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Capital

Pacientes afirmam que foram parar em clínica após golpes de mata-leão e sedação

Relatos de internos foram feitos a grupo de servidores federais durante inspeção nesta sexta-feira

Por Ana Paula Chuva | 26/10/2024 13:59
Segundo o paciente, marcas na perna são de sessão de espancamento (Foto: Divulgação | MNPCT)
Segundo o paciente, marcas na perna são de sessão de espancamento (Foto: Divulgação | MNPCT)

Entre os problemas encontrados na Comunidade Terapêutica Os Filhos de Maria, estão os métodos usados para a internação involuntária de pessoas dependentes de álcool e drogas. Durante a inspeção da equipe do MNPCT (Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura) que aconteceu no local nessa sexta-feira (25), alguns internos relataram que foram “sequestrados” durante a madrugada e levados para o local.

Ao Campo Grande News, os servidores federais contaram que entre os métodos usados estavam golpes de mata-leão e sedativos dados aos pacientes que eram levados para a clínica e depois impedidos de sair por força contratual. As técnicas eram usadas para internação involuntária.

“Alguns deles relataram que estavam dormindo quando a equipe chegou e levaram um golpe de mata-leão. Quando acordaram já estavam na clínica. Alguns disseram que foram sedados. A maioria deles estava ali por conta de internação involuntária e não podiam sair porque havia um contrato e existia uma multa em cima desse documento”, explicou a equipe.

Os contratos eram firmados inicialmente por um período de seis meses e renovados para até nove meses, no entanto, existiam internos há mais de três anos no local. O custo mensal era de R$ 1,8 mil para cada um dos pacientes, porém, à reportagem, familiares afirmaram que também pagavam medicações e cantina e o valor total se aproximava dos R$ 3,5 mil.

“Para que esses internos fossem retirados dali, as famílias tinham de pagar o valor dos contratos e uma multa de 20% em cima desse valor. Além disso, quem tentava fugir, era resgatado e apanhava. Quem foi internado de forma voluntária também não conseguia sair por força desse documento”, pontuaram os servidores federais.

Escora de madeira em uma das beliches no quarto dos internos (Foto: Divulgação | MNPCT)
Escora de madeira em uma das beliches no quarto dos internos (Foto: Divulgação | MNPCT)

A equipe também explicou que durante as entrevistas feitas na inspeção, alguns internos relataram que os valores de suas aposentadorias e pagamentos eram retidos pelos responsáveis da clínica. No local foram encontrados idosos, adolescentes, cadeirantes e pessoas com diversos tipos de comorbidades vivendo em condições degradantes.

Ainda conforme os relatos dos internos, dois pacientes chegaram a tirar a própria vida na clínica. Um deles há cerca de um ano após ser agredido e o outro há pouco mais de 20 dias. Ambos os casos serão investigados. O local estava com o cadastro de estabelecimento de saúde vencido desde abril deste ano e a licença sanitária desde julho.

O grupo fará um relatório que será entregue às autoridades estaduais e municipais. Equipes da Polícia Civil, perícia, Secretaria Municipal de Assistência Social, Conselho Estadual de Direitos Humanos e Defensoria Pública também estiveram no local e o caso é investigado.

A reportagem tentou contato com os telefones da clínica, mas as mensagens não foram respondidas. Os donos do local foram encaminhados para a 3ª Delegacia de Polícia Civil para prestar depoimento, mas não quiseram fala com a imprensa. O espaço segue aberto.


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