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Capital

No cárcere, preso em protesto acusa Guarda Municipal de “plantar” drogas

Aline dos Santos | 08/08/2013 14:49
Magro e cabelo cortado, Dudu segue preso desde o dia 21 de junho (Foto: Marcos Ermínio)
Magro e cabelo cortado, Dudu segue preso desde o dia 21 de junho (Foto: Marcos Ermínio)

Há 47 dias no cárcere, mais magro, longe da sobrinha de 8 anos que considera como filha e da possibilidade de reatar o relacionamento com a ex-companheira, o ator Eduardo Miranda Martins, 28 anos, aponta um único culpado pela série de infortúnios que enfrenta: a Guarda Municipal de Campo Grande.

Mais conhecido como Dudu, ele acusa os guardas de terem plantado porções de maconha e cocaína em sua mochila no dia 21 de junho, data do protesto mais radical contra a corrupção. Foi o segundo dos três dias de protestos na Capital. No Centro de Triagem, localizado no Complexo Penal do Jardim Noroeste, ele relata, em entrevista exclusiva ao Campo Grande News, que participou do protesto em que houve tentativa de invasão ao prédio da Câmara Municipal.

“Participei da forma mais ativa possível. Sou uma das pessoas que se posicionaram contra a forma que tem sido encaminhada a política, a saúde, o transporte público”, conta. Eduardo relata que foi interceptado por guardas municipais em frente à Prefeitura, na Avenida Afonso Pena. “Não fui abordado. Me deram uma chave de braço, me arrastaram e me levaram lá para dentro. Fiquei um tempo ajoelhado e depois fui para a delegacia”, recorda.

Segundo o manifestante, a droga foi “plantada” na mochila. Ele confirma ser usuário de maconha, mas nega ser traficante e dono das quatro porções de maconha (36,9 gramas) e dos 23 papelotes de cocaína (13,1 gramas). Eduardo afirma que na mesma mochila estava documentos que denunciavam ao MPE (Ministério Público Estadual) e à OAB/MS (Ordem dos Advogados do Brasil) ameaças que sofria dos guardas municipais.

Por diversas vezes, o ator relatou à imprensa ter sido vítima de agressões por integrantes da Guarda Municipal. “O prefeito, o secretário puxaram a orelha dos guardas municipais. Estou pagando por um crime que não fiz”, diz.

Na Depac/Centro (Delegacia de Pronto Atedimento), para onde foi levado com um grupo de amigos, Eduardo preferiu não dar depoimento. Ele foi enquadrado em crime de tráfico de drogas e ficou atrás das grades enquanto para o restante foi definida fiança.

"Participei da forma mais ativa possível. Sou uma das pessoas que se posicionaram contra a forma que tem sido encaminhada a política, a saúde, o transporte" (Foto: Marcos Ermínio)
"Participei da forma mais ativa possível. Sou uma das pessoas que se posicionaram contra a forma que tem sido encaminhada a política, a saúde, o transporte" (Foto: Marcos Ermínio)
“Não fui abordado. Me deram uma chave de braço, me arrastaram e me levaram lá para dentro. Fiquei um tempo ajoelhado" (Foto: Marcos Ermínio)
“Não fui abordado. Me deram uma chave de braço, me arrastaram e me levaram lá para dentro. Fiquei um tempo ajoelhado" (Foto: Marcos Ermínio)

De acordo com o Boletim de Ocorrência 8161/2013, a Guarda Municipal deteve as pessoas porque elas faziam parte do grupo responsável pelo vandalismo e acertar um guarda municipal com uma pedra. O servidor ferido levou quatro pontos no supercílio.

Após três dias na delegacia, Eduardo foi transferido para o Presídio de Trânsito e há duas semanas está no Centro de Triagem. Nesta semana, o preso sofreu nova derrota jurídica: o TJ/MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) negou pedido de habeas corpus.

Agora, o ator espera dias melhores. “A comissão dos Direitos Humanos da OAB vai assumir meu caso e colocar os novos fatos”, afirma, se referindo às denuncias prévias que já havia feito contra a Guarda Municipal.

Eduardo relata que não sofreu agressões nem na delegacia nem nos presídios. No Centro de Triagem, está no módulo disciplinar e divide cela com outros 10 presos. A unidade tem 134 internos, mas a capacidade é para 86 pessoas.
Das 24 horas do dia, uma hora vai para o banho de sol, as demais são destinadas à reflexão. “Escrevo muito, estou compondo, chorando bastante, aprendendo com a realidade, a necessidade dos outros”, afirma.

O local oferece três refeições diárias e sobremesa depois do almoço, mas falta fome. “Não tenho apetite”, diz. Além de escrever um diário sobre a vida numa cela, o tempo é ocupado com a leitura. “Me trouxeram dois livros e três revistas”. Os livros são de poesia.

Apesar de considerar a prisão arbitrária, ele não pensa em pedir indenização. “Não vai pagar o que estão fazendo comigo. São 47 dias, mas parece que estou há anos”, relata. Por diversas vezes emocionado, ele afirma que é um problema para o sistema, não para a sociedade. “Cresci politicamente na cidade após as eleições, as coisas que eu dizia, a defesa do hip hop e da juventude”. Eduardo foi candidato a vereador pelo PPS.

Ao fim da entrevista, concedida em uma sala, ele volta para a cela, enquanto sonha em voltar para as ruas.

Eduardo relata que não sofreu agressões nem na delegacia nem nos presídios. (Foto Marcos Ermínio)
Eduardo relata que não sofreu agressões nem na delegacia nem nos presídios. (Foto Marcos Ermínio)
Sem apetite, Dudu lê bastante e escreve o "diário do cárcere" (Foto: Marcos Ermínio)
Sem apetite, Dudu lê bastante e escreve o "diário do cárcere" (Foto: Marcos Ermínio)
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