População fica sem atendimento e sofre com greve de bancários
Muita gente foi pega de surpresa na manhã de hoje (19) ao chegar aos bancos na região central de Campo Grande. As portas fechadas já denunciavam a greve. Para os desavisados ou esquecidos, a paralisação causou transtornos.
Com a decepção estampada no rosto, a aposentada Angela Maria, 47 anos, contou que precisava ir até a sessão de penhor, na Caixa Econômica Federal.
“Eu precisava avaliar uma jóia para penhorar. Precisava desse dinheiro hoje”, contou.
No centro de Campo Grande, várias agências amanheceram adesivadas, entre elas a agência do Itaú, Banco do Brasil, Mercantil, Santander, Bradesco e HSBC. De acordo com os sindicalistas, que estão na frente das agências, muita gente tem procurado atendimento. A greve, segundo o sindicato, é por tempo indeterminado.
“Eu precisava sacar o seguro desemprego, mas a minha sorte é que vou conseguir fazer tudo pelo caixa eletrônico”, disse o produtor rural Álvaro Henrique, 24 anos.
Sem a mesma sorte, a vendedora Fátima Nero, 56 anos, ficará sem parte do salário. “Eu estou sem cartão. Fiz o pedido e vim buscar hoje o cartão. Sem ele não posso sacar meu vale. Estou desesperada. Se o cartão não tivesse chegado, poderia sacar o salário na boca do caixa”, disse ela.
A vendedora diz que vai ter que recorrer a alguém da família. “Não sei o que faço, vou pedir para minha irmã. É o único jeito, mas sei que ela está sem dinheiro, fica complicado”.
A presidente do Sindicato dos Bancários, Iaci Azamor, afirmou que até o momento a Fenaban (Federação Nacional dos Bancos) não fez contato com os grevistas e ainda não há dados oficiais sobre o número de agências fechadas na Capital.
“Ainda estamos fazendo um levantamento, mas sabemos que na Júlio de Castilho algumas agências fecharam”.
Destoando visualmente da maioria das agências, o Banco do Brasil, na rua 13 de Maio, está sem os adesivos de “Greve”. Quem vê, imagina que o atendimento à população esteja sendo feito. Porém, as portas também estão fechadas.
“Lá, não houve adesão total dos funcionários. Então, eles ficam lá dentro fazendo negócio pelo telefone e deixam de atender a população”.
Ela afirma que a adesão de bancos públicos acontece de forma espontânea, mas nos bancos privados a greve nem sempre é apoiada. “A pressão é muito grande. Os funcionários ficam com medo, já que existe o risco de demissão”.
Segundo o sindicato, a greve foi amplamente avisada à população. “Noticiamos em jornal, sites, em vários locais, mas muita gente esquece”.
Os bancários pedem reajuste de 11,93%, o que representa aumento real de 5% acima da inflação. Eles também reivindicam o fim das demissões, das metas abusivas e da terceirização.
O Projeto de Lei 4330, que regulamenta a terceirização nos serviços públicos e privados, é um dos pontos fortes do protesto.
“Se o projeto for aprovado, seremos demitidos e recontratados por um terço do salário que ganhamos hoje. Assim, acabam os concursos. Por enquanto, estamos conseguindo barrar a votação. A comissão (CCJ) resolveu não colocar em votação, já que ainda não houve um acordo entre a aliança as partes. Todos os deputados federais de Mato Grosso do Sul já se posicionaram contrários ao projeto”.
Mas a categoria teme que a qualquer momento o projeto seja votado. “ Se 15 minutos antes da sessão, algum deputado apresentar o projeto como extra pauta, eles têm que votar”, lamenta.