Novo protocolo contra assédio é esperança para mulheres nos ônibus
Documento mostra como motoristas devem agir durante as situações nos veículos
"Já presenciei assédio, tanto comigo mesma como com uma amiga minha que estava grávida. Aconteceu quando eu estava em pé. Eu sempre fico meio sem jeito, coloco a mochila porque ele ficou encostando. Não consegui falar, na hora não comentei pra ninguém”.
A fala é da vendedora Nayara Fátima de Jesus, 19 anos, que usa o transporte público na Capital diariamente. O relato não é incomum, tampouco exclusivo da jovem. A violência às mulheres dentro do meio de locomoção é debatido há alguns anos em Campo Grande. Nesta segunda-feira (15), a prefeitura sancionou a Lei nº 7.224, que criou um protocolo oficial de como agir em caso de violência contra a mulher nos ônibus.
O documento reforça a importância de denunciar práticas como assédio e agressões contra o público no transporte coletivo. Nayara conta que ficou sem reação ao perceber que havia sido assediada. O responsável era um homem que sempre estava no veículo com ela e a amiga.
“Foram em dias diferentes, mas acabou acontecendo com nós duas. Ela ficou meio nervosa, eu acabei pedindo pra ele se afastar, já era um senhor de idade. Ele estava em pé, se encostando nela. Perguntei se ele estava caindo, de uma forma irônica. Aí ele ficou meio sem graça e já saiu do lugar. Mas essa foi a única reação que a gente teve”.
Os episódios aconteceram em 2023. Desacreditada no que a amiga passou, quando Nayara vivenciou a mesma situação, não conseguiu reagir. “Porque como eu já tinha presenciado o dela, eu fiquei meio travada. Só saí de perto, eu fui me afastando. Não consegui falar”.
Sobre o protocolo, ela acredita que será uma esperança para as mulheres e dará voz aos assédios sofridos. “Tanto para preparar o motorista, porque muitas das vezes a pessoa vai comentar e ninguém faz nada. Ou muitas vezes as pessoas veem o que está acontecendo e ignoram também alguém que está por perto. Então seria bom as pessoas saberem como reagir na hora”.
Rosa Maria Maciel, de 44 anos, nunca viveu na pele o fato, mas já presenciou o assédio sofrido por outras mulheres. Ela comenta que a vítima, muitas vezes, não consegue agir. “É horrível porque a pessoa não tem reação, fica com medo de reagir e ter um problema. Ele ficava se esfregando”.
A prestadora de serviços gerais acrescenta que se sentirá mais segura com o protocolo. “Porque às vezes tem muito desconforto, é muito lotado, não sabem como é o movimento, então eu me sinto insegura. Vai ser mais respeito dentro do ônibus, mais respeito com as pessoas. Então eu acho muito bom”.
A notícia foi bem recebida até por quem nunca sofreu ou presenciou as cenas no transporte público. A aposentada Maria Da Consolação Magalhães, de 67 anos, trabalha há 34 pegando ônibus. "Eu acho bom. Porque a gente tem que estar cuidando”. Vanessa Vieira Gutierrez de Amorim, de 36, fala que se sente segura no transporte e que apoia o protocolo. “Eu acho bem interessante, porque todo mundo precisa”.
Protocolo - O protocolo prevê a disponibilização de imagens captadas por câmeras de segurança nos veículos. Recurso que o Consórcio Guaicurus afirma de antemão que já acontece em todas as frotas que circulam em Campo Grande.
Conforme o documento, a partir de agora todos os motoristas dos ônibus ou outros funcionários devem acionar imediatamente a polícia ao presenciar situações de importunação sexual, abuso ou violência contra a mulher. Antes, as ações ficavam a cargo da atitude das pessoas, ou seja, não eram uma obrigação.
Além disso, a empresa que administra o sistema de transporte público deve entregar, se houver pedido das vítimas, imagens gravadas pelas câmeras de segurança e o Conselho Tutelar deve ser acionado quando crianças e adolescentes presenciarem essas situações ou forem vítimas delas.
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