ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
NOVEMBRO, QUINTA  14    CAMPO GRANDE 24º

Capital

Pais querem obrigar poder público a pagar por “omissão que levou Sophia à morte”

Casal alega homofobia institucional e incentivo ao linchamento virtual pelos órgãos de proteção à criança

Por Anahi Zurutuza | 04/03/2024 16:55
Sophia sorridente entre o pai, Jean Ocampo, e o marido, Igor de Andrade (Foto: Arquivo de família)
Sophia sorridente entre o pai, Jean Ocampo, e o marido, Igor de Andrade (Foto: Arquivo de família)

Quando o Estado, falhar quem paga? Sophia, pagou com a vida. Jean e Igor hoje pagam o preço alto da dor da saudade e da luta diária por justiça”, diz trecho de pedido de indenização por danos morais à Justiça.

Jean Carlos Ocampo da Silva, pai de Sophia Ocampo, a garotinha de 2 anos e 7 meses morta há pouco mais de 1 ano em Campo Grande (MS), e o marido Igor de Andrade, que se considera pai afetivo da garotinha, foram à Justiça contra o Estado e o município de Campo Grande. Eles alegam que a filha foi vítima da omissão e negligência dos gestores dos órgãos de segurança pública e atendimento à infância para pedir indenização por danos morais.

O pedido, segundo Jean e Igor, é uma forma de punir o poder público e servir de exemplo para que a rede de proteção à criança não volte a falhar. Os pais alegam ter enfrentado “homofobia institucional” ao tentar denunciar o que acontecia com a menina. Argumentam ainda que não bastasse a inércia dos órgãos responsáveis por investigar a situações reclamadas, depois da morte da criança, no dia 26 de janeiro do ano passado, a Polícia Civil de Mato Grosso do Sul incentivou contra eles verdadeiro “linchamento virtual”.

A ação de indenização, que vinha sendo preparada há meses pela advogada Janice Andrade, contratada pelos pais de Sophia para auxiliar o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) a condenar os acusados de matar a garotinha, foi protocolada na tarde desta segunda-feira (4), também como reação à enxurrada de denúncias feitas contra a assistente da acusação.

Jean e Igor saíram em defesa da advogada e enviaram nota à imprensa informando que processariam o poder público. “Informamos também que hoje estamos entrando com uma ação indenizatória contra o Estado e Município para reparação dos danos causados a nossa filha Sophia e a nós devido a omissão, negligência e descaso. Importante informar que foi feito todo um levantamento de documentação e dados, não restando dúvidas do tamanho do descalabro da omissão estatal, assim sendo, se tem a necessidade de que quando o Estado falhar, o ente público tem o dever de indenizar. E sim, não haverá como voltar no tempo. Não tem como trazer nossa filha de volta a vida, mas o Estado e o Município têm que ser punidos a fim de evitar novas Sophias”, diz o texto.

Nas 80 páginas, a defensora do casal descreve as suspeitas de agressões sofridas por Sophia ao longo de seus 2 anos e 7 meses de vida. Lista ainda as evidências levantadas pelos pais e levadas às autoridades – Conselho Tutelar, Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente), Decat (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Ambientais e de Atendimento ao Turista), Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), Defensoria Pública e o próprio MP são citados.

Diz, por fim, que “no dia 26/01/2023, um ano após a primeira denúncia dos requerentes [Jean e Igor], cessou o sofrimento de Sophia, não por ação do Estado ou porque ela passou a ser protegida, e sim porque ela foi cruelmente torturada e morta por seus agressores”.

Foto que mostra Sophia com a cabeça sagrando, tirada exatamente 1 ano antes da morte da garotinha (Foto: Reprodução dos autos de processo)
Foto que mostra Sophia com a cabeça sagrando, tirada exatamente 1 ano antes da morte da garotinha (Foto: Reprodução dos autos de processo)

A morte – No fim da tarde do dia 26 de janeiro de 2023, uma segunda-feira, a menina deu entrada na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Bairro Coronel Antonino, no norte de Campo Grande, já sem vida. Inicialmente, a mãe, que foi até lá sozinha com a garota nos braços, sustentou versão de que ela havia passado mal, mas investigação médica encontrou lesões pelo corpo, além de constatar que a morte havia ocorrido cerca de quatro horas antes da chegada ao local.

O atestado de óbito apontou que a garotinha morreu por sofrer trauma raquimedular na coluna cervical (nuca) e hemotórax bilateral (hemorragia e acúmulo de sangue entre os pulmões e a parede torácica). Exame necroscópico também mostrou que a criança sofria agressões há algum tempo e tinha ruptura cicatrizada do hímen – sinal de que sofreu violência sexual.

Para a investigação policial e o MPMS, a criança foi espancada até a morte pelo padrasto, Christian Campoçano Leitheim, de 26 anos, depois de uma vida recebendo “castigos” físicos. Ele responde por homicídio e estupro. A mãe da menina, Stephanie de Jesus da Silva, 25, também é acusada de assassinato, como o Christian, mesmo que não tenha agredido a filha, mas porque, no entendimento do MP, ela se omitiu do dever de cuidar. Ambos também foram denunciados pelo crime de tortura em outro processo.

Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.

Nos siga no Google Notícias