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Capital

“Não vão manchar a memória dela”: mãe de Vanessa rejeita parecer sobre a Deam

Durante audiência na Câmara, familiares reprovaram condução no atendimento à jornalista

Por Maristela Brunetto | 24/03/2025 12:41
“Não vão manchar a memória dela”: mãe de Vanessa rejeita parecer sobre a Deam
Pais e irmão de Vanessa criticaram Corregedoria da Polícia, que não viu irregularidades em atendimento (Fotos: Henrique Kawaminami)

Em um depoimento emocionado, na manhã desta segunda-feira (24), na Câmara de Vereadores, os familiares da jornalista Vanessa Ricarte, assassinada em 12 de fevereiro, disseram que repudiavam o desfecho do trabalho da Corregedoria da Polícia Civil, que não entrou falhas no atendimento dela na Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher). Após reprodução de trecho de áudio de Vanessa enviado a amiga horas antes da morte, em que relata “ter ficado impactada” com o atendimento, a mãe, Maria Madalena da Glória Ricarte, leu seu desabafo dizendo que era um protesto à Corregedoria.

RESUMO

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A família de Vanessa Ricarte, jornalista assassinada em fevereiro, criticou a Corregedoria da Polícia Civil por não encontrar falhas no atendimento da Deam, onde Vanessa buscou ajuda antes de sua morte. A mãe, Maria Madalena, afirmou que a filha não recebeu o apoio necessário e que a delegada deveria ser exonerada. A família acredita que, se Vanessa tivesse sido ouvida adequadamente, poderia ter sido protegida. A delegada Elaine Benicasa defendeu os protocolos seguidos e destacou a necessidade de melhorias estruturais. O caso gerou debate sobre a eficácia do atendimento a vítimas de violência doméstica.

Para a mãe, houve falha, porque não foi dado um atendimento continuado, porque Vanessa pretendia ampliar os fatos iniciais relatados. Não foi incluído em boletim o fato de ela ter sofrido cárcere privado no dias anteriores, fato não narrado na primeira ida à Deam.

Maria Madalena sustentou que se tivesse sido possibilitado à filha contar tudo que tinha vivenciado, a delegada do caso não teria permitido que Vanessa deixasse a Casa da Mulher Brasileira sozinha. Ao voltar à delegacia, ela queria detalhes sobre o passado do ex, o que acabou não conseguindo.

Ela citou que a filha ouviu da autoridade que poderia avisar ao ex-noivo, Caio Cesar Nascimento Pereira, que iria à casa buscar seus pertences e seguisse ao imóvel. Para a mãe, Vanessa não poderia ter voltado à casa sem escolta.

Junto com o marido, Agmar, e o filho, Walker, na tribuna da Câmara, ela lembrou que mesmo que algum esclarecimento tivesse sido feito à Vanessa, era preciso considerar que ela se encontrava “esgotada e cansada”, mencionando o ciclo completo da violência a que a filha estava submetida, como constou no relatório final do crime, que foi encaminhado à Justiça e culminou na denúncia contra Caio para julgamento pelo Tribunal do Júri.

A mãe seguiu dizendo que se a filha estava em dependência emocional, como constou no relatório final, ela precisava de proteção para pegar seus pertences e ser levada a um local seguro. Maria Madalena defendeu que a delegada que atendeu Vanessa deveria ser exonerada e que a família não aceitaria que a Corregedoria manchasse a memória de Vanessa, “como se fosse mentirosa”.

“Não vão manchar a memória dela”: mãe de Vanessa rejeita parecer sobre a Deam
Faixa foi estendida na Câmara durante audiência sobre violência contra a mulher

Ainda no tom crítico, ela pontuou que a Casa da Mulher Brasileira era grande, imponente mas ineficaz e que quem atende ali não deveria ser apenas aprovado em concurso, mas ter sensibilidade, compreensão e acolhimento.

Os pais de Vanessa relataram que não tinham conhecimento da gravidade da situação em que Vanessa estava envolvida. Quando perceberam algo suspeito, naquele dia 12, se dirigiam de Três Lagoas, onde moram, para Campo Grande para descobrir o que estava ocorrendo e, quando chegaram, a filha já estava esfaqueada e internada na Santa Casa, onde morreu horas depois.

