Isolamento pode gerar consequência nos adolescentes, diz psicólogo
Essa já é uma fase complicada, de preparação para o mundo e a vida adulta, no qual o adolescente costuma ser mais introspectivo
Se já é difícil lidar com o isolamento na vida adulta, imagine para aqueles que estão na adolescência. Isso porque, nessa fase eles podem ser um pouco mais introspectivos, pois estão deixando a infância para conhecer uma nova realidade. As novidades, misturadas com a quarentena, costumam gerar dúvidas e até mesmo ansiedade.
“Essas novidades podem gerar mais dúvidas, insegurança e ansiedade, do que respostas (Conquistas, relação sexual, identidade grupal, crenças familiares, religião, necessidade de atender expectativas de pessoas significantes). De forma geral, o mundo para o adolescente pode se tornar mais hostil, principalmente, por conta do modelo de comunicação que as pessoas utilizam com ele. Geralmente, uma comunicação conflituosa é geradora de comportamentos disfuncionais”, explica Neido Castilho Júnior.
Ele é psicólogo, atua com psicoterapia de adolescentes e casais, e conversa com o Lado B sobre a adolescência, que é considerada uma fase entre a infância e à idade adulta.
“É um período de grandes mudanças, em vários aspectos de sua existência. Essas mudanças podem ser analisadas sob a ótica física, social, histórica, psicológica. Para simplificar, podemos considerar que, quando se entra na adolescência, eles são motivados por amadurecimento das características físicas e por construções sociais que impõem exigências, para esse quase adulto”, diz.
De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), essa fase acontece entre os 10 aos 24 anos idades e é divido em três períodos. O primeiro é a pré-adolescência dos 10 aos 14 anos, em seguida a adolescência dos 15 aos 19 e juventude, dos 15 aos 24 anos.
A adolescência é um momento de preparação para o mundo do adulto. “Nesse período é importante que as pessoas significativas, como pais, tios e outros, saibam se comunicar com o adolescente. Sugiro durante o trabalho psicoterapêutico, que sejam utilizadas estratégias que mantenham os canais de comunicação abertos. Dentre elas, recomendo horizontalidade durante o diálogo, permitir espaço de manifestação de emoções, opiniões e coerência entre a própria atitude”.
“O adolescente é uma pessoa normalmente informada, com maravilhosas capacidades e habilidades. É uma geração melhorada, se comparada com a anterior, e que precisa de segurança e afeto, dessas pessoas significantes e do mundo”, destaca.
Se mesmo antes do isolamento social, provocado pela epidemia do coronavírus, alguns adolescentes passaram a se “fechar”, agora longe de tudo e todos, é preciso que os pais e responsáveis fiquem mais atentos às mudanças de comportamentais. Isso porque, ainda não se sabe ao certo o quanto esse afastamento “brusco” pode prejudicá-los.
“O isolamento durante a pandemia é relativo. Depende de qual adolescente estamos falando. O mundo atual, já ensinou para muitos sobre a mobilidade digital, através da rede global de internet. Essa mobilidade digital permite movimentar-se digitalmente, para qualquer lugar do mundo”.
No entanto, Neido relata que podem haver fatores estressantes nesse período. “Um aspecto que pode tornar a quarentena algo estressor para o adolescente, é o fato das estruturas como casa, escolas, trabalho, sociais e outros, não estarem adaptadas para funcionar com essa nova realidade”.
Como exemplo, ele comenta alguns casos de escolas que se propuseram a dar aula on-line, mas o professor ainda está aprendendo a trabalhar com essa ferramenta. “Muitos alunos não dispõem de recursos tecnológicos e financeiros. Essas condições inadequadas e adaptativas poderão desenvolver sobrecarga no cotidiano dessas jovens pessoas, assim como em todos nós”.
Questionado se o isolamento social pode acarretar consequências a esses adolescentes, Neido diz. “É difícil prever se essas condições impostas pela pandemia, gerarão mais prejuízos ou ganhos. Sem dúvida, está gerando um grande esforço adaptativo. As consequências podem ser positivas, afinal, algumas pessoas incluindo os jovens, respondem adequadamente e se fortalecem diante de um processo estressor”.
Conforme o psicoterapeuta, o contexto atual é tão inesperado, que somente no decorrer do processo é possível saber sobre as consequências positivas e negativas. “Qualquer previsão, representa trabalho com a imaginação, porque a realidade ainda é desconhecida por todos”, afirma.
Entretanto, Neido é claro e destaca que é preciso tratar o momento com bastante cuidado. “A relação entre isolamento e adolescência é algo complicado sob a ótica de relacionamento interpessoal. O adolescente deseja resposta, apresenta olhar crítico e até certo ponto hostil com relação as novidades do cotidiano, principalmente, as que não deram certo”.
O psicólogo comenta que o adolescente não consegue aceitar que a “universidade” continue cobrando o mesmo valor. “O isolamento apresenta novidades que impõem esforços adaptativos, que nem sempre o ele está preparado para enfrentar. Nesse momento, as pessoas significativas devem se apresentar e facilitar a interlocução entre o fenômeno disfuncional e o adolescente”.
Além disso, é necessário que essa comunicação entre a pessoa significativa e o adolescente siga critérios não violentos. “Uma comunicação não violenta é horizontalizada, momento quando se permite o desabafo ou expressão de sentimentos e opiniões”, finaliza o psicoterapeuta.
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