Pais se dividem entre alívio e medo da volta às aulas presenciais em julho
Para médica infectologista e professora do curso de Medicina da UEMS a retomada de aulas presenciais é precipitada
O "homeschooling" quase te enlouqueceu? Teve que reaprender análise sintática e raiz cúbica para ajudar o seu filho? Cansou de ouvir o Mundo Bita e fazer massinha de modelar com seu pequeno? Pois bem, para alegria de uns, as aulas presenciais na rede particular devem voltar a partir do dia 1º de julho e de forma gradual, começando com o Ensino Infantil na primeira semana indo até o Ensino Médio na quarta e última etapa, tudo dentro do mês. Mas tem muito pai com medo do retorno e maior risco de exposição ao coronavírus.
Boa parte ainda acha cedo a reabertura, foi o que constatou a reportagem do Campo Grande News que esteve hoje ouvindo pais que levaram filhos para tomar um sol da manhã nos Altos da Afonso Pena. É o caso da advogada Mariella Mamede Duarte, 35 anos, que após quase 40 dias, saiu com com o filho de um ano e meio para um passeio com segurança e mantendo distância de outras famílias, Ela diz que trabalha em home office e alega que a situação tá difícil. "Meu filho é calmo, mas ficou ansioso todo este tempo em casa. Ele vai pro berçário desde os cinco meses. Tive que esconder a mochilinha", lembra.
Ela disse que não saia de casa, mas agora ele está muito irritado e decidiram vir dar um passeio. Durante o trajeto ela se manteve afastada de outras pessoas, na grama longe de outras famílias. "Tenho muito medo da doença por causa do meu filho. A a gente não quer que pegue nenhuma gripezinha muito menos o coronavírus", enfatizou.
A advogada explica que, se abrir a escola em em julho, a resposta sobre a volta do filho será não. "Se eles fossem maiores eu até pensaria em mandar mas ainda usa fraldas. Tem que contato direto com ele. Tenho medo. A escola é pequena, tenho a preocupação com a escola, estou tentando ajudar mas por enquanto julho não vai", afirmou.
Opinião parecida tem a dona de casa Giuliane Campos Marques, 30 anos. Ela tem duas filhas: uma no quarto ano do Ensino Fundamental e a outra no último ano da creche.
As filhas estudam em em escola municipal e a dona de casa destaca que tem medo de mandar as crianças para as aulas presenciais. "Quando realmente reabrir eu verei o que fazer. Meu medo é que que tudo é compartilhado entre as crianças. Elas dividem lanche, porque sempre ensinamos isso. Agora temos que falar para manterem distância. É difícil e não acredito que as crianças vão se cuidar", salientou.
A mãe diz ainda que acha difícil manter o distanciamento das crianças nas escolas. "Para mim deveria ser perdido este ano. Nem voltar as aulas. No caso das aulas a distância também não estão aprendendo nada. Como pais temos dificuldade de ensinar e por isso eu tenho medo de passarem de ano sem aprender", finaliza.
Já o professor Francisco Machado tem uma visão diferente. Ele tem uma filha de cinco anos e defenque que as aulas nem deveriam ter sido suspensas. "Isso vai da conscientização dos pais. Ou seja seu eu estou gripado ou meu filho eu não mando a escola. O local onde minha filha estuda é pequeno. Não vi a necessidade de suspender", destacou. O professo ainda lembra que os pais que tiverem suspeita não devem enviar os filhos para a escola, mas o restante vai do resultado das medidas que serão tomadas de biossegurança por cada estabelecimento. "O que tem que fazer é fechar lugar com aglomeração. Colocar em EAD não funciona. porque se o ensino à distância já é dificuldade para adultos para a criança mais ainda porque elas são muito ativas. Se voltar eu mando imediatamente”, frisou.
Precoce - Para a médica infectologista e professora do curso de Medicina da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (Uems) e da Uniderp, Irís Bucker Froes Menin, a decisão de retomada de aulas presenciais é precipitada. Na sua avaliação ainda não seria o momento do retorno principalmente de crianças de 0 a 7 anos.
“Acho precipitado neste momento o retorno já que estamos em franco crescimento no número de casos e a porcentagem de distanciamento, de isolamento social da população está abaixo de 50% ou seja o mínimo. O ideal seria 70% a 75%. Então estamos longe do ideal e não temos nem o mínimo de isolamento”, salientou a médica.
Para retornar as escolas deverão observar os critérios do plano de biossegurança que ainda será publicado pela Prefeitura de Campo Grande e fazer adaptações de acordo com o serviço oferecido. Mesmo assim a médica ainda não acha que o momento é recomendado.Ela explica que se continuarmos neste ritmo a epidemia estará mais avançada em julho do que está hoje.
Sobre a abertura das escolas, a infectologista avalia que elas podem até atender a todas as medidas de biossegurança estipuladas pelo município, como distribuição de álcool em gel, lavagem de mãos, medição de temperatura, distanciamento entre carteiras diminuição de alunos por sala de aula, mesmo assim é um risco. “As escolas até podem atender estes requisitos. Mas esta faixa etária de crianças de 0 a 7 anos é uma faixa que naturalmente tem incapacidade ou dificuldade de entender as medidas de distanciamento social. Então um bebê, uma criança de 1 a 2 anos ela não entende que tem que ficar longe do coleguinha. Que ele não pode ficar encostando no coleguinha. As crianças um pouco maiores até entendem mas é difícil eles respeitarem. Eles querem brincar, querem abraçar, pular em cima dos colegas”, acrescentou.
No caso dos bebês que ficam em escolas chamadas de maternais, eles necessitam de cuidadores. “Eles precisam ficar no colo e ter uma proximidade dos professores. Então este distanciamento não vai acontecer. Por isso acho que programar para voltar as aulas nesta faixa etária que é a mais problemática é muito precoce e até uma escolha inadequada na minha opinião. Porque se fossem pré-adolescentes ou adultos aí já entendem já conseguem respeitar o distanciamento, mas esta faixa etária dos pequenos não”, concluiu.
Medidas – O prefeito Marquinhos Trad explicou que para a reabertura das escolas particulares vai depender das medidas de segurança. "Foi criado um calendário a partir do dia 1 de julho. Mas não quer dizer que serão reabertas. Vai depender de algumas coisas, o não crescimento da ocupação de leitos, a curva baixa de infecção, vistoria completa do plano de biossegurança”, detalhou.
O plano de biossegurança das escolas passará por avaliação da Prefeitura, do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), da OAB-MS (Ordem dos Advogados do Brasil) e da Câmara Municipal.