No 2º dia, médicos priorizam urgência e cancelam consultas nos postos
O segundo dia da greve dos médicos que atendem na rede pública municipal de saúde prossegue priorizando urgências e emergências na rede 24 horas, com UBS (Unidade Básica de Saúde) e UBSF (Unidade Básica de Saúde da Família) com médicos, mas sem consultas.
Na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Vila Almeida, os números refletem a greve. De acordo com a gerente Dirce Dominoni, a média diária é de 300 atendimento na unidade, mas ontem, foram 82 nos períodos da manhã e tarde. “Estão priorizando a urgência e emergência. Quem não é caso de risco é atendido, mas assim, muito lentamente. A maioria ontem desistiu”, afirma.
Os atendimentos obedecem a seguinte classificação: vermelho (emergência, atendimento imediato), amarelo (urgência, atendimento em até 15 minutos), verde (não urgente, atendimento em até 30 minutos) e azul (baixa complexidade, podendo variar de acordo com a demanda).
Conforme a gerente, para os casos sem urgência a espera foi grande, com gente que chegou às 10h, mas só foi atendida às 17h. Nas classificação verde e azul, há de pessoa à procura de atestado médico a pacientes com dor de cabeça ou garganta.
Segundo a direção, os cinco clínicos e cinco pediatras compareceram ao local de trabalho. Na rede 24 horas, os médicos mantêm 30% do efetivo trabalhando, o que resulta na demora para os casos ambulatoriais.
Moradora do bairro Manoel Taveira, a dona de casa Sandra Antunes, 46 anos, estava na UPA desde às 6h30. Ela levou a filha, grávida de três meses. A gestante teve sangramento e, por volta das 8h, esperava que um ginecologista fosse ao local. “Se não der certo, vou ter que levar para um particular”, diz.
Na UBS do Sílvia Regina, os médicos estavam no local, mas, na greve, só atendem casos urgentes e as consultas seguem suspensas.
Consulta a R$ 10 – Na unidade, o médico concursado Renato da Silva Azambuja, que trabalha na unidade de manhã e à tarde, afirmou que, se considerar a remuneração bruta e o volume de atendidos no mês, o valor da consulta caiu para R$10. O cálculo tem como base um vencimento de R$ 3.211,59 por 320 consultas no mês.
No cômputo geral, ele, que fez questão de mostrar o holerite para a reportagem, relata que os vencimentos caíram pela metade de março para abril. Com dois vínculos (um concurso o turno matutino e outro para o vespertino), o vencimento bruto era de R$ 12.916,44, resultado da soma de remuneração de R$ 6.458,22 por vínculo.
Com os cortes das gratificações de desempenho, ambulatorial e adicional de responsabilidade técnica, a remuneração caiu drasticamente. De acordo com o clínico geral, os dois vínculos vão resultar em vencimento de R$ 6.423,18.
O médico destaca que a consulta na unidade básica de saúde é a porta de entrada para o SUS (Sistema Único de Saúde) e que cabe ao clínico detectar doenças e fazer encaminhamento ao especialista.
Supersalário – Ontem, primeiro dia da greve, o secretário municipal de Administração, Wilson do Prado, declarou que a “grande maioria dos médicos” da rede municipal de Saúde recebe salários acima de R$ 25 mil e tem profissional que recebeu até R$ 42,5 mil no mês de março.
De acordo com a secretaria, o município tem 1.200 médicos na rede municipal e a folha da Saúde corresponde a R$ 36 milhões. Conforme o SinMed/MS (Sindicato dos Médicos), existem 1.400 profissionais.
O secretário alegou que o Executivo municipal está proibido de aumentar as despesas com servidores, por ultrapassar o limite do índice prudencial previsto na LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal). A prefeitura entrou na Justiça contra a greve, mas ainda não houve decisão.