O pai, Agmar, apontou que os policiais deveriam questionar as mulheres se os familiares tinham conhecimento, diante da situação fragilizada em que se encontram. “Quando veem pessoa em desespero, fale “sua família está sabendo?”, sugeriu.

Já Walker disse que a história da irmã era a mesma de muitas mulheres, citando o perfil de Caio, conhecido por eles quando Vanessa já estava assassinada, com onze anotações, inclusive feitas pela mãe e a irmã. Citou que era um perfil de um homem que criou um personagem e mantinha mulheres “fragilizadas” dentro de uma redoma. Mencionou que, quando havia tentativa de sair, ele revertia com promessas de mudança.

O irmão lamentou que a polícia não tenha detalhado o histórico à Vanessa, para que tivesse dimensão do risco. Na opinião dele, faltaram proatividade, atitude e humanização no atendimento.

Vivenciando a dor da perda, Walker defendeu “mão pesada” a agressores, referindo-se a penas longas como forma de coibir a violência doméstica.

Após falar na tribuna, Maria Madalena conversou com a imprensa e reafirmou as críticas ao atendimento da delegada do caso. “Ela falhou ao interromper a Vanessa, ao não deixá-la à vontade. Mas o pior foi que ela não acolheu a Vanessa. Ela tinha que ter orientado a Vanessa”.

A mãe sustenta que tendo o conhecimento de como opera o ciclo da violência psicológica, a Polícia Civil tinha que ter agido de outro modo. “Se as delegadas realmente tivessem conhecimento sobre essa dinâmica da violência doméstica, teriam que ser muito mais acolhedoras com a vítima. Teriam que explicar para ela o que estava acontecendo, mostrar para ela o que estava vivendo. Mas, ao invés disso, simplesmente mandaram a Vanessa ligar para ele primeiro e depois ir para casa pegar as coisas dela. “

DEAM – A titular da Deam, Elaine Benicasa, falou na sequência dos pais de Vanessa. Defendeu a condução do caso em relação aos protocolos para o atendimento e sustentou que aguarda de forma ansiosa pela condenação de Caio, apontado como único responsável pela morte de Vanessa.

A delegada apontou que o debate surgido com a comoção pela morte da jornalista trouxe à tona deficiências estruturais que não são novas, com a Delegacia aberta para debater e adotar melhorias. Sabendo do momento difícil de expor o trabalho da polícia, na sequência da fala dos familiares de Vanessa, na audiência para debater a rede de atendimento, Benicasa pontuou que “somos do mesmo time, vestimos a mesma camisa, somos do mesmo corpo”.

Ela destacou a essencialidade da Deam dentro da Casa da Mulher Brasileira e que deve ser reconhecido o trabalho executado no passado, que preservou a vida de vítimas, com a reflexão no momento atual e busca por aperfeiçoamento para o futuro. Em momentos da fala, a delegada ouviu gritos de protesto do público.

Ao fim, Benicasa pontuou que deve haver corresponsabilização de todos, citando a rede de atendimento às mulheres, mídia e família. Não havendo um esforço coletivo, corre-se risco de “seguir enxugando gelo para sempre”, afirmou.

A audiência reúne representantes de diferentes esferas do poder público, familiares, ativistas, para ouvir sugestões para aperfeiçoamento do atendimento e também prevenção à violência doméstica.

O relatório final da investigação da morte da Vanessa indiciou Caio pela morte dela e ainda a prática dos crimes de violência psicológica e cárcere privado, além da tentativa de homicídio do amigo que a acompanhou à sua casa, onde foi esfaqueada pelo ex. A denúncia do MPMS (Ministério Público) foi nestes termos, entretanto, o juiz da 1ª Vara do Tribunal do Júri, Carlos Alberto Garcete, aceitou a denúncia somente em relação à morte de Vanessa, considerando não haver provas das demais condutas atribuídas a Caio.

A Polícia Civil determinou a revisão de cerca de seis mil procedimentos da Deam. Já o Governo do Estado vai participar da gestão da Casa da Mulher Brasileira junto com a Prefeitura, que hoje cuida do local. Estão sendo estudadas mudanças nos protocolos para dar mais efetividade e acolhimento nos atendimentos.

“Não vão manchar a memória dela”: mãe de Vanessa rejeita parecer sobre a Deam
Manifestantes durante a audiência que reuniu autoridades e familiares para debater a violência doméstica


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