ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
OUTUBRO, SEGUNDA  28    CAMPO GRANDE 23º

Capital

Pacientes afirmam que foram parar em clínica após golpes de mata-leão e sedação

Relatos de internos foram feitos a grupo de servidores federais durante inspeção nesta sexta-feira

Por Ana Paula Chuva | 26/10/2024 13:59
Segundo o paciente, marcas na perna são de sessão de espancamento (Foto: Divulgação | MNPCT)
Segundo o paciente, marcas na perna são de sessão de espancamento (Foto: Divulgação | MNPCT)

Entre os problemas encontrados na Comunidade Terapêutica Os Filhos de Maria, estão os métodos usados para a internação involuntária de pessoas dependentes de álcool e drogas. Durante a inspeção da equipe do MNPCT (Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura) que aconteceu no local nessa sexta-feira (25), alguns internos relataram que foram “sequestrados” durante a madrugada e levados para o local.

Ao Campo Grande News, os servidores federais contaram que entre os métodos usados estavam golpes de mata-leão e sedativos dados aos pacientes que eram levados para a clínica e depois impedidos de sair por força contratual. As técnicas eram usadas para internação involuntária.

“Alguns deles relataram que estavam dormindo quando a equipe chegou e levaram um golpe de mata-leão. Quando acordaram já estavam na clínica. Alguns disseram que foram sedados. A maioria deles estava ali por conta de internação involuntária e não podiam sair porque havia um contrato e existia uma multa em cima desse documento”, explicou a equipe.

Os contratos eram firmados inicialmente por um período de seis meses e renovados para até nove meses, no entanto, existiam internos há mais de três anos no local. O custo mensal era de R$ 1,8 mil para cada um dos pacientes, porém, à reportagem, familiares afirmaram que também pagavam medicações e cantina e o valor total se aproximava dos R$ 3,5 mil.

“Para que esses internos fossem retirados dali, as famílias tinham de pagar o valor dos contratos e uma multa de 20% em cima desse valor. Além disso, quem tentava fugir, era resgatado e apanhava. Quem foi internado de forma voluntária também não conseguia sair por força desse documento”, pontuaram os servidores federais.

Escora de madeira em uma das beliches no quarto dos internos (Foto: Divulgação | MNPCT)
Escora de madeira em uma das beliches no quarto dos internos (Foto: Divulgação | MNPCT)

A equipe também explicou que durante as entrevistas feitas na inspeção, alguns internos relataram que os valores de suas aposentadorias e pagamentos eram retidos pelos responsáveis da clínica. No local foram encontrados idosos, adolescentes, cadeirantes e pessoas com diversos tipos de comorbidades vivendo em condições degradantes.

Ainda conforme os relatos dos internos, dois pacientes chegaram a tirar a própria vida na clínica. Um deles há cerca de um ano após ser agredido e o outro há pouco mais de 20 dias. Ambos os casos serão investigados. O local estava com o cadastro de estabelecimento de saúde vencido desde abril deste ano e a licença sanitária desde julho.

O grupo fará um relatório que será entregue às autoridades estaduais e municipais. Equipes da Polícia Civil, perícia, Secretaria Municipal de Assistência Social, Conselho Estadual de Direitos Humanos e Defensoria Pública também estiveram no local e o caso é investigado.

A reportagem tentou contato com os telefones da clínica, mas as mensagens não foram respondidas. Os donos do local foram encaminhados para a 3ª Delegacia de Polícia Civil para prestar depoimento, mas não quiseram fala com a imprensa. O espaço segue aberto.


Confira a galeria de imagens:

  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
Nos siga no Google Notícias