexta-feira (dia 20), chegou ao Campo Grande News com o relato de um profissional.

“A gente sofre. A gente está trabalhando sem condições. Faltam insumos. O nenenzinho com dor e a gente fica de mãos atadas. A equipe fica aflita, todo mudo estressado, com carga-horária pesada”, diz o integrante do corpo clínico da maternidade.

Ainda de acordo com o profissional, a situação financeira do hospital patina desde o ano passado, mas a crise ficou mais aguda em 2019. Sem conseguir pagar os fornecedores, os respiradores, item fundamental numa UTI neonatal (Unidade de Terapia Intensiva), ficam parados sem manutenção. A situação é contornada com o jeitinho: empréstimo de outros hospitais.

Os equipamentos precisam de manutenção mensal para regular o fluxo de oxigênio. Para cada bebê prematuro internado, é preciso um respirador. Também foi relatado ao Campo Grande News a falta de medicamentos, como dipirona (analgésico), e de um cateter, chamado de PICC, para acesso à veia mais profunda.

O procedimento é feito por enfermeiros, mas, quando falta o material, é preciso que o cirurgião faça uma intervenção, abrindo a pele do bebê. Na UTI Neonatal, se encontra a face mais frágil da vida: recém-nascido com peso de 800 gramas.

Maternidade recebe repasse mensal de R$ 1,5 milhão do SUS. (Foto: Henrique Kawaminami)
Maternidade recebe repasse mensal de R$ 1,5 milhão do SUS. (Foto: Henrique Kawaminami)

Salário atrasado - Na semana passada, os cerca de 100 médicos da unidade hospitalar receberam os 40% restantes do salário de setembro. Seguem em atraso os meses de outubro e novembro. 

A partir de sexta-feira, os médicos planejam reduzir o atendimento a casos de urgência e emergência, e encaminhar os demais pacientes para outras unidades da Capital. Conforme o presidente do Sinmed-MS (Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul), Marcelo Santana Silveira, a medida serve de alerta ao poder público sobre a crise financeira, com déficit mensal de R$ 500 mil.

De acordo com presidente do sindicato, a maternidade recebe cerca de R$ 1,5 milhão por mês da esfera municipal, estadual e federal. O valor, no entanto, não estaria sendo reajustado.

 “Quando o repasse começa a ser insuficiente, começa a ter dificuldade para manutenção de material, estoque de farmácia. A grande questão é que os financiamentos realizados pelo SUS não sofreram ajuste no decorrer dos anos, prejudicando os hospitais como um todo”, afirma Marcelo Silveira. Ou seja, a maternidade precisa de mais dinheiro para seguir atendendo os pacientes da rede pública.

O sindicato também vai pedir reunião com representantes do Ministério Público, nas esferas estadual e federal, para discutir a situação da maternidade. “Os profissionais não estão contra a maternidade. Uma gestante que chegar em trabalho de parto não vai deixar de ser atendida. Vai ser mantido o atendimento para toda ordem de urgência e emergência”, diz o presidente do sindicato dos médicos.

Na prática, a restrição significa que um médico plantonista vai atender pacientes em trabalho de parto. Já atendimentos agendados, chamados de eletivos, serão encaminhados para outra unidade. A UTI Neonatal deve manter o atendimento integral, porque serviço é prestado por uma terceirizada. O Campo Grande News não conseguiu contato com Cezar Luiz Galhardo, presidente da maternidade.

Recepção da maternidade, onde nasceram 9 mil bebês no ano passado. (Foto: Henrique Kawaminami)
Recepção da maternidade, onde nasceram 9 mil bebês no ano passado. (Foto: Henrique Kawaminami)

Repasse e silêncio – Questionadas pela reportagem sobre que medidas seriam adotadas diante da iminente paralisação dos médicos, as secretarias estadual e municipal de Saúde enviaram notas. Por meio das assessorias de imprensa, a SES (Secretaria Estadual de Saúde) e a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) apontam o repasse em dia dos recursos do SUS (Sistema Único de Saúde).

De acordo com nota enviada pela Sesau, o convênio com a maternidade é tripartite (governo federal, Estado e município), sendo o repasse mensal total de cerca de R$ 1,5 milhão. O valor é dividido da seguinte forma: R$ 991 de recurso federal, R$ 245 mil do Estado e R$ 314 mil da prefeitura de Campo Grande.

“Em relação ao repasse, há apenas o valor de R$ 61,5 mil referente ao mês corrente (dezembro) que ainda não foi repassado. Este valor deve ser pago até a sexta-feira, não havendo, portanto, a partir da efetivação do mesmo, mais nenhuma pendência financeira por parte do município com a unidade hospitalar”, informa a Sesau.

Ainda conforme a secretaria municipal de Saúde, o hospital tem meta com a prefeitura de 2.443 partos por ano.

A assessoria de imprensa da SES informou ao Campo Grande News que os repasses estão em dia. “A contratualização dos serviços prestados pela maternidade Cândido Mariano pelo SUS é feito com o município de Campo Grande. A Secretaria de Estado de Saúde repassa mensalmente a maternidade convênio no valor de R$ 245 mil”, diz nota. Além da rede pública, a maternidade também atende planos de saúde.

(*) Matéria atualizada às 15h50 para acréscimo de informações.

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