Polícia investiga médico por importunação sexual contra cliente no consultório
O profissional nega as afirmações da mulher. Ele já foi processado anteriormente, e inocentado, por acusação semelhante
A Polícia Civil abriu inquérito para investigar denúncia de importunação sexual contra o ginecologista Salvador Lopes de Arruda, de 67 anos, que atua há quase 40 anos em Campo Grande e já foi diretor-geral do Hospital Regional.
A paciente, de 28 anos, professora universitária, procurou a delegacia nesta terça-feira (18) e disse que uma semana antes, no dia 13, durante consulta médica, o profissional a assediou, inclusive com palavras de baixo calão, além de ter beijado a mão da denunciante e ter oferecido carona e pedido para que o esperasse após o expediente.
O Campo Grande News levantou que ele já foi acusado à Justiça, em 2015, de comportamento parecido com outra paciente, e acabou sendo inocentado por falta de provas, em sentença de junho de 2020. Ele nega tudo e diz que está sendo acusado de algo que não existe.
“Você deveria trepar, f...” é uma das frases atribuídas pela paciente na nova denúncia contra o médico. A mulher disse na 4ª Delegacia de Polícia, nas Moreninhas, onde o caso foi registrado, que o profissional a chamou de “muito gostosa”.
“O médico ainda perguntou o que a paciente gostava na cama, "se gostava de ser chupada gostoso", "que precisava conhecer a pessoa certa, porque às vezes a mulher não tem lubrificação e machuca", "você tem cara de que gosta de foder", "posso apostar que você está molhada agora", está escrito no boletim de ocorrência registrado pelo delegado João Reis Belo como descrição da conversa, sem testemunhas.
Como – A paciente, cujo nome será preservado, procurou a polícia e disse que marcou consulta com Salvador Arruda na Associação Santa Rita, no Jardim Monumento, um dos locais onde ele atende. Ele também faz consultas para clientes de planos de saúde.
A mulher contou ter recém chegado a Mato Grosso do Sul, vinda do Rio Grande do Sul, e que agendou previamente o atendimento particular, por estar com dores do tipo cólica. Segundo ela, o diagnóstico foi feito rapidamente e logo vieram as palavras de assédio.
“No diálogo com o médico foi dito que é portadora de vaginismo e de pronto o médico afirmou que "isso era uma limitação da sua mente", diz o texto do documento feito na delegacia.
Segundo a professora, o médico pegou na mão dela e beijou sem sua permissão. Ela disse à polícia ter cruzado os braços, frente à insistência da conduta do médico de buscar as suas mãos.
Para a paciente, o profissional em todo momento foi “super enérgico, invasivo", gerando constrangimento e até choro no consultório.
Conforme a denunciante, o profissional fez afirmações ainda mais íntimas, sobre seus atos sexuais. Indagou, contou ela, se pratica sexo anal e contou aventuras sexuais pessoais.
Mensagem – Ainda segundo o relato, o ginecologista ofereceu seu contato de WhattsApp e por meio dele tiraria todas as dúvidas, desde que fosse por mensagem.
Segundo relata, pediu, inclusive, para que a esperasse após o expediente, o que ela diz ter negado.
A mulher ainda fez um segundo contato, para reclamar que as dores continuaram, e foi chamada para nova consulta sem custo. Nessa conversa, o profissional a chamou para tomar um café e disse, segundo ela, que teria “uma carona maravilhosa, kkkkkk".
Ela afirma ter desistido do atendimento e procurado outro profissional.
Ontem, fez o boletim de ocorrência. O delegado responsável diz que o médico será chamado a depor. Segundo ele, o crime investigado é importunação sexual, que prevê pena de um a cinco anos de reclusão.
João Reis Belo acrescentou que essa é uma investigação bem específica, onde a palavra da vítima “tem muito peso”. Se mais mulheres tiverem denúncia, informou, o caminho correto é procurar a Polícia Civil.
As mensagens trocadas vão ser analisadas, informou a autoridade policial.
Não existe - O Campo Grande News procurou o médico e ele negou o conteúdo da conversa. Indagado sobre as afirmações, disse não se lembrar de ter tido as palavras citadas.
Afirmou que também vai mostrar as conversas do WhatsApp como prova de não ter havido assédio.
No processo que ele sofreu em 2015, que chegou a ter denúncia do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), o relato da paciente à polícia é muito parecido, inclusive com termos semelhantes, mas a denunciante não compareceu às audiências e por isso o caso foi encerrado com a sentença declarando a inocência do médico.
Não há previsão ainda para o depoimento dele.
O CRM (Conselho Regional de Medicina) foi consultado e informou que não há procedimentos públicos com relação ao médico, que é registrado em Mato Grosso do Sul desde 1982.