Para poucos, cursar Medicina exige foco e planejamento financeiro
A diferença entre alunos de escolas públicas e privadas: mesmo sonho, realidades distintas
Com a grande concorrência, os estudantes que pretendem cursar Medicina, um dos cursos de maior interesse por quem faz o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), neste domingo, devem ter necessariamente dois requisitos: dedicação extrema aos estudos e um bom planejamento financeiro. O segundo item vale especialmente para quem não descartar a possibilidade de bancar uma faculdade privada, onde a mensalidade, em Campo Grande, pode chegar a R$ 13,5 mil reais.
Na Capital, por exemplo, o sonho de ser médico permeia diferentes realidades. Enquanto alguns alunos têm condições de se dedicar integralmente aos estudos, outros precisam conciliar a puxadíssima rotina junto aos livros com a “labuta” de um trabalho.
É assim como Ariane Souza de Oliveira, 17. Ela acorda de madrugada, às 4h50, para não perder o ônibus. Trabalha como recepcionista em um laboratório médico, até 12h, e vai direto para a escola, onde estuda no período vespertino. Chega em casa depois da 18h e fica navegando em sites com aulas “ao vivo” até tarde da noite.
“É meu sonho, não posso dar mole”, afirma. Ela está focada em conquistar uma vaga em instituições públicas, como UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) e UEM (Universidade Estadual de Maringá).
Também se esforça para entrar na Uniderp Anhanguera (Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal), por meio de programa federal ou bolsa de estudos.
“Dia 3 de dezembro vou fazer uma prova. Quanto maior a nota, maior o desconto”, explica, reclamando do valor para participar da seleção: R$ 250. “Em sem isenção para alunos de escolas públicas!”, diz, indignada.
Parceira de escola, Larissa Gotardo, 17, também quer ser médica, e se dedica aos estudos dia e noite. “Na escola, só de tarde, mas em casa eu faço exercícios em apostilas próprias.
Larissa fez o Ensino Fundamental em escola particular, até o momento em que o pai disse: “agora é com você. “Só curso público mesmo; por isso estou ralando tanto. Faculdade? Vou aonde minha nota me levar”, responde.
Matriculada em um colégio particular, Thaís Cardoso Martins de Castro, de 22 anos, conta que está “comendo” livro de tanto que estuda para obter boa pontuação no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) – cujo resultado é fundamental para garantir uma vaga em instituições públicas.
“Vou tentar a Federal, mas também as pagas. Toda a minha família está ciente, unida e se programando para bancar a mensalidade nesse caso. É difícil em muitos aspectos, tem que ter planejamento, até porque a concorrência é grande, mesmo nas privadas”, analisa.
Em último caso, pensa em recorrer a programas de financiamento estudantil, mas não pretende sair da universidade já com uma “dívida”.
Gabriela Michelazzo, 18, vai tentar públicas, mas conta com os pais caso entre numa particular. “Mas por isso estou tentando em outros estados onde o valor é mais “barato”. Tem umas que custam R$ 5 mil, R$ 7 mil, que até cabe no orçamento familiar”, contou.
A colega Cássia Mendes Ataíde, 18, é outra que mergulha nos preparativos para enfrentar a acirrada concorrência de umas cinco universidades no estado e também em São Paulo, todas públicas. “Medicina é muito caro, por isso estou me empenhando. Minha família investiu no Ensino Médio e cursinho para que eu conquiste uma dessas vagas”, detalha.
O mais caro do Brasil – A Uniderp Anhanguera (Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal) figura na lista dos cursos de medicina mais caros do Brasil. Chega a R$ 13.584, que pode cair um pouco se houver pontualidade ou antecipação de pagamento.
Ajudinha - Fies (Fundo de Financiamento Estudantil), programa do Ministério da Educação que financia a graduação a juros baixos com longo prazo para quitar a dívida. Para concorrer a uma vaga desse financiamento é obrigatório ter feito qualquer edição do Enem a partir de 2010, com desempenho de pelo menos 450 pontos na média das provas e nota acima de zero na redação.
Logo que o resultado do Enem é divulgado, começa o Sisu (Sistema de Seleção Unificada), um dos maiores processos seletivos do Brasil, quando são distribuídas vagas em universidades públicas de todo o país. Garantem a vaga aqueles candidatos com a nota mais alta no Enem. Para participar só é preciso ter feito o Enem mais recente e ter obtido nota acima de zero na redação.
Já pelo ProUni (Programa Universidade para Todos) são concedidas milhares de bolsas de estudos parciais e integrais em faculdades particulares. Destinado a estudantes de baixa renda, exige participação no Enem mais recente, com pelo menos 450 pontos na média das provas, sem ter zerado a redação.