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Capital

Nos 30 anos de Ike, morto por um PM, o parabéns não terminou

Técnico de enfermagem completaria 30 anos nesta segunda-feira

Nadyenka Castro | 29/10/2012 18:16
Sepultamento de Ike, na data que ele completaria 30 anos. (Fotos: Minamar Júnior)
Sepultamento de Ike, na data que ele completaria 30 anos. (Fotos: Minamar Júnior)

Seria mais uma data para desejar muitos anos de vida. Mas, nos 30 anos de Ike Cezar Gonçalves, 29, o parabéns não terminou. Morto com um tiro pelo policial militar Bonifácio dos Santos Júnior, de 36 anos,  na madrugada desse domingo, o técnico de enfermagem foi sepultado na tarde desta segunda-feira, quando completaria 30 anos.

Assim como no velório, muita gente foi ao enterro. Eram familiares, amigos e colegas de trabalho. Emocionados, lembravam das qualidades de Ike e buscavam em Deus o conforto para o coração.

“Vou continuar a viver, a viver sem um pedaço de mim. Só com ajuda de Deus”, fala Jaci Vieira, mãe de Ike e de outros dois irmãos dele. Abalada, ela não preferiu não conversar com a imprensa.

Os amigos lembravam das qualidades do pai de três filhos, técnico de enfermagem e ainda empresário. Entre os elogios, os que mais se ouvia eram: pessoa maravilhosa, companheiro, tranquilo, amigo. “Ele era sempre apaziguador. O modo de tratar as pessoas, sempre sereno”, diz o estudante de enfermagem Marcos Paulo do Nascimento, 22 anos.

Em lágrimas, a esposa de Ike lembrou do bom pai que era. Familiares e amigos de longa citaram que policial matou trabalhador. “A Polícia matou um cara que aos 10 anos vendia vassoura”, “a Polícia matou um cara exemplar”.

Amigos, familiares e colegas de trabalho de Ike, no cemitério.
Amigos, familiares e colegas de trabalho de Ike, no cemitério.

A revolta expressada nas palavras de adeus foram seguidas por palmas e muito, muito choro. E foi também com palmas que o “parabéns pra você” terminou. A canção só teve o primeiro verso. “Não fazia sentido terminar”, justificou a tia de Ike, Janete Vieira do Nascimento, 37 anos.

Tio e policial – “Me sinto envergonhado com a atitude dele”, fala o policial militar e tio de Ike, Wanderly Lescano Ferreira, 46 anos, sobre a crime cometido pelo colega de farda. 

Emocionado, Vanderly lembra que todo policial recebe treinamento, orientações e passa por avaliações e, para ele, Bonifácio é “um camarada que jamais deveria estar no meio”. 

Policial militar há 23 anos, Vanderly explica que a revolta não é só porque a vítima é o sobrinho dele. “Não é só por isso. Ficaria também se fosse com qualquer outro”.

Max Bruno, 19 anos, amigo de Ike que estava com ele no momento da confusão afirma que a vítima só queria acabar com a discussão e ir embora. “Ele pedia para parar, para gente conversar, que a gente já tinha apanhado”, disse.

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