Por 18 km, Avenida Norte Sul acumula lixo, desmoronamentos e dinheiro perdido
A via nasce rente a um matagal que sobe a um metro e meio do chão, ladeado por lixo
Com 18 quilômetros entre os bairros Morada Verde e Aero Rancho, a Avenida Norte Sul tem córrego, rio, área verde, capivaras e até cinco sofás. Mas nada ali inspira conforto: os sofás integram o cenário do lixo abandonado às margens do Rio Anhanduí, os paredões desabam no embate contra a erosão e a enxurrada e impera o desalento, com silêncio dos vizinhos da via sobre a situação.
Ao longo dos anos, como mostra placa alusiva à pavimentação e urbanização datada de 1999, não faltaram obras e nem dinheiro. No trecho entre as ruas Santa Adélia e Aquário, por exemplo, foram firmados contratos de R$ 48 milhões e as obras começaram em 2018. O projeto incluía urbanização, com ciclovia e recapeamento das pistas marginais.
Contudo, somente a primeira etapa foi concretizada. Os outros dois trechos não foram terminados porque a empresa Dreno Construções, que estava responsável, não continuou o serviço e pediu rescisão do contrato. A Prefeitura de Campo Grande promete um novo processo licitatório, mas não forneceu a data e nem o custo aos cofres públicos.
Conforme a Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos), foram concluídas 60% das obras de controle de enchentes e estabilização das margens do Rio Anhanduí.
“Está pronto o primeiro lote entre as ruas Santa Adélia e da Abolição, também foi feita a transposição do emissário de esgoto das margens do rio para o meio da pista marginal. Já está feita a parede do canal da margem direita. As planilhas estão sendo refeitas para que seja lançado um novo processo licitatório”, informa a prefeitura.
Uma via, muitos políticos – Ao longo de 18 quilômetros, a Norte Sul tem três nomes de políticos: Heráclito José Diniz de Figueiredo, Ernesto Geisel e Thyrson de Almeida. O primeiro foi prefeito de Campo Grande entre 1982 e 1983. O segundo foi presidente do Brasil na ditadura militar, entre 1974 e 1979. O terceiro foi vereador.
Na Heráclito de Figueiredo, no Bairro Morada Verde, a Norte Sul nasce rente a um matagal que sobe a 1,5 metro do chão, ladeado por descarte irregular de lixo. Sem alagamento naquele ponto, o Córrego Segredo é tido como um bom vizinho.
“A gente só escuta o barulho forte da água quando chove muito”, conta Helder Arruda Amaral, de 52 anos. Nessa ponta, a Avenida Norte Sul tem plano de expansão, ou seja, vai crescer ainda mais. Na região, o prolongamento levou à remoção da Favela do Mandela, cujos moradores vão para 220 moradias erguidas pelo poder público.
A obra é para levar a Norte Sul até o Bairro Nova Lima, com início na Rua Pintassilgo, no Morada Verde, até a Avenida Marquês de Herval.
Rumando em direção ao sul, a avenida passa por praça esquecida, vários anúncios de loteamentos no entorno (apesar dos muitos espaços vazios), por rotatória com a Rachid Neder que sempre alaga, pelo Centro de Belas Artes (elefante branco que nunca chega ao fim) e muitos trechos sem a defensa metálica para proteger condutores e pedestres de acidentes.
Mais próximo ao cruzamento da Afonso Pena – via de 7,8 quilômetros que liga a cidade de leste a oeste, a qualidade do asfalto se deteriora e o trajeto se enche de solavancos. No muro de um terreno, várias placas fazem um apelo para não jogar lixo.
Perto do Horto Florestal, o Córrego Segredo se une às águas do Prosa, dando origem ao Rio Anhanduí.
Como nos conta a Enciclopédia das Águas de Mato Grosso do Sul, o nome deriva de Inhanduhy (água onde se encontra seriema pequena (perdiz), na língua guarani).
A microbacia hidrográfica abrange 36 bairros da Capital, como o Aero Rancho, Jacy e Parati. O Anhanduí deságua no Rio Pardo e as águas seguem viagem até o Rio Paraná.
Também perto da Avenida Fernando Corrêa da Costa, a Ernesto Geisel passa pela história de Campo Grande. Conhecido como “Carro de Boi”, painel, que leva o nome oficial de “Monumento aos Desbravadores”, marca o local onde chegaram as primeiras famílias de migrantes vindas de Minas Gerais.
A Norte Sul segue ladeada por muitos pontos de paredão desmoronados, lixo e um barraco na encosta íngreme do rio, perto da Vila Nhanhá. Nesse ponto, somete a parede do lado direito do curso de água foi revitalizada com muro de gabião, que consiste em pedras dentro de uma gaiola metálica.
Já na parte batizada desde 2007 de Vereador Thyrson de Almeida, se prolonga a área verde, por onde circulam famílias de capivaras. O trajeto margeia atrativo como o Parque Ecológico Anhanduí.
Ao longo da Norte Sul, principalmente no trecho de 10 quilômetros batizado de Ernesto Geisel, a jornada de problemas, obras e pouca solução resultam em desalento, com as pessoas nem querendo comentar.
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